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Meu Legado - Genealogia Comprovada

O Meu Legado é um acervo digital gratuito dedicado à genealogia e à história familiar. Nosso propósito é unir três pilares: construir árvores genealógicas confiáveis, comprovar linhagens com rigor documental e preservar a historicidade que dá vida a cada nome e narrativa.

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Foto: internet — Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia — Olinda, Pernambuco

O Livro Primeiro da Santa Casa de Misericórdia de Olinda (1682–1859): uma fonte esquecida, uma esperança renovada

7 min readMay 23, 2025

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Este artigo apresenta uma reflexão sobre o valor histórico e genealógico do com abrangência entre os anos de 1682 e 1859. Mencionado em correspondência datada de 1957 e utilizado como fonte por José Antônio Gonçalves de Mello Neto, a obra revela nomes de grande relevância na composição da elite pernambucana, tornando-se uma referência singular para os estudiosos da genealogia regional. Sua existência comprovada até meados do século XX levanta a questão:

1. A importância documental da Santa Casa de Misericórdia de Olinda

As Santas Casas de Misericórdia desempenharam, durante os séculos da colonização portuguesa, um papel essencial nas esferas da saúde, caridade e administração social. No contexto genealógico, sua relevância se manifesta nos livros de registro de irmãos — documentos em que eram anotadas as admissões de membros leigos da irmandade, com dados que muitas vezes complementam, ou mesmo substituem, a escassa documentação paroquial disponível.

O Livro Primeiro de Registro de Irmãos da Santa Casa de Misericórdia de Olinda, que cobre quase dois séculos, representa uma fonte riquíssima para a compreensão das redes sociais, familiares e políticas do Recife e seu entorno. Mais do que simples registros nominais, esses documentos revelam o pertencimento a uma esfera de prestígio e influência, por vezes ocultada em outros registros formais.

2. O testemunho epistolar: o livro ainda existia em 1957

Em carta redigida por um pesquisador “Galdino” no ano de 1957 e endereçada ao genealogista Orlando Cavalcanti, encontra-se menção direta à existência física deste livro em Recife. O autor, então envolvido com funções junto ao Patrimônio Histórico local, manifesta surpresa ao saber da existência do referido volume, até então desconhecido por ele. O fato lhe é revelado ao consultar a obra Antônio Fernandes de Matos, de José Antônio Gonçalves de Mello Neto, historiador que também teria extraído dali informações relevantes para seu trabalho.

A carta cuja leitura me foi possível registra que o referido livro ainda existia por volta do ano de 1957. Tal informação não apenas ressalta a raridade do documento, como também evidencia sua relevância concreta para a confirmação de vínculos familiares, identificação de nomes colaterais e reconhecimento de personagens de destaque na história pernambucana.

3. Transcrição da carta

Tive pelo Brito a agradável notícia de sua volta do novo Recife de Pernambuco em caráter definitivo. Acho que não é difícil imaginar o que este acontecimento representa para a genealogia pernambucana e, sobretudo, para mim, que no momento acabo de saber da existência de uma preciosa fonte de informações aí no Recife, e não sabia como iria poder consultá-la. A sua permanência aí vem solucionar a questão, e tem qualquer coisa de providencial, pois poderei — assim espero — consultá-la por seu intermédio.

Calcule — conforme pedia Brito para lhe antecipar a boa nova — que o Livro Primeiro de Registro de Irmãos (1682–1859) da Santa Casa de Misericórdia de Olinda (hoje do Recife) ainda existe, e eu não tinha o mais leve conhecimento disto. Só fui saber à luz pela primeira vez, na obra “Antonio Fernandes de Mattos” , escrita por José Antonio Gonçalves de Mello Neto, onde ele menciona logo no início das “Notas — 1993” a sua existência, dando a entender haver colhido nele alguns dados sobre o biografado.

O pior é que esta obra estava no prelo justamente no período em que substituí interinamente o Chefe Distrital do Patrimônio no Recife, em 1957, e neste mesmo ano foi publicada, de sorte que andei perto deste Livro de Registro — sem saber.

Escrevi uma carta a José Antonio Gonçalves de Mello Neto onde, ao mesmo tempo em que lhe enviava alguns dados sobre François Marie Duprat, meu bisavô, e Henry Gibon, terceiro avô de Celina (minha prima e mulher), mandava pedir a sua ajuda no sentido de ver se constavam naqueles registros os nomes das pessoas contidas em uma lista anexa. Depois que já estava tudo pronto, não tive coragem de mandar a carta, pois fiquei receoso do número de nomes que solicitava, e só agora, cerca de dois meses depois — em que Brito, sendo viúvo, me fez em 11 de janeiro passado — levou comigo aquele pedido e ele mesmo mandou pelo correio.

