A Los Angeles de 1947 em L.A. Noire

Vítor Vieira
Metagame
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3 min readJul 21, 2016

L.A. Noire é um jogo de ação-aventura de detetive, ambientado em uma Los Angeles da década de 1940. Só por essa descrição extremamente sucinta é possível tentar adivinhar que se trata de um jogo Neo-Noir. Esse estilo é comum no cinema e foi bastante central na Hollywood dos anos 1940. Ele engloba narrativas dramáticas de mistério, geralmente filmadas em preto e branco, e possuí heróis falhos (anti-heróis). Chinatown (Polanski, 1974) e Os Intocáveis (Brian de Palme, 1987) são filmes Neo-Noir que serviram de referências claras para a criação da narrativa e visual do jogo.

O jogo se apropria de alguns desses elementos para contar a história de um detetive iniciante que resolve diferentes casos na cidade. O mundo-aberto da Los Angeles antiga é um dos pontos mais interessantes, pois ele proporciona o jogador a se aventurar em uma época diferente. O estilo da desenvolvedora Rockstar Games de produzir jogos com gráficos realistas, como as séries GTA e Red Dead, combina perfeitamente com o jogo de época justamente por criar esse ambiente no qual o jogador pode explorar de maneira que seria impossível através de filmes e fotografias de época. Diferente do que é comum nos filmes Noir, o jogo não é preto e branco. Na verdade, ele possui cores bastante vívidas que transforma a narrativa ainda mais próxima do real.

O protagonista do jogo, Cole Phelps, é o típico personagem central dos filmes Hollywoodianos da década de 1940: um detetive que a princípio parece ser correto, mas que ao longo da narrativa se demonstra com falhas e um passado questionável. O jogador o controla enquanto desvenda crimes (que foram baseados em crimes reais das décadas de 1940 e 1950) e casos opcionais como assaltos, que aparecem aleatoriamente pela cidade. Além de irmos descobrindo pedaços do passado de Cole através de notícias de jornais que falam sobre a guerra, momento no qual ele tem lembranças que pouco se orgulha. O jogo acompanha o avanço na carreira de Cole, que inicia sendo um policial uniformizado até se tornar detetive. Mais para frente, o personagem central muda para Jack Kelson, um investigador privativo (outro arquétipo importante do Noir), que ajuda o jogo a continuar sua narrativa, que acaba centrando muito mais nos crimes do que em Phelps, que morre. Percebemos assim, a narrativa complexa que se desenvolve em L.A. Noire.

Um ponto bacana do jogo é o modo no qual foram desenvolvidas as expressões faciais dos personagens, que são de extrema importância para os momentos de interrogação. A tecnologia da MotionScan permitiu que, através de gravações de 32 câmeras, os atores fossem “transformados” em personagens. Suas expressões mudam de acordo com as respostas das perguntas, e cabe ao jogador acreditar ou não neles. No final de cada missão, recebemos uma classificação de desempenho (1–5 estrelas), se conseguimos captar informações suficientes para investigar o caso, o mais rápido possível. Essa verdade na hora das investigações deixa o jogador em um estado de imersão intenso, pois te dá a possibilidade do erro (que é muito comum) que trará consequências reais para o restante do jogo e caberá a você resolvê-las.

A trilha sonora também tem bastante influência dos filmes Noir, composta por Andrew Hale e Simon Hale. Com influências de Blues e Jazz, a música é está sempre presente para trazer um grau de tensão em momentos de investigações, perseguições e, principalmente, na hora de tomar decisões importantes. Isso aumenta ainda mais a tensão oriunda do peso da sua decisão no jogo.

Combinando todos esses elementos, temos um jogo que se preocupa em trazer para os jogadores entretenimento complexo e de alta qualidade. O jogador termina o jogo (com muita dificuldade) com uma sensação de trabalho comprido, após ter sido imerso na vida de um policial em Los Angeles na década de 1940.

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