O Survival Horror e a dificuldade de se adaptar o horror para os videogames

Ygor Marques
Metagame
Published in
3 min readAug 9, 2016

O horror é um dos gêneros mais populares quando tratamos de qualquer mídia, e nos videogames não é diferente. Em diversos casos as obras de horror apresentam seus problemas, e nos videogames não é diferente. A diferença está na causa para esses problemas e na maneira como o gênero é adaptado para os jogos, já que algumas das regras básicas do horror devem ser, obrigatoriamente, ou deixadas de lado readaptadas às especificidades da mídia. Se no horror, em geral, o protagonista não tem a competência necessária para lidar com o que está se passando ao seu redor, está isolado do mundo ou nega (ao menos até que a criatura, finalmente, se revele) a existência do sobrenatural, no videogame essas ações e sensações são muito mais difíceis de serem aceitas. É por essas e outras que o horror, puro e simples (mas com todas as suas complexidades), não pode ser fielmente adaptado para dentro do mundo virtual.

Silent Hill, um dos mais famosos jogos de Survival Horror de todos os tempos

Quando falamos de horror nos videogames tratamos sempre de misturas de gêneros, o que acaba por deixar alguma dessas “regras de linguagem do horror” por muitas vezes apagadas ou completamente de fora dos jogos. Não é à toa que quando nos lembramos das mais famosas franquias de jogos de horror percebemos que existe uma nova representação do gênero de horror para os videogames, o survival horror, que nada mais é que a mistura da mecânica de jogos de sobrevivência com o horror. Isso acontece porque, na maioria das vezes, temos um protagonista que consegue lidar com o que se passa ao redor dele, já que essa impotência e desesperança que é intrínseca aos personagens do horror não combina com jogabilidade e com a agência que é tão necessária quando falamos de videogames. A maneira que os desenvolvedores encontraram para resolver tanto o problema do isolamento, quanto o problema da impotência, foi misturando a necessidade de não ter que apenas enfrentar o sobrenatural, mas ter de enfrentar condições adversas, que podem ser tanto se preocupar com a sanidade ou com a saúde do protagonista, quanto simplesmente com a quantidade de munição que ele possui, o que é, normalmente, o que faz com que ele seja capaz de lidar com o monstro que tem que enfrentar. Essa necessidade de sobreviver ao mundo, tanto quanto ao monstro, que é criada no survival horror, é justamente a parte que foi, durante muito tempo, a mais essencial dentro dos jogos de horror, já que balancear quando você será capaz de enfrentar os perigos de forma mais tranquila ou mais difícil, baseado em seus recursos e na capacidade do jogador de adquiri-los.

Um dos itens que pode ser achado em Resident Evil 2

Nos últimos anos têm crescido o número de tentativas de se apresentar jogos de horror de outras maneiras, da fusão com a ação até experimentação com o gênero mais “puro”, mas as franquias de mais sucesso ainda carregam os elementos que foram tão populares durante a década de 1990 e início dos anos 2000, assim como Resident Evil e Silent Hill. Devemos levar em consideração esse caso, assim como muitos outros, na hora de criar e adaptar, não apenas obras específicas, mas também gêneros como um todo, quando esse gênero foi criado ou amadurecido em outra mídia, já que, quando as linguagens mudam, muda também a maneira como os criadores devem representar essas categorias específicas que possuem suas regras específicas, para não cair, de outra forma, no lugar comum das tentativas frustradas de “copiar e colar” elementos de uma mídia para outra, apenas esperando que funcione e que o público aceite sem questionar.

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