2008–2009: Da tristeza tricolor até o improvável milagre(PARTE 1).

Os dois anos mais dramáticos da história recente do tricolor das Laranjeiras contados de uma forma cronológica e interligada. A primeira parte conta sobre o dramático ano de 2008 e o sonho da primeira Libertadores do Fluminense.

João Pedro Cupello
Mezzala
8 min readJul 31, 2020

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O futebol nos proporciona várias histórias incríveis, podendo elas ser de vários tipos: momentos de glória como por exemplo os títulos da Libertadores e do Brasileirão do Flamengo em 2019 ou também com situações desastrosas, como o rebaixamento do Cruzeiro nesse mesmo ano, além de outros diversos feitos e acontecimentos que geram contos sensacionais. Entretanto são em ocorrências raríssimas que esses dois tipos de incidentes destacados anteriormente ocorram em dois anos consecutivos, até por pensar que como um time vai de um estado tão bom para um tão pobre de desempenho, ou vice-versa. Porém esse drama ocorreu com o Fluminense Football Club, e demonstra como a história recente do tricolor carioca é extremamente curiosa.

A DRAMÁTICA TAÇA LIBERTADORES E O IMPACTO GERADO

A IMPORTÂNCIA DESSE TÍTULO E O COMEÇO DESSA HISTÓRIA

2008 para o Fluminense representava a sua maior chance de um título internacional na sua história recente. Após a conquista da sua primeira e única Copa do Brasil e uma sólida quarta colocação no Campeonato Brasileiro, o tricolor chegava para a Libertadores com gana, sabendo de que a equipe não participava da competição intercontinental fazia 23 anos e visto pelos outros como uma possível ameaça.

Elenco-base do Fluminense em 2008

O elenco do Fluminense em 2008 era fortíssimo e com nomes de peso. O time vinha com Fernando Henrique no gol, defesa composta com Gabriel e Junior Cesar nas laterais e Luiz Alberto e Thiago Silva na zaga, meio de campo formado por Ygor e Arouca como volantes e Cícero,Thiago Neves e Conca como meias avançados e com Washington “Coração Valente” como centro-avante, tendo o ex-jogador Renato Gaúcho como treinador. Destaca-se também o atacante Dodô, que era conhecido como “O artilheiro dos gols bonitos” e o autor do gol do título da Copa do Brasil de 2007 , o zagueiro Roger, que hoje em dia é treinador do Bahia.

O começo da Libertadores para o tricolor carioca foi incrível, acumulando 4 vitórias, 1 empate e 1 derrota e garantido ,além liderança do grupo 8 que tinha oponentes fortes como o Libertad do Paraguai e a LDU do Equador, a primeira classificação geral da competição. Vale ressaltar a gigantesca vitória do Fluminense sobre o Arsenal de Sarandí da Argentina por 6 a 0, com uma atuação maiúscula de Thiago Neves e do atacante Dodô, que fez um golaço de voleio sobre o time argentino. Esse desempenho do time das Laranjeiras é lembrado por muitos como uma das partidas de melhor rendimento da história do Fluminense, e demonstrou ao resto da América Latina como a equipe comandada por Renato Gaúcho deveria ser temida.

Momento onde o exato instante em que Dodô recebe a bola para fazer um golaço contra o Arsenal de Sarandí é registrado.

O PRIMEIRO OBSTÁCULO NOS MATA-MATAS

Roger comemorando seu gol feito contra o Atlético Nacional no Maracanã.

A performance do Fluminense na fase dos mata-matas começou com o confronto contra o Atlético Nacional de Medellín da Colômbia, que demonstrou mais uma vez que era um candidato fortíssimo ao título da Libertadores com duas vitórias contra o time colombiano, sendo elas por 2 a 1 na Colômbia e 1 a 0 no Maracanã.

A PRIMEIRA “PARADA-DURA”

O segundo confronto do tricolor das laranjeiras nos mata-matas foi contra o até então bicampeão consecutivo brasileiro São Paulo, considerado por muitos o maior favorito para vencer a competição intercontinental, e esse favoritismo foi mostrado no primeiro confronto entre os times brasileiros no Morumbi, onde o time paulista venceu o carioca por 1 a 0, com gol de Adriano. Com tudo indefinido, o São Paulo chega no Maracanã com objetivo de administrar o resultado. Já o fluminense entra para vencer, e Renato Gaúcho prepara um time ofensivo para poder conseguir a tão sonhada classificação, e essa tática começou a mostrar sua eficiência com o cedo gol de Washington aos 12 minutos de partida, deixando o placar agregado empatado. Entretando, aos 70 minutos de jogo após grande jogada de Aloísio Chulapa, Adriano Imperador recebe o cruzamento e empata o jogo, porém sendo desempatado no minuto seguinte a favor do Fluminense, com Dodô. O combinado favorecia ao tricolor paulista, que passava de fase com o gol fora de casa, porém aos 91 minutos de jogo, após cobrança de escanteio realizada por Thiago Neves, Washington sobe mais que a zaga paulista toda e cabeceia contra o gol de Rogério Ceni , selando a classificação dos Cariocas para a próxima fase e fazendo o Maracanã ir o delírio.

Gol de Washington contra o São Paulo narrado por Luiz Penido, um dos maiores nomes da história do radialismo brasileiro.