Não obstante ter certeza de que José Antonio é pessoa boníssima e extremamente atenciosa — do que tive inúmeras provas quando aí estive em 1957 — não estou muito certo sobre a possibilidade de ele poder me atender, em virtude do seu estado de saúde, que estive sabendo no Patrimônio não ser muito bom. Sendo assim, pediria ao que por fazer um serviço a Deus e a mim, mercê aceitasse este encargo, para o qual junto a esta carta uma nova lista de nomes de pessoas que, por serem dinheiristas, é bem provável que tivessem pertencido a esta Santa Casa de Misericórdia.

É evidente que não me sinto perfeitamente à vontade, pois são , e mesmo que, por desventura minha, não conste mais da metade, nem por isso diminui em nada o trabalho que solicito; mas qualquer um deles que apareça é tão notável para mim que teria o mesmo efeito de ser premiado com a sorte grande da loteria.

Com exceção de , do e de , sobre quem já possuo não só a filiação como muitos outros dados, assim como o e , que são colaterais, os restantes são todos avós de meu filho, sobre quem não possuo mais dados do que o próprio nome. Você já imaginou a tremenda sensação de poder fazer certas conexões e, por outro lado, poder prosseguir?

Outra coisa que desejo saber é se o amigo teria, em suas notas sobre os bacharéis em Direito por Pernambuco (Olinda ou Recife), algo sobre:

  • , que foi presidente da Província da Paraíba;
  • , que suponho seja filho de outro do mesmo nome e que era — disto estou certo — sobrinho do Mamanguape e do Itambé;
  • , neto do Mamanguape;
  • neto do Itambé; e finalmente, , que era neto, pelo que presumo, de e , seu marido.

O fato de Dona Henriqueta Freire ser uma de suas avós faz com que tenhamos alguns avós em comum, pois sendo ela filha, neta, sobrinha ou sobrinha neta, o fato é que ela descende de e . E assim sendo, a título de compensação para tantos pedidos (fraca compensação…), vou dar os seguintes dados sobre este último casal:

Primeiro: nunca consegui saber de quem era filho o velho senhor , entretanto sei que ele era natural do então povoado de , onde nasceu em , e que morreu velhíssimo, pois seu nome ainda é mencionado na relação dos votantes em , no meio dos que “não compareceram ao recebimento das cédulas” nas eleições do 1º Distrito de Paz da Paróquia de , Comarca da Cidade de Goiana, Província de Pernambuco ( Analecto Goianense , tomo de 1964), não aparecendo mais seu nome nas eleições de .

Sobre sua mulher, — de quem foi segundo marido — e que era prima-irmã do avô paterno de meu pai, o , e Sargento das Ordenanças da Vila do Pilar, conheço sua filiação, que vai em anexo, com os seus avós pelo lado paterno — que são precisamente os avós que temos em comum.

Bem, por hoje vou ficar por aqui, para não cansar com tanto.

Peço-lhe prestar meus respeitos à sua Excelentíssima Senhora, e envio um forte abraço do amigo e grande admirador,

4 Ainda existe esse livro? Uma questão em aberto

A existência do livro em 1957 está devidamente atestada. No entanto, . Instituições como o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, a Santa Casa de Misericórdia do Recife e o Arquivo da Arquidiocese de Olinda e Recife são possíveis depositárias do volume, mas nenhuma menção oficial foi localizada em inventários ou catálogos digitalizados.

Essa lacuna reforça a necessidade de mobilização da comunidade genealógica em torno da questão:

5. Considerações finais

A genealogia brasileira carece de fontes primárias bem conservadas e devidamente acessíveis. O Livro Primeiro de Registro de Irmãos da Santa Casa de Misericórdia de Olinda, se localizado e digitalizado, representa uma adição de valor incomparável aos estudos das famílias pernambucanas entre os séculos XVII e XIX.

Este artigo não pretende encerrar o tema, mas abri-lo. Conclama os leitores — pesquisadores, historiadores, arquivistas e genealogistas — a se somarem na busca, identificação e eventual recuperação desse documento. Em um tempo em que a memória se fragiliza com a perda de arquivos, cada gesto de resgate documental é também um ato de cidadania histórica.

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Eduardo Padilha dos Santos
Eduardo Padilha dos Santos

Written by Eduardo Padilha dos Santos

Analista de dados e pesquisador de genealogia. MBA em Data Science. Mantenedor do site O Meu Legado, unindo história, memória e tecnologia.

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