O Survival Horror e a dificuldade de se adaptar o horror para os videogames
O horror é um dos gêneros mais populares quando tratamos de qualquer mídia, e nos videogames não é diferente. Em diversos casos as obras de horror apresentam seus problemas, e nos videogames não é diferente. A diferença está na causa para esses problemas e na maneira como o gênero é adaptado para os jogos, já que algumas das regras básicas do horror devem ser, obrigatoriamente, ou deixadas de lado readaptadas às especificidades da mídia. Se no horror, em geral, o protagonista não tem a competência necessária para lidar com o que está se passando ao seu redor, está isolado do mundo ou nega (ao menos até que a criatura, finalmente, se revele) a existência do sobrenatural, no videogame essas ações e sensações são muito mais difíceis de serem aceitas. É por essas e outras que o horror, puro e simples (mas com todas as suas complexidades), não pode ser fielmente adaptado para dentro do mundo virtual.
Quando falamos de horror nos videogames tratamos sempre de misturas de gêneros, o que acaba por deixar alguma dessas “regras de linguagem do horror” por muitas vezes apagadas ou completamente de fora dos jogos. Não é à toa que quando nos lembramos das mais famosas franquias de jogos de horror percebemos que existe uma nova representação do gênero de horror para os videogames, o survival horror, que nada mais é que a mistura da mecânica de jogos de sobrevivência com o horror. Isso acontece porque, na maioria das vezes, temos um protagonista que consegue lidar com o que se passa ao redor dele, já que essa impotência e desesperança que é intrínseca aos personagens do horror não combina com jogabilidade e com a agência que é tão necessária quando falamos de videogames. A maneira que os desenvolvedores encontraram para resolver tanto o problema do isolamento, quanto o problema da impotência, foi misturando a necessidade de não ter que apenas enfrentar o sobrenatural, mas ter de enfrentar condições adversas, que podem ser tanto se preocupar com a sanidade ou com a saúde do protagonista, quanto simplesmente com a quantidade de munição que ele possui, o que é, normalmente, o que faz com que ele seja capaz de lidar com o monstro que tem que enfrentar. Essa necessidade de sobreviver ao mundo, tanto quanto ao monstro, que é criada no survival horror, é justamente a parte que foi, durante muito tempo, a mais essencial dentro dos jogos de horror, já que balancear quando você será capaz de enfrentar os perigos de forma mais tranquila ou mais difícil, baseado em seus recursos e na capacidade do jogador de adquiri-los.
Nos últimos anos têm crescido o número de tentativas de se apresentar jogos de horror de outras maneiras, da fusão com a ação até experimentação com o gênero mais “puro”, mas as franquias de mais sucesso ainda carregam os elementos que foram tão populares durante a década de 1990 e início dos anos 2000, assim como Resident Evil e Silent Hill. Devemos levar em consideração esse caso, assim como muitos outros, na hora de criar e adaptar, não apenas obras específicas, mas também gêneros como um todo, quando esse gênero foi criado ou amadurecido em outra mídia, já que, quando as linguagens mudam, muda também a maneira como os criadores devem representar essas categorias específicas que possuem suas regras específicas, para não cair, de outra forma, no lugar comum das tentativas frustradas de “copiar e colar” elementos de uma mídia para outra, apenas esperando que funcione e que o público aceite sem questionar.