Magic: The Gathering como ferramenta didática para os Game Studies

Ittalo Ornilo
Metagame
Published in
3 min readJul 17, 2019

Não é difícil precisar que Magic: The Gathering é o Trading Card Game mais bem-sucedido da história. Sua concepção baseada em uma dinâmica matemática de operações simples atrelada a uma filosofia envolta em elementos da fantasia medieval e sobrenaturais tornam a experiência de jogar bastante rica e diversificada.

Na aula prática da disciplina de História e Teoria dos Games, fomos apresentados às mecânicas básicas do jogo e aos conceitos que permeiam cada cor atribuída a cada terreno. Entendendo como funcionam esses tópicos pudemos identificar facilmente o cuidado com cada aspecto das regras, o game foi claramente projetado para oferecer uma curva de aprendizagem gentil com um ponto alto de extrema complexidade.

Dentro do Magic, os conceitos de Paidea, de manifestação lúdica e espontânea, improvisada, sendo ela essencialmente desordenada e desregrada, são principalmente encontradas no fluxo da partida. Se divertir ao criar combos entre os efeitos das cartas, realizar jogadas mirabolantes e até mesmo o sentimento de realização da construção de decks, que é, essencialmente, um processo criativo do jogador, onde ele tem a escolha das cartas que vai usar. Visando, por exemplo, o estilo que mais lhe agrade, ou a que lhe proporcionará maior aproveitamento da partida, sendo limitado apenas pelas regras básicas do jogo. Onde entra o conceito de Ludus.

Abranger a manifestações lúdicas de ordem mais regrada e organizada, no qual predomina o autocontrole, o treino, o esforço, a persistência, as resistências (fadiga, sofrimento, pânico), as habilidades, a inteligência, o equilíbrio, a disciplina e o mérito, são fatores importantíssimos para o aproveitamento total do Magic. Dentro do jogo, o Ludus fica claro pelo mérito de ter montado um baralho forte, de ter dominado certa estratégia, ter realizado jogadas improváveis, e com isso, conquistando vitórias, entre outras situações.

No Magic, é constante o conceito de agência. Não há pausas reais. A interação ativa do jogador com o jogo — como discutida por Janet Murray — no desenrolar de cada partida, com os jogadores utilizando-se, cada um, de suas próprias estratégias e decks de cartas, com suas ações Não-Triviais, atribui fluxo ao jogo. Não importa, do ponto de vista da execução do jogo, quem está ganhado, ou se a sorte está contra o jogador, a agência é necessária para levar o jogo a algum ponto. Esse tipo de mídia — extremamente interativa — depende inteiramente do utilizador para que haja qualquer tipo de progressão.

MTG é de um êxito comercial indiscutível, no entanto, seu grande valor está em suas características de concepção, seu design e suas mecânicas, que podem ser usados como exemplo para inúmeros campos de pesquisa da área dos Game Studies. Tornando-o assim, uma ferramenta didática fantástica.

Mais uma grande qualidade para seu vasto arsenal.

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