Não crie um senso de urgência, promova um senso de propósito

Vitor Queiroz
Metanoia Lab
Published in
4 min readOct 17, 2016

O post foi traduzido de um texto escrito por Kimber Lockhart que você pode conferir aqui.

Eu lidero equipes de desenvolvimento de software. Parte do território são pessoas(CEO, pessoas envolvidas no projeto, clientes) querendo que sejamos mais rápidos. Com frequência me perguntam — "Você acha que nossa equipe tem um senso de urgência forte o suficiente?" ou algo mais direto como "Você consegue fazer a equipe sentir um senso de urgência mais forte?" Na maioria das vezes esse pedido é mais sutil, mas é o mesmo — "Eu gostaria muito que esse projeto fosse feito, mas não tem alta prioridade. Você consegue dar uma apressada para fazer acontecer?"

Então, para todos aqueles por aí imaginando, não. Eu não vou tentar criar um senso mais forte de urgência na equipe, e você também não deveria. Um senso de urgência não é o objetivo. Tentar criar urgência reflete a antiquada confusão entre apressar e ser rápido — a equivocada noção que se você não estiver correndo você já está para trás.

Se você não está trabalhando no produto todos os dias(e francamente, mesmo se você estiver), é fácil de acreditar que o progresso deveria ser mais rápido, afinal, todos queremos ser mais rápidos. Sempre existe mais para fazer do que conseguimos alcançar e se fossemos mais rápidos conseguiriamos chegar lá. Se a equipe corresse um pouco mais nós não teríamos que fazer escolhas difíceis.

Qualquer um que já esqueceu as chaves, no esforço de sair de casa a tempo, sabe que se apressar é um tiro que com frequência sai pela culatra. O pânico, e o ritmo frenético, valorizam mais ações do que resultados e isso tem consequências.

Atalhos e desleixos. Em teoria, engenheiros de software profissionais, designers e gerentes de produto vão sempre entregar um trabalho profissional — se recusando a tomar atalhos que comprometeriam suas entregas. Na realidade, todos nós temos o desejo de agradar, e nossos empregos dependem da vontade de se adaptar à direção da empresa. Mesmo uma equipe de ponta não está imune a pressão e a pequenas coisas que começam a se acumular — pequenos problemas de UX que não temos tempo de consertar, uma cobertura de testes incompleta, falhas de monitoramento em processo chave, débito técnico em uma funcionalidade.

Espaço limitado para soluções criativas. Pressão constante para se apressar reduz nossa habilidade de ser proativo. Nós não pegamos os vinte minutos extras para entender o objetivo do design e economizar vários dias de trabalho. Nós falhamos ao perceber que uma extensão de browser é a solução errada e precisamos parar de investir nela. Dar um passo atrás toma tempo então é constantemente desencorajado em ambiente pró-urgência. Mas são nesses minutos, ou horas, que semanas ou meses são economizados.

Micro gerenciamento. Tentar criar um senso de urgência exige esforço. As pessoas estão chegando cedo? Elas estão ficando até mais tarde? Estão produzindo o suficiente? Isso é muito trabalho para uma liderança que deveria estar focada em questões mais profundas. Além disso, isso mina a confiança da equipe, Seja bem cuidadoso e antes de ignorar isso prontamente — mesmo que você nunca micro gerencie você pode estar criando os incentivos errados para os gestores de seu grupo.

Perda de potência rapidamente. Urgência artificial para as entregas perde sua potência rapidamente — no decorrer de um emprego e no decorrer de uma carreira. Para engenheiros de software e designers experientes(pessoas das quais você depende) isso soa como amadorismo e não inspira lealdade a longo prazo.

Um senso de propósito

Vamos aposentar o senso de urgência e procurar pelo senso de propósito. Um senso de propósito é um entendimento profundo das razões por trás dos nossos esforços e um desejo de despejar tempo e energia porque aquele propósito ressoa com o impacto que gostaríamos de causar no mundo.

Um senso de propósito é imersão em nossa causa, permitindo que essa exposição motive a ação. Um senso de propósito é ir mais rápido, de maneira mais inteligente, em direção a uma missão que todos vemos claramente. É sobre usar bom julgamento porque todos nós entendemos as implicações de curto e longo prazo naquilo que estamos criando juntos.

Um forte senso de propósito se manifesta quando um engenheiro de software observa um cliente em potencial lutar com um fluxo, e ficar até mais tarde para fazer as mudanças que facilitam o fluxo. Ele aparece quando um designer gasta seu fim de semana em algumas iterações extras porque ele se sente engajado com o problema que tem na mão e quer produzir uma solução melhor.

Acontece que quando você para de procurar criar urgência. A paixão e o propósito latentes na sua equipe podem resolver as coisas certas no ritmo certo.

A elaboração de um senso de propósito é diferente da criação de urgência

Uma equipe com um alto senso de próposito pode parecer muito com uma equipe com um alto senso de urgência. A entrega é alta, pessoas estão engajadas. A distinção crítica é que o que você faz como lider nas duas situações tem muito pouco em comum.

Criar um senso de urgência é sobre prazos de entrega, irritante e pura velocidade. Fomentar um senso de propósito é diferente. É uma empreitada colaborativa e é preciso confiança de que os membros da sua equipe vão traduzir o senso de propósito deles em aumento de eficácia.

PS: Existe um tempo e um lugar para tudo

Tudo isso não é para dizer que podemos arcar com desperdício de tempo. Gerenciar (e eventualmente deixar) funcionários que não conseguem manter um ritmo razoável é uma competência que cada empresa precisa desenvolver. Muitas empresas sensatas precisam de previsibilidade e têm bons motivos para criar prazos de entrega sensatos, toda empresa quer ser rápida.

A chave é evitar que o senso de urgência se torne uma meta por si só.

--

--

Vitor Queiroz
Metanoia Lab

Quebrador de paradigmas, empreendedor, curioso que ainda insiste em influenciar positivamente o mundo