UX Team Summit 2018: cultura, liderança, consistência e os desafios comuns entre times de Design

Alguns insights sobre a minha participação nesse evento com representantes dos times de design da ContaAzul, Venturus, QuintoAndar, Nubank e Netshoes.

Thiago Barcelos
Mergo
6 min readNov 12, 2018

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O evento foi uma boa oportunidade para conhecer de perto como times de design de grandes marcas e empresas de tecnologia se organizam, expondo suas maiores dificuldades, acertos e os fatores que mais contribuem para que esses times amadureçam de forma saudável e se consolidem como um pilar essencial da organização em que eles estão inseridos.

Cultura de design, perfil de liderança e consistência organizacional foram os três pontos que mais se destacaram ao meu ver. Seriam essas as tendências e desafios mais comuns entre times de design de produto e UX hoje em dia? Já reparou como as discussões sobre esses temas tem sido mais recorrentes? Muito se fala sobre design em escala, co-criação e colaboração cross-team, design leadership, design systems, surgimento de novos papéis como o de design operations. Digo isso também por esse cenário se refletir no meu momento profissional atual. Faço parte de um chapter global de design da vertical de Watson IoT da IBM, formado por cerca de 20 profissionais, entre designers e frontend developers. Estamos extendendo o nosso portfolio de produtos e entre os principais desafios que enfrentamos são: identificar os pontos de convergência e construir uma experiência consistente dentro do nosso ecossistema de produtos de forma integrada, tanto do ponto de vista da experiência do usuário quanto da tecnologia; seguir os padrões e componentes do Carbon Design System, que vem se consolidando como o design system definitivo dos produtos digitais da IBM; conseguir intercambiar entre os times de cada produto, mantendo uma comunicação constante, sinergia, boas práticas e cerimônias bem estruturadas; e administrar múltiplas variáveis como fusos horários extremos, as demandas individuais de cada produto, iniciativas paralelas, o desenvolvimento de skills e da própria carreira. Pelo visto não estamos sozinhos nesse barco.

Cultura de UX

Cultura está relacionada com a forma como as pessoas estabelecem suas relações. Em UX falamos muito sobre a importância de ter empatia com os nossos usuários, mas muitas vezes esquecemos de que antes de mais nada é importante olhar para si mesmo e entendermos profundamente como funcionamos enquanto time e organização. É preciso também ter empatia por aquele colega de trabalho que exerce um papel diferente do seu, e portanto possui outras prioridades, anseios, e vê o mesmo problema que você está tentando resolver através de uma perspectiva completamente diferente, mas não menos importante. Dessa forma é possível direcionar melhor os esforços, ter uma melhor comunicação e conviver em um clima mais amigável. O time de UX da Netshoes está completando um ano agora e esse foi um dos maiores gaps que eles encontraram: áreas que não se conversavam e muitas vezes desempenhavam o mesmo papel e uma obsessão por conversão que os impedia de ver o real valor a ser entregue para os usuários. Eles estão superando isso através de sessões de co-criação e reforçando o diálogo entre planejamento e execução.

Alguns times tem adotado rituais e cerimônias para promover uma melhor integração entre as pessoas e aumentar a consistência dos seus produtos. O Nubank, por exemplo, estabeleceu algumas práticas como: Design Sync, Co-design, Design Updates, Design Studio Day e Creative Mondays, que vão desde o alinhamento e discussões sobre padrões de interface até o compartilhamento de experiências pessoais. O QuintoAndar estabeleceu encontros regulares de Design Critique, para que, acima de tudo, possam reforçar a segurança emocional dos seus designers. A Venturus ressaltou como eles tem se beneficiado com a integração entre várias áreas, principalmente com o time de frontend e a forma como eles rodam SCRUM por lá. Já a ContaAzul possui uma cultura de design bem madura, que vai desde o on boarding de novos designers com o Guia do UX das Galáxias, até a Lumos Experience, a escola de design da ContaAzul.

Liderança em Design

Existe uma linha tênue entre ser um líder e exercer o perfil de liderança. Segundo Anderson Gomes, que tem sido um porta voz sobre o tema Design Leadership através de suas palestras e cursos, ser um líder é influenciar a carreira de outras pessoas, é liderar o time para uma direção. Ele comenta sobre aqueles que procuram um cargo de liderança apenas com o intuito de um aumento salarial, mas que é preciso ter um propósito maior e a consciência de que as responsabilidades de um líder são outras, muito mais burocráticas e diferentes do dia a dia de um designer. Já para exercer o perfil de liderança é preciso ser líder de si mesmo em primeiro lugar. Letícia Pires, design manager no QuintoAndar, ressaltou a importância da liderança como prática diária:

“É preciso exercitar a liderança todos os dias, como se fosse um músculo.”

