UX para não humanos

Gui Verdasca
Mergo
Published in
5 min readMar 21, 2016

Não meu amigo, não estou ficando louco e este artigo não tem relação com fatos sobrenaturais. Vou tratar neste artigo de como utilizar o Design Thinking e algumas ferramentas de UX para projetar para "não humanos".

Porque apresentar este estudo de design? Pois em testes e pesquisas com humanos recebemos feedbacks qualitativos, verbais ou comportamentais, reconhecíveis por nós, conseguimos em imersões e pesquisas coletar dados através de informações que os usuários nos passam, através da observação e por meio de entrevistas.

Quando tratamos de usuários "não humanos", animais de estimação ou selvagens, muitas vezes precisamos focar em algumas ferramentas para pesquisar, projetar, iterar, validar hipóteses, e deixar algumas outras ferramentas de lado pois não irão trazer bons resultado.

"Não humanos", animais de estimação, selvagens, etc.

Vou criar um caso hipotético para explicar melhor o que quero expressar.

Sabemos que abrigos animais geralmente são mantidos por ONGs ou instituições privadas, e que em sua maioria não possuem muito dinheiro para investir em sua estrutura. Podemos encontrar vários problemas devido a essa falta de estrutura, principalmente quando falamos de animais com alguma deficiência. Se para pessoas já é muito difícil encontrarmos acessibilidade nos lugares, para animais é com certeza muito mais complicado de encontrar.

Investigação de Problemas

Podemos resumir a investigação de problemas relacionados a abrigos de animais em 3 pontos principais:

Entrevista, imersão e observação.

Sim, o mesmo processo que utilizamos com pessoas. Mas devemos lembrar que a entrevista nesse caso não é com o usuário final, por isso, devemos escutar muito bem o que os entrevistados tem a dizer, e entender a percepção deles como "especialistas". Essas entrevistas devem servir como um guia para os próximos passos, de imersão e observação, sendo apenas hipóteses e não verdades e fatos apresentados pelos usuários.

A imersão é o ponto principal da investigação do problema. É nessa etapa que você vai validar as hipóteses retiradas das entrevistas e encontrar vários novos problemas que não haviam sido relatados pelos entrevistados.

A observação, nesse caso, requer um estudo maior pois diferente da observação de pessoas, não conhecemos os comportamentos dos animais, preste muita atenção, anote tudo, fotografe, filme, não perca um detalhe.

Métricas

Muito importante na etapa de observação é começar a medir TUDO que seja importante para saber o resultado das suas ações. Parece um pouco complicado quando falamos de animais, mas é mais fácil do que parece.

Se você quer saber da saúde dos animais, meça quanto cada um está comendo por dia, a quantidade de água que cada um bebe, o tempo que interagem com outros animais. Um pouco mais subjetivo, mas também pode ajudar bastante é fazer um quadro com nível de energia de cada cão em escala de 1 a 10, por exemplo:

Energia do cachorro Rex:

Primeiro dia: 3 ( a maioria do tempo descansando e deitado)

Segundo dia: 5 ( metade do seu tempo descansou, a outra metade brincou com outros cães)

Terceiro dia: 8 ( Passou a maior parte do tempo brincando com outros cães)

Utilize isso para saber o que medir, para que você quando tiver seu protótipo em mãos saiba se o que você fez está auxiliando na melhora do bem estar do animal, se não modificou ou se está causando stress.

Empatia

Sim, você pode se colocar no lugar dos animais de estimação. Eu, sendo um cachorro, o que preciso, o que gostaria, portando uma necessidade especial, o que me faria mais feliz, como conseguiria ter uma vida mais saudável?

Parece trivial, mas quando você se questiona destes pontos, você começa a entender alguns comportamentos que em um primeiro momento não queria dizer nada a você, mas ligando os pontos podem ser a solução para algum dos problemas.

Co-criação

Ainda não conseguimos nos comunicar tão bem com os animais a ponto de co-criarmos soluções, por isso, devemos envolver o máximo possível de especialistas. Busque funcionários de abrigos, biólogos, veterinários, donos de animais e realize dinâmicas para pensar juntos em soluções viáveis para a solução do seu problema. As etapas anteriores vão te ajudar a mapear problemas, mas essas pessoas já possuem muito conhecimento e podem ter resolvido de várias formas os problemas observados, utilize este conhecimento em benefício do seu projeto.

Viabilidade

Entenda muito bem o contexto, para quem você está fazendo isso? É víavel utilizar determinados materiais para o produto final? Quais as outras possibilidades? O que estou fazendo é para ONGs? Precisa ser de baixo custo? Inicie a próxima etapa já com todos os dados em mãos, pois isso pode determinar o sucesso ou fracasso do seu produto.

Prototipação

Qualquer solução pode ser prototipada e versionada!

Protótipo de uma cadeira de rodas para cachorro

Pense micro, qual o principal problema que você quer resolver? Trabalhe em uma solução inicial para o problema, teste MUITO, valide se aquela hipótese que você construiu colaborativamente é viável e resolverá o problema.

Iteração

Itere, teste a primeira versão, utilize as métricas que você tem para validar se seu protótipo está trazendo bons resultados, aprenda com os testes dessa primeira versão para criar uma segunda versão.

Faça o mesmo para a segunda versão. Crie uma nova versão, uma v3, uma v4, teste a cada nova versão, descubra o que está bom e o que está ruim. Meça, valide o resultado de cada nova versão para melhorar seu protótipo.

Neste caso hipotético, entenda a energia do cachorro, ele está mais disposto? Está brincando mais? Está se alimentando melhor? Apresenta mudanças na saúde ou no comportamento?

Versão comercial de uma cadeira de rodas

Apresentação

Após vários ciclos de iteração sua solução já deve estar madura, muito bem embasada e validada, com todos os testes e porquês em mão, a apresentação para qualquer investidor será muito fácil. As indagações serão facilmente respondidas, você já sabe a resposta de tudo pois você ja testou muito.

Resumindo em linhas gerais, quando se trata do que estou chamando aqui de "não humanos", o processo de projetar soluções não muda, o que muda é o olhar que você precisa ter, e ter um poder de observação e métricas muito maior pois você não conseguirá ter feedbacks em pesquisas qualitativas diretamente com o usuário.

Você pode me ajudar a deixar este artigo mais completo, comente e gere discussões para evoluirmos juntos nesse assunto.

Um abraço

Gui Verdasca

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