Um fim de semana de troca entre pessoas humanas, para amenizar dores de pessoas humanas

Davi Silva
Mergo
Published in
8 min readDec 8, 2021

Compartilhamento dos conhecimentos, práticas e, acima de tudo, da troca de experiências com pessoas incríveis no Curso UX Weekend, da Mergo.

Introdução

Eu gostaria de trazer neste texto não somente o compartilhamento dos conhecimentos adquiridos no curso UX Weekend, da Mergo.

Desse modo, o que eu farei de fato é tentar expor o quanto toda essa experiência foi importante para mim enquanto pessoa — que sente, sonha, ama e sofre –, e não somente enquanto profissional.

E o início dessa jornada está na gratidão que sinto por fazer parte da comunidade PretUX, por ter recebido dela a bolsa para fazer esse curso e, finalmente, por contribuir com a comunidade, trazendo aos sentidos dos meus os conhecimentos e as experiências absorvidos.

Agora, introduzindo também o que produzimos de material dentro do curso. Desenvolvemos um produto digital que visava amenizar o problema da dificuldade de pessoas PCDs em receber apoio dentro do esporte.

Durante esse processo, abordamos uma introdução ao UX Design e aos processos de design, mais especificamente ao Design Thinking.

Transformações, pandemia e a PretUX

O processo de autodescoberta das pessoas negras é muito complexo e difícil, mas não me alongarei nisso, cada PretUX o compreende e esse não é o foco do texto.

Acontece que o meu processo começou pouco antes da pandemia, cujo isolamento tirou de mim a única espada que me foi dada por Ogum para enfrentar esse momento de conflitos: o axé do meu povo e a sua coletividade. Portanto, o distanciamento social me trouxe também a particularidade dessa dor.

Além disso, foi durante a pandemia que iniciei realmente minha transição de carreira, o que boa parte de nós experimenta e sente o quanto é difícil. Estar em comunidade é fundamental nessa jornada.

A PretUX chegou nesse momento de durezas na minha vida. Essa comunidade me acolheu de braços abertos, me abraçou, me afagou e me guiou pelo caminho da cura e da coletividade novamente.

Ainda por cima, ela que me contemplou com uma bolsa para o curso UX Weekend, da Mergo, que foi riquíssimo em conhecimento e em vivências. É sobre esse weekend que me aprofundarei agora. Bora lá?!

UX Design e Design Thinking

O UX, ou experiência da pessoa usuária, é um processo que proporciona uma interação com um produto ou serviço que é útil, utilizável e encantadora para as pessoas usuárias. Quem trabalha com UX busca pesquisar, entender, desenvolver e refinar todos os aspectos dessa interação.

O UX Design engloba uma variedade de disciplinas e considera três eixos na construção de produtos digitais:

  • Necessidades do usuário
  • Objetivos de negócio
  • Possibilidades da tecnologia
3 círculos: cada um representando um pilar do UX: necessidades do usuário, tecnologia e objetivos do negócio. Onde eles três se encontra está o UX

Já o Design Thinking foca na resolução de problemas por meio do design e da compreensão do universo que permeia tais problemas para, assim, propor soluções inovadoras e que se apliquem a cada caso.

O processo do Design Thinking é dividido nas seguintes fases:

  • Empatia
  • Definição
  • Ideação
  • Prototipação
  • Teste
modelo do processo de design thinking da escola de stanford

Durante os dois dias de curso, esse foi o caminho que seguimos para amenizar o problema da dificuldade de pessoas PCDs em receber apoio dentro do esporte.

Escolha do problema

A primeira atividade prática que desenvolvemos foi a de definir um problema que fosse comum entre os integrantes de cada grupo. Esse problema também deveria ser passível de resolução através de um produto digital.

O fato do problema precisar ser comum ao grupo conversa com uma ferramenta usada em uma etapa posterior do processo que seguimos: essa ferramenta, a proto-persona, aplicada na etapa de definição.

frame com a seguinte frase: dificuldade no ingresso de pessoas pcds no mercado esportivo
O nosso problema

Empatia

No Design Thinking, esta etapa tem por objetivo proporcionar uma imersão no contexto do problema, para que se possa ter uma melhor compreensão do desafio enfrentado.

Através de entrevistas de profundidade, questionários online, desk research e outras técnicas, busca-se entender quais são as necessidades das pessoas envolvidas naquele contexto do problema.

Pela natureza do curso, realizado em um fim de semana, não chegamos a fazer nenhum tipo de pesquisa, mas buscamos empatizar com as pessoas envolvidas no problema de outras formas.

Definição

Esta fase traz uma delimitação do problema a partir das informações colhidas na etapa anterior e com o auxílio de algumas ferramentas.

A ferramenta da qual fizemos uso durante o curso, tanto para definir o problema quanto para empatiza com o mesmo, foi a proto-persona.

Personas são personagens fictícios que especificam ainda mais o público-alvo de determinado produto. Com essa ferramenta, podemos humanizá-los e representar suas necessidades, e, com isso, traçar estratégias baseadas no público visado.

Ao contrário das personas, que são definidas a partir de dados reais, as proto-personas são construídas com hipóteses, dentro de brainstormings baseados na experiência dos participantes.

