Special Mom— UX Study case

Como criar uma experiência de socialização entre pais e mães de crianças especiais, com a ajuda da tecnologia?

Joanna Chigres
Mergo
9 min readApr 2, 2019

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Após o término do curso de Formação em UX Design que fiz na Mergo, foi feito um desafio para os alunos, onde o objetivo era criar uma experiência de socialização entre pais e mães de crianças especiais, com a ajuda da tecnologia.

Esse trabalho pode ser dividido em duas etapas: A primeira foi até o a solução 01, tendo sido desenvolvida em parceria com os colegas de curso Luciano Hirashima, arquiteto de São Paulo, Marcela Sakovic, designer também de São Paulo — Pauliana Caetano, designer de Manaus.

A segunda parte, desenvolvi sozinha, mas sempre trocando ideias com amigos que já trabalham na área de UX/UI.

1- Análise do problema:

A chegada de um bebê é um momento de muita expectativa e alegria na maioria das famílias. Os familiares se unem, compram presentes, dão palpites e até querem ajudar na escolha do nome.

É um momento de muitas novidades e apreensão! Tanto que uma dessas “regras da gravidez” diz que a novidade só pode ser contada após o terceiro mês de gestação.

A cada exame os pais ficam vidrados olhando o monitor da aparelhagem médica para saber se está tudo bem com o filhote.

Mas, às vezes, a vida toma outros rumos que fogem, do nosso controle.

A descoberta de que o bebê possui alguma deficiência não só pode acabar com os sonhos, como pode até abalar relações familiares e de amizade.

A gravidez sempre vem acompanhada de questionamentos e dúvidas, mas, em se tratando de uma criança que necessita de mais atenção, essas dúvidas são infinitamente maiores.

E você, como se comportaria se soubesse que seu filho possui alguma necessidade especial?

Foi a partir deste questionamento que comecei o meu trabalho de pesquisa.

Empatia

2- Contextualização:

Antes de começarmos o trabalho de pesquisa, desenvolvemos uma matriz CSD (certeza, suposições e dúvidas) e a partir dela foi possível visualizar nossas suposições e conhecimentos sobre o assunto. Esse processo ajuda a deixar as informações mais claras, nivelar o grupo em relação ao conhecimento e orientar o que realmente deve ser pesquisado.

Com a equipe alinhada, foi hora de começarmos a etapa de desk research, para que possamos entender um pouco mais sobre o assunto, analisar necessidades, desejos e limitações do usuário.

Pesquisamos no google termos relacionados a crianças com necessidades especiais, buscamos por dados em sites oficiais, procuramos grupos de ajuda, ONGs, aplicativos ligados ao tema, grupos em redes sociais e até chegamos a entrar em alguns grupos de whatsapp.

Uma boa ferramenta de busca de tendência é o trends.google; Com ele você consegue informações do que vem sendo mais pesquisado em relação a um determinado assunto.

Vale destacar que o assunto "Associação de Pais e amigos dos excepcionais" é um dos assuntos mais pesquisados.

Após essa primeira etapa de pesquisa, a partir de novos conhecimentos, reorganizamos e acrescentamos itens à matriz CSD.

Dica: Como estávamos trabalhando à distância e com o volume de informações crescendo, tivemos uma preocupação grande em organizar as informações. Para facilitar nosso processo utilizamos arquivos compartilhados no Google drive, Keep google e Trello.

3- Entrevistas

Com a ajuda de amigos nas redes sociais, conseguimos selecionar 5 pessoas que se dispuseram a nos ajudar concedendo entrevistas.

Para nos prepararmos para as entrevistas, montamos um roteiro semi-estrutural para orientar as questões que deveriam ser abordadas, dando espaço para novos pontos e perguntas, que poderiam ser abordados durante a entrevista.

Realizamos uma pesquisa piloto para testar as perguntas e saber o tempo de duração. Com o conteúdo ajustado, partimos para o encontro com os país.

Para as entrevistas, além do roteiro, usamos um celular com um tripé para gravar o bate-papo, e solicitamos o preenchimento de um formulário de autorização de imagem.

Diante de todo o processo de pesquisa, a parte de entrevista com certeza é a que mais fornece insights. Estar no ambiente da pessoa, sentir seus dramas e frustrações faz com que se tenha mais empatia com a causa em questão.

Após as entrevistas, dois pontos me chamaram atenção:

  • A mãe, na maioria das vezes, abre mão da sua vida pessoal e profissional para cuidar dos filhos. Ouvi muitos relatos de separação por conta da dificuldade do dia a dia no cuidado dos filhos. E nesses casos, os cuidados dos filhos ficaram como responsabilidade exclusiva das mães!
  • Outro ponto é como a tecnologia surgiu para ajudar a esses pais na busca por informações e troca de experiências. Todos relataram participar de grupos no facebook e de whatsapp.

Para a realização de uma boa entrevista, destaco os seguintes pontos:

- Seja curioso;

- Converse mais (o roteiro serve como orientação, mas procure conversar e deixar o entrevistado à vontade em falar);

- Ouça com atenção, demonstre que você está interessado no que a pessoa está falando;

- Observe sem julgamentos;

- Pense sempre por vários pontos de vista!

4- Mapa de empatia e Persona:

Entrevistas realizadas, vídeos revistos e principais pontos compilados. É hora de sintetizar características e objetivos relevantes, destacando pontos comuns entre os entrevistados.

O objetivo da criação da persona é deixar o processo mais humano, é olhar para o personagem e ver que o projeto está sendo feito para essa pessoa! A persona nos ajuda a ver o consenso entre necessidade, desejos e limitações do usuário e, dessa forma, ajudar a dar foco nas tomadas de decisões.

