Planeje como um pantser

Paulo Guerche
metaWriMo
Published in
4 min readOct 17, 2016

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Olá, você. Já faz um ano e cá estamos novamente, aquecendo nossos motores para novembro. Caso você ainda não saiba, eu sou o pantser do metaWriMo. Nós, pantsers, nos orgulhamos de ser as criaturas indomáveis que habitam as terras do improviso. Chegamos aqui com nada além de calças e coragem, e saímos com 50 mil palavras.

Ou pelo menos era o plano.

Por mais que você não saiba exatamente aonde quer chegar, uma dose mínima de planejamento pode te ajudar a ir mais longe. Eu, por exemplo, comecei o NaNoWriMo 2015 com absolutamente zero ideias. Um café e uma reencarnação de personagem depois, me encontrei mergulhado num ritmo frenético de escrita, criando vida após vida para que meu protagonista combatesse o sobrenatural.

Era minha primeira tentativa num NaNo e eu estava colocando todas as minhas fichas nesse desafio para provar a mim mesmo que eu sabia escrever, entende? Quando novembro começou, foi uma loucura. Eu nunca tinha escrito tanto e todas aquelas páginas estavam saindo do improviso! Eu estava chapado com o prazer de minha nova habilidade e era a melhor “viagem” que eu já tinha experimentado… Mas o barato acabou lá pelas 15 mil palavras. Passei três dias sem escrever e em seguida fui tomado por um sentimento horrível de culpa e tempo perdido. Eu simplesmente não sabia onde queria chegar e, mesmo que soubesse, não conseguia criar forças para jogar as palavras no papel.

Um tempo depois, tive contato com um meio fantástico de planejamento. A princípio ele é usado por mestres de RPG para planejar suas sessões, mas se você ficar comigo até o final deste artigo, vai ver que pode fazer de você um pantser melhor.

RPG é aquele negócio do Stranger Things, ó

As luzes diminuem e uma luz vinda do fundo da sala projeta uma contagem regressiva na sua tela. Quando ela acaba, uma corneta militar anuncia o começo de uma pequena animação educacional e um letreiro apresenta as palavras “Preparando-se para o NaNoWriMo”.

Monkey Island, alguém?

Imagine-se num barquinho a remo, perdido em pleno mar aberto. Depois de horas remando, você alcança uma ilha e, ao chegar em seu ponto mais alto, se descobre num arquipélago. A partir daí cabe a você decidir qual ilha oferece maior chance de sobrevivência, pra onde vale a pena remar no momento e o que levar de uma ilha pra outra. É através desse processo de descobrir e transitar entre ilhas que você vencerá o NaNo desta vez.

Para fazer isso funcionar, você só vai precisar de ideias, um papel e um lápis.

Você provavelmente já tem algumas ideias sobre o que vai escrever, todas em diferentes estágios de desenvolvimento e mais ou menos importantes. Pegue uma folha de papel e imagine que ela é o mar da metáfora anterior, sendo que cada região dessa folha corresponderá a uma parte de sua história.

No começo da folha, desenhe círculos e coloque dentro deles as ideias referentes ao começo de sua jornada de 50 mil palavras. Não existe uma ordem certa para essas ideias e você provavelmente não deveria usar a borracha por aqui. Qualquer coisa pode ser uma ilha e as ideias mais relevantes podem se tornar ilhas maiores, com ideias relacionadas formando pequenos arquipélagos. Tente deixar suas ideias registradas de forma aberta o bastante para que seja fácil alterá-las on the go, sem precisar cortar seu fluxo de escrita.

A única regra é: não ligue essas ilhas com setas, traços, nem nada do tipo. O trânsito entre cada ilha é feito com seu barco, e cada palavra escrita é uma remada em direção ao próximo ponto da história. Ter conexões entre as ilhas, sejam elas pontes ou pedras que surgem quando a maré recua, pode fazer você viajar pra onde é mais fácil, não pra onde é melhor.

Nas próximas partes da folha, coloque as ideias que forem surgindo, navegue entre elas conforme sua história pedir. A grande ideia por trás de organizar suas ideias desse jeito é ter liberdade para sentir seu texto, seguir com uma liberdade imensa, improvisando a maior parte de sua história e ainda garantindo alguns “portos” para quando você se sentir perdido.

“Mas Paulo”, você me pergunta, “isso não é planejar?”

É. E não é. Deve haver algum purista lendo este texto e sentindo cheirinho de planner enquanto me chama de “poser”. Mas apesar de você jogar ideias no papel com antecedência, a maior parte do trabalho acontece no calor do momento. Se você criar suas ilhas direitinho, elas não funcionarão como coisas fixas, mas como um apoio para maximizar sua criatividade.

A beleza desse sistema está na liberdade que ele te proporciona. No fim das contas, fica muito mais fácil evitar aqueles bloqueios que aparecem quando você não sabe pra onde ir, porque você já terá uma vaga noção das ilhas que estão além da névoa. Você joga dezenas de ideias num papel e só precisa usar as que te agradarem, quando te agradarem e como for melhor. Apesar do título deste artigo, acredito que seja uma boa ferramenta até mesmo para o planner mais ferrenho (inclusive a Gabi disse que vai usar esse ano).

É isso, espero que as ilhas possam ser um farol pra quem ainda não sabe como começar a criar e que você tenha um ótimo novembro em seu arquipélago. Até a próxima, metas!

Sim, “farol” foi o melhor trocadilho náutico que eu consegui

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