O (novo) rei da selva

No mundo selvagem, a disputa de dois leões pela liderança de um bando é algo épico, dramático e violento.

Um leão mais jovem desafia o líder atual, e então a batalha é travada.

Para que o leão ocupe o tão sonhado posto do rei da selva, ele precisa superar o seu antecessor.

Com a vitória, o novo rei do bando, recém empossado, agora comanda o bando com seu rugido espetacular.

Mas, se achávamos que o drama acaba com o fim da batalha, estamos muito enganados…

O novo rei do pedaço precisa afirmar a sua posição.

Ele precisa deixar claro que a nova era do seu reinado chegou.

Ele precisa apagar o passado!

E para isso, todo o lastro do antigo líder deve ser extinto!

A tradição é a seguinte: para a afirmação do novo rei, é necessário matar todos os filhotes do antigo.

Não importa se os filhotes são saudáveis, promissores, ou até compatíveis com a sua filosofia de gestão.

Sem tempo para uma análise, sem titubear, todos eles são eliminados.

Vidas, projetos, ideias interrompidas para dar início a uma nova linhagem.

Qualquer resquício do líder anterior mexe com as mais profundas inseguranças do novo rei da selva.

“E se acharem que o DNA do outro era melhor?”

Infelizmente, esse ritual enfraquece o bando como um todo. Afinal, eles perdem os membros mais valiosos do seu coletivo, seus filhotes, que até então, eram seu futuro.

Proteção é o argumento que o leão usa para justificar seu cruel ato.

“Agora sim estamos no caminho certo”, ele diz.

Este ritual somente existe para fortalecer a permanência do novo rei, seu sangue, sua assinatura.

Legal, linhagem renovada.

Enquanto temos filhotes fofos, está tudo bem.

De vez em quando, o rei da selva vence algumas de suas batalhas, o que engrossa seu rugido, escurece sua juba e, principalmente, fortalece o seu posto.

O problema é quando a sua prole cresce…

Quem diria! Uma de suas crias adquire força suficiente para brigar pelo posto de rei da selva.

Quando o líder máximo vê o jovem leão com aquele porte todo, tem um lapso de insegurança lá no seu íntimo… Afinal, ele sabe que a sua vitalidade já não está 100%…

Mas ele tem a pose, a postura, o grito!

O rei da selva vai tentar abafar o crescimento e a coragem desse jovem com todos os artifícios possíveis, afinal, não há espaço para dois chefões.

São poucas opções: ou o jovem leão se encolhe, ou batalha, ou será expulso.

E as leoas?

Elas são mais numerosas e produtivas. Têm o papel de caçar para o bando, atividade que é feita de forma estratégica e coletiva.

Também são designadas a cuidar dos filhotes, que carregam o sangue “da vez”, claro.

São elas que acompanham, geração a geração, gestão após gestão.

E por mais que um novo líder tome posse com um rugido clássico de “agora vai ser diferente”,

por mais que elas dancem a nova música e participem do novo teatro,

no fundo elas sabem que tudo continua igual, projetos de curto prazo, mal acabados e alguns filhotes a menos.

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Vanessa Spanholi
Metáforas Maduras Para Adultos Infantis

Designer e empreendedora, acredito na inovação que cria pontes para conexão humana. Especialista em design research e inovação.