O ÉPICO CONFRONTO CONTRA O ATUAL CAMPEÃO

As semifinais da Libertadores foram LDU contra América do México e Fluminense contra o campeão da edição passada do torneio continental e um dos times mais tradicionais da América Latina, Boca Juniors. Muitos especialistas e comentaristas de futebol tratavam esse confronto da equipe brasileira com o time argentino como uma final antecipada, sabendo da superioridade técnica desses comparados aos elencos equatoriano e mexicano. Sabendo disso, o elenco tricolor partiu para o estádio de Avellaneda com o objetivo de trazer um resultado satisfatório para o Maracanã no jogo da volta,o que aconteceu, sabendo que o tricolor carioca conseguiu arrancar um empate com o Boca por 2 a 2, com os gols do Fluminense sendo feitos por Thiago Neves e Thiago Silva e os do time argentino sendo feito pelo craque Riquelme.

Os Gols de Fluminense 3 x 1 Boca Juniors

O jogo da volta no Maracanã foi dramático , pois após um 1º tempo disputado e sem gols, aos 57 minutos o Boca Juniors abre o placar com o atacante Palermo. Entretanto o Fluminense conseguiu o empate cinco minutos depois, com um golaço de Washington de falta, e aos 70, Darío Conca tenta um cruzamento para Dodô na área, porém a bola resvala no lateral Ibarra e vai pra dentro do gol, praticamente selando a classificação do tricolor carioca para a final da libertadores pela primeira vez na história. Entretanto a certeza da classificação veio aos 92 minutos com Dodô, que após aproveitar um passe errado da zaga do time argentino, roubou a bola e chutou na rede do goleiro Migliore, sacramentando o Fluminense para a grandessíssima final da Taça Libertadores

A GRANDE FINAL

O tão sonhado título de campeão da libertadores para o Fluminense tinha apenas um obstáculo: A Liga Deportiva Universitaria de Quito, também conhecida como LDU, time equatoriano que estava no mesmo grupo que o tricolor carioca na primeira fase da competição intercontinental e que nessa, tinha conseguido um empate e uma derrota contra o time das Laranjeiras, tornando o Fluminense como grande favorito para o título. Entretanto o time Equatoriano tinha uma vantagem natural que auxiliou muito o mesmo na primeira partida da final: A altitude de 2.734 metros do Estádio Rodrigo Paz Delgado, também conhecido como Casa Blanca, em relação ao nível do mar. Os “Albos” , já acostumados com tal fator, tiveram facilidade para enfrentar um assustado e perdido Fluminense e vencer por 4 x 2 o time brasileiro.

Se tem uma palavra que simbolizasse todo o sentimento do Fluminense e dos seus torcedores antes e durante esse jogo é “guerra”. O Maracanã lotado com 78.918 torcedores e com milhões de torcedores acompanhando de suas casas o desfecho dessa história. O começo dessa trama já era complicada, mas Bolaños aos 5 minutos de jogo fez um gol que deixaria esse título pro fluminense ainda mais utópico. Entretanto, o nome de uma pessoa foi importantíssimo para que essa narrativa se tornasse épica: Thiago Neves. O meio de campo tricolor conseguiu a proeza de fazer três gols na partida, sendo o único jogador da história a fazer um “Hat-Trick” numa final de Libertadores. A atuação extraordinária de Thiago Neves fez com o que antes era apenas uma fagulha de esperança se tornasse em um sonho possível e, além disso, próximo, sabendo que o psicológico do jogo era completamente comandado pelo Fluminense. Após diversas chances das duas equipes durante o tempo normal e após uma prorrogação muito tensa, os 120 minutos acabaram e o jogo deveria ser decidido por meio de cobrança de pênaltis. Entretanto essa história teve um final trágico para o time carioca, pois com uma pilha de nervos sobre os jogadores tricolores Washington, Conca e justamente o herói da partida Thiago Neves, além de uma grande atuação do experiente goleiro Cevallos, a LDU venceu as penalidades por 3 x 1 e se sagrou como campeão da Taça Libertadores da América de 2008, deixando os jogadores e torcedores do Fluminense arrasados.

O IMPACTO DO VICE-CAMPEONATO

O vice-campeonato chegou pro Fluminense como um soco na cara. O time tricolor ficou apático, triste e extasiado pelo resto do ano de 2008, e isso afetou na outra grande competição que o tricolor das Laranjeiras participou: o Campeonato Brasileiro. A equipe verde, branca e grená fez um campeonato brasileiro irreconhecível comparado com àquele futebol jogado no primeiro semestre, que antes havia resultado na primeira colocação geral do time na Libertadores. Com um comando emocionalmente instável de Renato Gaúcho, o ex-jogador foi demitido durante o Brasileirão depois deixar o atual vice-campeão da América na 19ª colocação no fim do primeiro turno após uma derrota contra o fraco time do Ipatinga.

Ex-jogador e treinador do Fluminense Renato Gaúcho após a derrota na Final da Libertadores contra a LDU.
O treinador Renê Simões, que conseguiu levar o Fluminense até a 14ª colocação e, com isso, colocar o tricolor para a Copa Sul-Americana do ano seguinte.

O nome escolhido para tirar o Fluminense dessa situação catastrófica foi o experiente treinador Renê Simões, que já fora treinador do tricolor carioca na categoria Sub-23 nos anos de 1981 e 1982. O atual comentarista fez uma campanha com um resultado satisfatório pensando nas circunstâncias que a equipe se encontrava e conseguiu levar o Fluminense para a 14ª colocação com 45 pontos, apenas 1 ponto acima do Figueirense, 17º colocado e primeiro dentro da zona de rebaixamento para a 2ª divisão do Campeonato Brasileiro. Além disso, essa posição dava ao tricolor das Laranjeiras a oportunidade para participar da Copa Sul-Americana de 2009, fazendo com que a equipe tivesse mais uma chance de conseguir um título intercontinental para o seu repertório. Mal sabiam eles que o ano seguinte seria um dos mais dramáticos da história do Fluminense.

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