Esse foi o motivo de termos precisado, no início, definir um problema comum aos membros do grupo, porque, desse modo, poderíamos criar hipóteses baseadas em nossas vivencias e não em um jogo de adivinhas.

diagrama da proto-persona já preenchida
Proto-persona

Aqui tivemos um dos melhores momentos do processo, pois foi possível compartilhar um pouco da experiência de cada pessoa do grupo, criando, sem nem perceber, um vínculo não só com a proto-persona usuária, mas uns com os outros.

O brilho no olhar da história de cada pessoa foi uma das coisas que moveu o processo de design nesse final de semana.

Ideação

Ideação é a fase que tem por objetivo desenvolver ideias inovadoras que resolvam o problema central do projeto. E aqui as sugestões devem fluir sem censura.

A primeira ferramenta que usamos nessa fase foi o briefing de plano de ação. Aqui, abordamos cinco tópicos para melhor visualizar os problemas do projeto, nossas possíveis soluções e nossos diferenciais, entre outros.

imagem do briefig do plano de ação em questão preenchido
Briefing de plano de ação

A segunda ferramenta usada nessa fase do processo foi a do task flow. Esta que é uma jornada, um fluxo único de tarefa que não se ramifica e que é realizada pelo usuário. Um exemplo desse fluxo de tarefa é a efetuação de uma compra dentro de um site.

O task flow é um mapeamento que cria uma visão compartilhada da experiência de uso em um produto digital e que, ao mesmo tempo, ajuda a gerar soluções dentro desse mesmo produto.

Para o nosso task flow, escolhemos fazer o mapeamento da busca por apoio financeiro pelo atleta PCD dentro do aplicativo. Essa, que acreditávamos ser a tarefa central dentro do nosso app, veio posteriormente a ser prototipada e testada com usuário.

diagrama do task flow já preenchido
Task flow

Prototipação

A prototipação auxilia a validação de ideias e pode ser aplicada durante todo o processo do Design Thinking, desde a fase de empatia.

Existem três níveis de prototipação, cada um com suas particularidades e funções, esses níveis são: protótipo de baixa fidelidade, de média fidelidade e de alta fidelidade.

O protótipo que desenvolvemos no curso foi o de média fidelidade, conhecido também por wireframe. Com ele, nós pudemos validar informações e tarefas.

O wireframe representa os elementos de uma interface, sua hierarquia e organização, tudo isso em tons de cinza e com formas simplificadas.

Com o auxílio da ferramenta digital Figma, tornamos esse protótipo navegável e fizemos um teste de usabilidade, que será abordado no próximo tópico.

wireframe do aplicativo desenvolvido pelo grupo
Protótipo/wireframe

Teste

O teste com o usuário trouxe um dos momentos mais gratificantes de todo o processo do Design Thinking seguido no curso.

Foi onde pudemos ficar frente a frente com a pessoa usuária e onde pudemos ter esse contato direto, enquanto ele interagia com a nossa solução.

Os testes de usabilidade são importantes porque nós não somos as nossas pessoas usuárias. E só a partir do feedback delas, poderemos saber se estamos, de fato, no caminho certo para solucionar determinado problema, ou amenizar a dor de certo grupo de pessoas.

Em um teste de usabilidade, solicitamos ao participante que realize determinada tarefa no produto, pensando em voz alta enquanto o observamos.

É importante que as tarefas sejam realistas e que tomemos cuidado para não enviesar as ações dos usuários.

printe do cenário e da tarefa solicitada à pessoa usuária
Cenário e tarefa do teste

Eu fui o integrante do grupo que aplicou o teste com a pessoa usuária. Apresentei para ela o cenário e solicitei que realizasse a tarefa, sempre o observando e auxiliando quando necessário, mas sem influenciar suas ações.

Esse foi o primeiro teste que eu apliquei. Confesso que fiquei nervoso, mas foi muito gratificante poder ver uma pessoa real interagindo com aquele produto sobre o qual nos debruçamos com tanto interesse.

E melhor ainda foi ver a satisfação nos rostos dos meus colegas, os seus sorrisos, por também presenciar o nosso produto sendo usado por outra pessoa.

Acesse o nosso protótipo navegável aqui.

Iteração

No curso, nosso processo acabou na fase de teste, mas dentro do design existe ainda a etapa de iteração.

Essa fase tem por objetivo analisar as anotações feitas durante o teste de usabilidade, priorizar as melhorias mais necessárias e aplicar esses ajustes à uma versão atualizada do produto.

Conclusão

Foi incrível estar nesse curso, ter essa troca de vivências com pessoas maravilhosas e absorver tanto conhecimento. E mais, foi acalentador ver tantos rostos como o meu, graças a iniciativas como a da PretUX.

Eu sou apaixonado por UX, mas sou ainda mais apaixonado por poder fazer parte dessa comunidade, contribuindo com essa rede de apoio feita por nós, para nós. Isso é vida que pulsa sob a minha pele.

Muito UX e axé para nós!

Este artigo é uma parceria com a comunidade PretUX, que é parceira da Mergo no fomento e inclusão do mercado de UX e Design.

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Davi Silva
Mergo
Writer for

UX Designer sempre interessado em aprender coisas novas e apaixonado pela cultura afro-brasileira.