A agência em Skyrim: o excesso de protagonismo do Dragonborn

Ygor Marques
Metagame
Published in
3 min readAug 9, 2016

The Elder Scrolls V: Skyrim é um jogo de RPG da desenvolvedora Bethesda Softworks lançado em 2011, extremamente conhecido e premiado. Skyrim conta a história do Dragonborn, um lendário herói que há muito tempo (mais precisamente desde que os dragões desapareceram do mundo) não surgia no continente. Ele possui a habilidade de absorver as almas dos dragões, sendo essa a única maneira de derrotá-los permanentemente. Do momento que o jogador aterriza dentro do universo, ele passa a ter que fazer escolhas, desde a criação do personagem até a maneira como esse personagem se comportará dentro daquele mundo. O que é interessante nesse universo é que, apesar de, infelizmente ser um mundo finito (malditas limitações da geração!), as mais diversas histórias acontecem quase que paralelamente. Outro ponto fundamental é o fator que desencadeia praticamente todos esses ocorridos: o próprio Dovahkiin. É aí que começam a surgir problemas, principalmente quando falamos de agência.

Todas as histórias tem como ponto central o Dragonborn, o que não seria um problema se, no geral, terminar uma dessas main quests interferisse no restante do universo. Tomemos como exemplo a linha de missões da escola de magia de Winterhold. Nessa cidade do norte de Skyrim existe uma escola de magia, na qual o jogador pode se “matricular”. Há um lento começo e (assim como em todas as outras missões) pedem para que ele vá até alguma caverna e colete algum item mágico. Por algum motivo sempre confiam no personagem, mesmo que ninguém ainda saiba que ele é o Dragonborn (já que o jogador pode optar por realizar essas missões antes de seguir com a missão inicial, que é onde descobre quem realmente é), o que parece diversas vezes muito superficial, mas que poderia ser um problema ainda menor se houvesse um impacto real no restante do jogo, já que, quase que invariavelmente o Dovahkiin tornar-se-á o Arquimago e diretor dessa escola. Além de não haver impacto algum nesse tipo de tomada de decisão (de aceitar ou não se tornar o Arquimago), ou na quest em si, exceto os níveis e itens que personagem ganha, para o jogador, o jogo parece ainda minimizar esse fator quando seguimos para as outras linhas de missão presentes no jogo, já que o jogador pode acabar se tornando, ao mesmo tempo, o líder da Dark Brotherhood (uma irmandade de assassinos), da Thieves Guil (um clã de ladrões) e dos Companions (uma ordem de guerreiros), além do diretor da escola de magia, é claro.

Esse excesso de protagonismo, apesar de também ser um problema, poderia ser até minimizado se as escolhas do jogador tivessem um impacto real no restante do jogo, para além daquela linha de missões. Além de tudo isso, a maneira como o jogador se comporta durante todo o gameplay não interfere em nenhum aspecto da narrativa ou universo em si, além da experiência que o Dragonborn adquire durante as missões. O jogador pode concluir todas as missões da Dark Brotherhood usando de magias poderosas sem se preocupar em utilizar de furtividade em momento algum, e não ter penalidade nenhuma por causa disso, e assim por diante. Se cometer um assassinato ou roubo, pode simplesmente pagar a fiança ou cumprir sua pena na prisão e as relações com os cidadãos da região não se alterarão em nada, podendo voltar a comprar e vender itens para um vendedor que acabou de ter sua esposa assassinada pelo próprio jogador.

Um ponto positivo que é aproveitado pelos jogadores e que, mesmo depois de 5 anos do lançamento, ainda vem sendo explorado, é a maneira como o reloplay e as narrativas emergentes estão aparecendo no jogo. Em 2014 um usuário do Reddit criou um guia para melhorar a experiência dos jogadores que querem ter mais agência sobre o universo do jogo (https://www.reddit.com/r/skyrim/comments/26v2es/ultimate_roleplay_guide/), que, mesmo não proporcionando esses impactos à priori, possui ferramentas que possibilitam as mais diversas experiências ao jogador, como, por exemplo finalizar todas as histórias sendo um mero lenhador.

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