Dica: A sua persona deve ser o mais humana possível,
evite dados genéricos e, principalmente, tente não ser tendencioso!

Definição

5- Jornada do Usuário:

Levando em consideração a persona, montamos uma jornada simulando as etapas vividas pela maioria dos pais ao receber a notícia da gravidez até o período de adaptação do diagnóstico. Junto da jornada, mapeamos suas emoções, motivações e incertezas. Essa etapa é fundamental para visualizarmos de forma clara as oportunidades e barreiras.

Idealização

6- Geração de ideias:

Para nos ajudar na etapa de idealização, usamos o método de brainstorming desenvolvido na IDEO chamado Mash-Up.

Quem quiser saber mais sobre Mash-Up, seguem links de interesse:
http://www.designkit.org/methods/29
https://www.ideou.com/pages/ideation-method-mash-up

7- Briefing e Plano de ação:

O briefing responde a 5 perguntas muito importantes para o desenvolvimento do projeto, são elas:

- Que problema o aplicativo soluciona?
Dar apoio a pais de crianças com deficiência, permitindo o acesso a experiências, conhecimento, apoio psicológico e objetos materiais.

- Qual é o objetivo?
Queremos tornar a criação de um filho especial menos solitária, criando uma plataforma onde os pais podem trocar conhecimento e experiências.

- Em que o seu aplicativo se diferencia dos demais concorrentes?
Hoje não existe nenhum aplicativo voltado para a socialização de pais de crianças especiais no Brasil. Toda troca de informação é feita nos grupos no Facebook e Whatsapp.

Diferente das fontes atuais, em que a informação é desorganizada e os grupos muito amplos, o aplicativo organiza os assuntos por temas e as trocas de informações são feitas dentro de um grupo com um perfil parecido. Além disso, a função de geolocalização permite encontrar pessoas próximas do usuário, para, dessa forma, facilitar possíveis encontros dos pais e das crianças.

-Para quem (público-alvo)?
Inicialmente o aplicativo terá como foco pais de crianças com deficiências no município do Rio de Janeiro.

- Qual é a proposta de valor?
Oferecer troca de informação de forma organizada e aproximar pessoas com as mesmas necessidades e que moram na mesma região.

Prototipação

8- Testando os fluxos e funcionalidades:

Para iniciar essa etapa é necessário montar o mapa de navegação, que consiste em um documento que mostra o fluxo de navegação. A utilização de um organograma é a forma mais aconselhada para tornar as etapas mais visuais.

9- Baixa fidelidade:

A primeira etapa de prototipação é a criação de fluxos de baixa fidelidade, que é uma forma mais simples de simular a experiência! Essa é a fase de validar os fluxos e corrigir os erros, além de servir para validar a funcionalidade com o público-alvo.

Dica: Cacco- site para desenvolvimento de site map.
Marvel App- Aplicativo para prototipação de baixa fidelidade.

10- Teste de usabilidade:

Separamos duas tarefas e pedimos aos usuários que as realizem. No primeiro caso, pedimos aos usuários que encontrassem um artigo de um médico amigo, enquanto que a segunda tarefa foi a visualizar seu posts favoritados. Pedimos que toda a tarefa fosse feita em voz alta e, em caso de dúvidas e comentários, esses também fossem relatados. Todo o texto foi filmado por um celular em um suporte e a navegação foi filmada no próprio celular em que o usuário usou para interagir com o protótipo.

Por ser de baixa fidelidade, o usuário fica mais à vontade de questionar, dar sugestões e apontar falhas no sistema.

Minha maior preocupação na realização do teste era se os usuários iriam entender o menu duplo, onde é necessário tocar no botão + para acessar as demais funções do aplicativo.

Para minha surpresa, nenhum dos usuários teve grande dificuldades em realizar as tarefas solicitadas.

Um caso engraçado aconteceu durante um dos testes. Uma pessoa que iria testar o protótipo e que tinha sido entrevistada nas etapas anteriores, ficou "decepcionada" ao saber que o aplicativo não era relacionado a educação dos filhos. Mas após a realização do teste, ficou emocionada ao perceber a função do aplicativo: "Seria maravilhoso poder encontrar pessoas que passam pelas mesma situação que passamos, sem falar que meu filho poderia conhecer outras pessoas".

Dica: Para a filmagem do teste usei o aplicativo AZ Screen.

12- Média fidelidade:

Nessa etapa, pensamos em módulos de informação. É feito um inventário de conteúdo com o mapeamento da orientação de todo o conteúdo. O objetivo é deixar todas as proporções harmônicas focando em uma fácil compreensão.

Exemplos de telas de média fidelidade que foram desenvolvidas

13- Protótipo de alta fidelidade:

Special Mom é um aplicativo que busca ajudar os pais de crianças especiais na socialização e troca de informações. O nome é uma homenagem às mães que, na grande maioria dos casos, ficam responsáveis pela educação e cuidados dos filhos, abrindo mão de suas vidas pessoal e profissional.

Dica: Modular Scale- Site que ajuda na elaboração das escalas modulares.

Para quem tiver interesse em navegar pelo aplicativo segue o link: https://xd.adobe.com/view/6b856724-ebd8-495b-7ed8-9c99407f81ad-1db4/

Este trabalho não termina por aqui! Para a conclusão, é necessário elaborar uma estratégia de negócio, pois quanto mais os designers sabem de negócio, maior será sua participação dentro das empresas. Se o profissional de UX não participa da estratégia de negócio, sua função passa a ser setorial e não estratégica!

Agradeço todos que dedicaram um tempo de suas vidas para a leitura desse trabalho.

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