Isso porque o perfil de liderança não está presente apenas no cargo de um líder de time, ele precisa estar presente na postura diária de cada um e a cada tomada de decisão. Nesse ponto acredito que liderança flerta bastante com a autonomia. Hoje em dia os times precisam ser cada vez mais autônomos, para acelerar e otimizar suas entregas, como a própria metodologia ágil se propõe. Possibilitando o time estar mais preparado para potenciais mudanças, atenuar os riscos e tornar mudanças de projeto menos traumáticas, por exemplo.

Consistência e Escalabilidade

Consistência e padronização são alguns dos princípios básicos do design, vimos isso lá com as Heurísticas de Nielsen. E é um desafio constante criar e manter uma linguagem visual/verbal unificada e proporcionar uma experiência coesa ao longo de todo um produto. Isso só piora a medida em que as empresas crescem, os times de design inflam e os produtos em si ganham em escala e complexidade. Design Systems ajudam a escalar o desenvolvimento de aplicativos móveis e sistemas web. Nesse contexto o Design Operations, ou DesignOps, inspirado no DevOps presente no universo de desenvolvimento de software, definindo-se como nova disciplina para suportar essa demanda. Em contraponto, por uma questão de recursos, as empresas hoje buscam cada vez mais perfis generalistas, e são raras as vezes em que encontramos profissionais dedicados a tarefas específicas assim.

No QuintoAndar, os designers trabalham em um esquema de rotatividade, formando o que chamam de grupos de estudo:

“Por exemplo: a gente tem um projeto para aumentar a eficiência das pesquisas qualitativas. Nesse projeto no quartil passado estavam Esley e Bia, eles montaram toda a logística de comprar de cartões, fizeram a documentação que a gente faz o controle financeiro. Nesse último quartil, quem estava olhando pra isso era a Raquel e o Esley e eles montaram o site em que colocamos essa documentação com os achados das pesquisas, para que toda a empresa pudesse ter acesso.”

Vejo essa prática como uma boa maneira para descentralizar as tarefas, permitir com que todos possam contribuir e ter a mesma visão dos processos. Andressa Luz, UX Writer na Netshoes, falou sobre a iniciativa que tiveram de criar um conselho de redatores, com encontros regulares, para se certificarem que a comunicação da marca seja coerente em cada ponto de interação com o usuário. Desse processo surgiu também o grupo no facebook: UX Writers Brasil. No Nubank, além do Design Sync e demais cerimônias de padronização que mencionei, o time está em processo de criação do seu design system, o nuDS, uma prática hoje essencial para a manutenção de produtos digitais escaláveis.

Colaboração, Perseverança, Resiliência e Dedicação

Ao longo dos últimos anos é notável o amadurecimento da prática do UX design. Muito disso se deve a alguns fatores como: o aumento da demanda por UX designers, uma vez que as empresas hoje tem uma maior percepção do valor do design, muito também por influência das startups unicórnios, que já nascem com o design no seu DNA; a popularização e desmistificação do termo, muito pelo aumento da prática e pela disponibilidade de conteúdos online, cursos presenciais, virtuais e ferramentas a preços acessíveis, ou até mesmo gratuitas.

Tendo uma visão bem otimista, é possível dizer que o design hoje ganhou uma cadeira dentro do conselho de muitas empresas, sobretudo as de tecnologia. E com grandes poderes, vem também grandes responsabilidades. Novos processos tem surgido para suportar o crescimento em escala dos produtos, assim como novos cargos e novas habilidades para o designer. Os times de design precisam ter muita sinergia para funcionar bem tanto internamente quanto colaborando com outras áreas, dado o seu aspecto interdisciplinar. Nada disso é fácil, mas acima de tudo é preciso ser perseverante para conciliar as demandas do dia a dia com o aprendizado constante, ter resiliência para saber se adaptar a imprevistos e dedicação para incorporar as melhores práticas e manter as pessoas motivadas e engajadas.

E então, se interessa pelo tema sobre com implementar UX nas empresas? Deixe seu comentário e vamos seguir essa conversa ;)

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