1995: um ano de alegrias alvinegras

No dia 17 de dezembro de 1995, o Botafogo se consagrou campeão do Campeonato Brasileiro após um empate por 1 a 1 no segundo jogo da decisão

Rodrigo Alves
Mezzala
7 min readJun 7, 2020

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Jogadores comemorando após o título do Campeonato Brasileiro [foto- Globoesporte.com]

Neste domingo, às 16h da tarde, a TV Globo reproduziu o último jogo da série sobre alguns dos títulos mais marcantes dos clubes cariocas. Flamenguistas, vascaínos e tricolores tiveram a oportunidade de rever seus times se sagrando campeões, e de quebra comemorar esses feitos memoráveis novamente como se fosse a primeira vez.

Hoje foi a vez do torcedor alvinegro carioca tirar seu manto sagrado do armário, de torcer como se estivesse vendo o jogo ao vivo no estádio ou em casa pela primeira vez e de aproveitar essa oportunidade de rever um jogo histórico e tão importante para a história do clube. Eles puderam sentir de novo na pele, a emoção de ver seu time do coração sendo campeão.

Camisa usada no ano de 1995 [foto- Lance.com.br]

Diferentemente do modelo atual disputado, o brasileirão de 95 foi disputado em 3 fases distintas. Na primeira fase, 24 clubes foram divididos igualmente em 2 chaves, com 12 clubes em cada uma delas. Na primeira etapa, todos os times de cada grupo se enfrentam dentro de seus respectivos grupos. Já na segunda etapa, os clubes enfrentam os adversários da outra chave. Após isso, os 2 melhores classificados de cada grupo, avançavam para a semifinal da competição. Um fato curioso dessa edição do campeonato, foi o fato de que essa edição foi a primeira a atribuir 3 pontos para o vencedor da partida.

O Botafogo entrou no grupo A, junto de adversários como o Corinthians, Cruzeiro, Grêmio, Palmeiras, Flamengo, Grêmio, Vitória, Guarani, Paraná, Paysandu e Bragantino. Por outro, no grupo B, estava o Santos, equipe que acabaria disputando a decisão com o alvinegro carioca na época. O peixe teve que encarar adversários como o Vasco, Fluminense, São Paulo, Internacional, Portuguesa, Atlético Mineiro, União São João, Criciúma, Bahia, Goiás e Sport durante a primeira fase.

Primeira fase:

A trajetória alvinegra na competição começou no dia de 1° de agosto de 1995, contra o Vitória, no estádio Caio Martins, em Niterói. Na ocasião, o time comandado pelo técnico Paulo Autuori abriu 2 a 0 no placar no primeiro tempo, com gols de Jamir e um golaço de Túlio Maravilha, porém, cedeu o empate no segundo tempo. Após a estreia frustrante, o capitão do glorioso na época, o jogador Wilson Gotardo chegou a reuniu os jogadores para convencer-lhes que o Botafogo tinha elenco para disputar o título da competição.

A partir daí, o glorioso alternou ótimas vitórias, como um 2x1 sobre o Corinthians, um 3x2 sobre o Grêmio e um 3x1 histórico e marcante sobre o maior rival Flamengo diante de mais de 70.000 pessoas no estádio Castelão, em Fortaleza. Entretanto, sofreu duras derrotas também, como a goleada sofrida diante do Cruzeiro por 5 a 3 e o revés por 1 a 0 diante do Bragantino. Derrota essa, que deflagrou a crise que havia entre o elenco na época.

Parte do elenco alvinegro reclamava de algumas regalias que o atacante Túlio Maravilha recebia da diretoria botafoguense, além de criticarem a postura individualista e fria do atleta fora de campo. Além desses fatores , ainda havia a questão dos atrasos de salários dos jogadores e comissão técnica do elenco, que incomodava muito a situação de todos dentro do clube. Por isso, após a derrota diante do Bragantino, o presidente do time na época Carlos Augusto, Montenegro, reuniu todo o elenco na época, pedindo fim das desavenças entre os atletas e exigindo mais profissionalismo por parte deles dentro de campo. E parece que o tom sério da conversa fez o time acordar e crescer coletivamente e individualmente. Ao final da primeira fase, o glorioso se encontrava em 5° lugar com 18 pontos somados (5V, 3E e 3D).

Túlio pronto para finalizar para o gol [ foto - Globoesporte.com]

Segunda fase:

O Botafogo iniciou a segunda fase diante do São Paulo, no estádio Morumbi. O glorioso não tomou conhecimento do adversário e derrotou o clube paulista por 2 a 0, provando que as desavenças entre os jogadores e a inconstante regularidade do elenco foram deixadas no passado. O glorioso deu um show a partir daí.

Após um empate com o Internacional na segunda rodada, o alvinegro carioca emendou uma sequência de 7 vitórias e 3 empates, garantindo ao Botafogo a liderança isolada do grupo A, e de quebra a classificação antecipada para as semifinais da competição, após um tropeço do Corinthians diante do Bahia.

