23:22 e os três sonhos que sei que terei essa noite

Karina Sgarbi
metade disso é verdade
3 min readMar 10, 2023

acontece sempre, ou quase. como diz o nome aqui, talvez nem tudo seja verdade. ou é.

fato é que toda a noite já há algum tempo, qualquer coisa se passa dentro dessa minha cabeça meio dura, meio mole, ou no plano espiritual, vai saber, e acabo por ter três sonhos. eu durmo pouco, durmo mal. tenho olheiras desde criança e isso me faz pensar que eu não sei se alguma vez tive uma semana inteira em que pude dizer que dormi profundamente a maior parte das noites, ou todas elas. seria um sonho isso acontecer. que ironia.

antes que os médicos da internet se pronunciem, eu tomo coisas naturais, tenho um cristal de selenita branca debaixo do travesseiro, digo boa noite e alexa toca sons de chuva, faço exercícios durante o dia e ao menos tento não ser tão agitada. ao menos à noite. isso tudo funciona um pouco, mas quase sempre falha.

comprei um desses relógios fitness e acho que ficou pior olhar o monitor do sono. 4h35 outro dia. 2h48 no outro. 7h26 foi o recorde até agora. eu chamo de milagre, também. mas fato isolado difícil de repetir.

o único milagre que não me aparece é o de não sonhar. isso mesmo, não sonhar. têm sido, ao menos nas mais recentes semanas, três sonhos inteiros a cada noite mal dormida. eu sei que a palavra sonhar, por si só, soa poética e faz a gente pensar em coisa boa. mas aqui ela fica um pouco feia.

eu acho que seria dramático demais dizer que eu sonho muito. mas eu sou canceriana e essa é a minha licença poética para todo e qualquer drama. eu queria sonhar feito uma tela branca. ou no escuro de uma noite sem estrela. nenhum som, nenhum nada a se passar. apenas o corpo, quieto, relaxado, a descansar. e a mente, mais ainda.

mas isso não está sendo possível. e a melhor pior parte é que eu já até cansei de lembrar ou tentar interpretar. fico pensando que é aquilo do instinto feminino, da mulher selvagem, do sagrado feminino e essas coisas todas, mas no fim das contas acho mesmo é que o meu tico e teco deram tilt. doidinha, isso mesmo, por completo.

teve um pinguim. um urso que depois virava um outro bicho acuado que fugia de um laboratório de homens maus. um monte de gente que nunca vi. outros que conheço desde sempre. minha casa no brasil como era quando eu era criança. umas sombras que tentam me sufocar. o menino bonito que sorri pra mim mas esqueceu de responder a mensagem. uma tempestade, uma quantidade imensa de cobras em uma garagem. e por aí vai.

tem coisa que quando escrita, ou dita em voz alta, fica mesmo ridícula. eu reclamo aqui por sonhar demais. tem gente que vive a vida toda e nem sonha.

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Karina Sgarbi
metade disso é verdade

“Não diz coisa com Coisa nem escreve nada Que preste” (Excerto de Um útero é do tamanho de um punho, de Angélica Freitas)