João Vitor Cupolillo
Metagame
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4 min readJul 21, 2016

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Lançado em Agosto de 2007, Bioshock é um jogo em primeira pessoa pautado por um conceito filosófico próprio, baseado em ideias objectivistas e influenciado por obras de autores como Ayn Rand e George Orwell. O jogo se passa na utópica cidade de Rapture, construída no fundo do Oceano Atlântico, entre a Groelândia e a Islândia, e fundada em 5 de Novembro de 1946.

A princípio, nela seriam reunidas as mentes mais brilhantes da ciência mundial, visando a formação de uma sociedade única e diferenciada. A cidade fora baseada no conceito de “ciência sem limites”, ou seja, para seu idealizador Andrew Ryan, o lugar se tornaria o espaço ideal para a realização de procedimentos e experimentos científicos que busquem extremar o conhecimento humano, sem que haja a necessidade de eventuais preocupações ou limites impostos pelo restante da sociedade da época.

Tais estudos passam a ser ainda mais incentivados após a descoberta de um tipo de composto químico que, supostamente, seria capaz de fornecer poderes e habilidades extraordinários ao entrar em contato com o genoma humano. Para este composto, deu-se o nome de ADAM.

No contexto de sociedade norte-americana dos anos 40, podemos perceber momentos importantes que estão presentes no game, como formas de crítica: a influência da religião para com a sociedade, ditando os valores e questões morais e a busca pelo desenvolvimento por novas tecnologias de guerra (Corrida armamentista) que levassem o país à vitória frente à URSS, no período de Guerra Fria.

Em Rapture, a ciência está acima de tudo e de todos e, apesar dela possuir um criador e idealizador, ela não possui um líder ou qualquer tipo de organização social do tipo. Sendo assim, os cidadãos são colocados “ao mesmo nível”, inicialmente, para que prosperem de acordo com seu próprio mérito.

“Nem deuses nem reis. Apenas o homem”

A partir de tais condições, as pesquisas e experiências com o ADAM passam a ser feitas, diretamente, em cobaias humanas, sem qualquer tipo de controle, visando seu comércio. Logo o composto passa um processo industrial no qual pequenas doses são reunidas em pequenas injeções, e vendidas como um tipo de soro ou elixir.

A forma como tal produto é vendido também chama a atenção. Considerando a época um momento de expansão do mercado mundial de refrigerantes, o ADAM é vendido para a população por meio das “vending machines”. Isso aliado à intensa publicidade feita nos principais canais de comunicação da época: o rádio e a — ainda recente — televisão. Vale ressaltar que a maioria dos diálogos no game são realizados por meio da transmissão por rádio.

Entretanto, como era de se esperar, as coisas fogem ao controle. Os experimentos e testes com o composto químico não são capazes de identificar uma excessiva dependência de seu usuário, causando efeitos colaterais após seu uso. Além disso, a quantidade de ADAM não é suficiente para suprir o vício já instaurado na maioria da população. Deste modo, a utopia de Rapture começa a ruir, com a população doente e em guerra em busca por resquícios de ADAM por toda a cidade.

Em suma, podemos notar uma forte crítica aos 2 modelos econômicos conflitantes da época retratada no game: comunismo e capitalismo. Ambos têm suas características sociais e organizacionais básicas problematizadas. Por outro lado, a postura de Andrew Ryan em diversos momentos é associada a Adolf Hitler durante o período do regime nazista.

O jogo mostra-se um Survival horror, onde o jogador precisa sobreviver com os recursos limitados, assim, forçando a utilização de estratégias e a busca por upgrades de poder e novas armas. Tal fato, portanto, sugere ao jogador uma necessidade maior de exploração dos ambientes da cidade (ou o que restou da mesma) encontrados ao longo do game. Quanto mais o cenário for explorado, maiores são as chances de encontrar itens que auxiliam na progressão do jogador.

Um fato que chama bastante atenção é que, ao contrário dos demais jogos de tiro em primeira pessoa da época, Bioshock não fora produzido com o intuito do jogador envolver-se em batalhas frenéticas e que exigem um tempo de resposta imediato para sobreviver. Seu protagonista possui uma movimentação bastante pesada, forçando o jogador à adaptação. E esta, inclusive, é uma das principais reclamações de jogadores para não jogar o mesmo.

Referências:

BioShock: Rapture, por John Shirley (2011)

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