Após um empate com o Fluminense na última rodada, o glorioso terminou a segunda fase com incríveis 27 pontos somados (8V, 3E e 1D), tendo marcado 22 gols e sofrido apenas 6 em 12 jogos disputados. Na classificação geral, o clube da estrela solitária somou 45 pontos e, por ter a segunda melhor somatória entre os semifinalistas, iria enfrentar o Cruzeiro (39 pontos) com a vantagem de jogar por 2 empates. Do outro lado, o Santos, com 46 pontos somados, enfrentaria o Fluminense, com 34.

Gotardo e Sérgio Manoel conversando durante jogo [foto — Globoesporte.com]

Fase semifinal:

Antes da semifinal, o Botafogo recebeu uma notícia muito preocupante. Seu artilheiro Túlio Maravilha havia sentido um desconforto muscular, e era dúvida para o primeiro jogo do confronto em Minas. A diretoria do Botafogo fez de tudo o que podia para recuperar o atacante, inclusive chegou a pedir auxílio de um fisioterapeuta de um clube rival para ajudar na recuperação do atleta.

O esforço da diretoria foi recompensado. Túlio não só foi para o jogo, como marcou um gol no início da partida, mostrando estar recuperado da lesão na coxa que ele havia sofrido. Entretanto, o gol não foi o suficiente para garantir a vitória do alvinegro no primeiro confronto, pois a raposa acabou empatando o jogo pouco depois.

O empate deu uma vantagem muito importante para os alvinegros para o jogo da volta do confronto, que seria realizado no estádio Maracanã. Com a torcida a seu favor, o time da estrela solitária pressionou o Cruzeiro o jogo inteiro, porém não saiu do empate com a raposa. E, com o 0 a 0 no placar, o Botafogo carimbou sua vaga para a finalíssima para enfrentar o Santos, que eliminou o Fluminense após 2 jogos jogos eletrizantes.

Hora da decisão:

O pré jogo da decisão foi recheado de provocações e de motivações para ambos os lados. O artilheiro e atacante Túlio Maravilha do Botafogo, iria completar 100 jogos com a camisa Botafoguense no dia do primeiro confronto da final. Além disso, o elenco alvinegro tratava essa final como uma revanche, afinal, a única derrota do glorioso durante a segunda fase foi para o próprio Santos. Do outro lado, o time santista encarava essa decisão com muito entusiasmo e favoritismo. Eles confiavam muito no trabalho do treinador Cabralzinho. E Além disso, acreditavam muito no potencial do elenco santista de vencer o Botafogo novamente.

Primeiro jogo:

No dia do jogo, quase 60 mil pessoas marcaram presença no Maracanã para apoiar o glorioso. A partida foi do início ao fim eletrizante, com bom futebol e muitas chances de gol para os dois lados. Após lance de escanteio, Gotardo abriu o placar para o glorioso. Entretanto, após falha de Donizete, o Santos conseguiu o empate.

A arbitragem bem que tentou estragar a festa alvinegra anulando um gol de Túlio de forma equivocada. Porém pouco tempo depois, ele fez outro gol, e que dessa vez foi validado pelo árbitro. Após o gol, Túlio fez questão de provocar o rival, comemorando o gol que havia feito, da mesma forma que o ídolo santista Pelé comemorava seus gols pelo Santos. O Botafogo continuou pressionando a equipe santista, porém sem sucesso e o 2 a 1 no placar permaneceu, e o jogo estava totalmente aberto e indefinido.

Time do Botafogo posando pra foto [foto — Globoesporte.com]

Segundo jogo:

O Botafogo chegou para o segundo jogo da decisão confiante. Afinal, o time da estrela solitária precisava apenas de um empate para se sagrar campeão. Entretanto, um possível desfalque de Donizete após desconforto muscular na semifinal, preocupava a diretoria e poderia ser uma importante perda para o Botafogo. Por outro lado, a equipe santista ainda se mostrava otimista quanto a conquista do título, pois havia passado por uma situação semelhante na semifinal contra o Fluminense e conseguiu reverter o resultado durante o segundo jogo jogando em casa.

No dia 17 de dezembro de 1995, às 16h, o juiz deu início a partida e a sorte estava lançada. Os times estavam com as escalações que seus torcedores sabiam de cor. E os dois times estavam prontos para se sagrar campeão brasileiro e para poder gritar pra todo mundo ouvir “ É CAMPEÃO!”. 30 mil santistas ensandecidos apoiavam o clube da casa e geravam uma motivação extra ao time paulista, que pressionou o jogo todo.

Após muito esforço, o Santos chegou ao primeiro gol. Porém, após cobrança de falta, a bola acabou sobrando nos pés do atacante botafoguense, e lá estava o artilheiro do campeonato pronto para concluir às redes. Para o clube paulista, não restava muito mais o que fazer. A taça já tinha um dono e um destino. E o torcedor botafoguense pode enfim soltar o grito de campeão.

Túlio beijando a taça de campeão [foto — Globoesporte.com]

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