2008–2009: Da tristeza tricolor até o improvável milagre (PARTE 2).
Os dois anos mais dramáticos da história recente do tricolor das laranjeiras contados de uma forma cronológica e interligada. A segunda parte relata sobre o ano de 2009, que contou com uma das maiores reviravoltas da história do futebol, além do sonho do Fluminense de conseguir a sua primeira Copa Sul-americana.
Após um frustrante 2008, o Fluminense chega para o ano seguinte com o objetivo de se reestruturar psicologicamente e em campo, sabendo do fato do tricolor ter vendido diversos jogadores importantes do seu plantel para outros clubes, dando destaque ao trio Washington, Junior Cesar e Arouca, que foram transferidos para o São Paulo. Além dessa meta, a equipe carioca sonhava com uma hipotética copa sul-americana, sabendo da decepção do vice-campeonato da Libertadores do ano passado contra a LDU do Equador.
Para conseguir essa meta, o Fluminense foi ao mercado de transferências em busca de jogadores de alto calibre e ,dentre diversas contratações de jogadores de nível decente, trouxe um atleta que viria a ser um dos maiores jogadores da história do tricolor das Laranjeiras: Fred, atacante que veio do Lyon e que havia disputado a Copa do Mundo de 2006 pela Seleção Brasileira.
O elenco base do clube durante a temporada de 2009 era formado pelo goleiro Rafael,que começara o ano como terceiro goleiro, uma defesa formada por Digão, Dalton e Gum como um trio de zaga, além de Mariano e Marquinho como alas. O meio de campo era formado pelos volantes Diogo e Diguinho e pelo armador argentino Darío Conca, e o ataque era formado por Fred e Alan, jogador recém subido das categorias de base tricolor. Além desses, vale ressaltar o atacante Maicon “Bolt”, jogador vindo de Xerém e uma das grandes esperanças do clube, e também outros jogadores que participaram da campanha do vice-campeonato da Libertadores no ano anterior, como Fernando Henrique e Thiago Neves.
O técnico no início do ano era Renê Simões, porém ele viria a ser demitido logo em março, devido à falta de resultados positivos no Campeonato Carioca. Após a demissão do mesmo, o Fluminense contratou o experiente Carlos Alberto Parreira, que havia sido o treinador do Brasil na Copa de 2006 e que tinha acabado de sair de um trabalho na Seleção da África do Sul.
A COPA DO BRASIL DE 2009
A esperança de uma perspectiva melhor para o Fluminense começava com a Copa do Brasil, competição onde o clube foi campeão em 2007. O primeiro adversário foi o modesto Nacional de Patos, clube paraibano o qual o time carioca não teve muita dificuldade para derrotar, aplicando um placar de 1 a 0 sobre o clube nordestino, com o gol sendo marcado pelo atacante Éverton Santos. Na fase seguinte, o clube enfrentou o também humilde Águia de Marabá, do Pará. O primeiro confronto resultou numa surpreendente vitória do time Paraense por 2 a 1 em Marabá, porém que seria facilmente revertida no Rio de Janeiro com uma sólida vitória por 3 x 0, com destaque à atuação de Maicon, que fizera 2 gols e uma assistência para o lateral Eduardo Ratinho nessa partida.
O adversário do Fluminense seria o Goiás, time perigoso que contava com jogadores lembrados até hoje, como os ídolos Harlei e Iarley e também o zagueiro Rafael Tolói, zagueiro que atualmente joga pela Atalanta, da Itália. O jogo de ida contra o Esmeraldino resultou num empate de 2x2 no Serra Dourada,e levou ao Maracanã um confronto sem favoritos a prosseguir na competição. Entretanto, num jogo tenso e com a regra do gol fora de casa ao seu favor, o tricolor das laranjeiras conseguiu manter um empate de 1x1 no Rio de Janeiro e avançou para a próxima fase do campeonato. Porém essa atuação do clube carioca não satisfez a torcida tricolor, e ficava cada vez mais claro que a tal perspectiva pessimista que o Fluminense tinha com o comando de Renê Simões durante o campeonato carioca não havia mudado muito.
A consolidação dessa ideia negativa foi no confronto das quartas de finais do tricolor carioca, que viria a enfrentar o Corinthians, um clube de patamar maior comparado aos adversários anteriores do Fluminense e que ainda contava com o recém contratado Ronaldo Fenômeno. O jogo de ida no Pacaembu terminou com o placar de 1 a 0 para o Timão, com o gol da partida sendo marcado por Dentinho. Com o tricolor precisando do placar no jogo de volta e entrando motivado, o clube paulista acaba jogando um balde de água fria sobre os cariocas marcando 2 gols nos 16 minutos iniciais de partida, com o zagueiro Chicão e o atacante Jorge Henrique. Precisando de 4 gols para passar de fase, o Fluminense conseguiu fazer apenas 2 gols e foi eliminado da Copa do Brasil. O Corinthians viria a ser o campeão daquela edição do torneio.
O IMPACTO DA ELIMINAÇÃO E O PRIMEIRO TURNO DO BRASILEIRÃO
O Campeonato Brasileiro começou após o jogo de volta das oitavas de final da Copa do Brasil, e o começo do Fluminense durante esse período decente, mantendo uma vitória suada contra o São Paulo por 1 x 0 com um golaço de Maurício e um empate contra o Grêmio Barueri por 0 x 0. Porém, após a eliminação na Copa do Brasil, o tricolor carioca entrou em uma sequência péssima de resultados pelo Brasileirão: Em 16 jogos, o clube conseguiu 2 vitórias, 5 empates e 9 derrotas, se estabelecendo na vice-lanterna da competição. Nesse intervalo de tempo, o treinador Carlos Alberto Parreira foi demitido, após uma derrota de 1 x 0 contra o time do Santo André, e, para o seu lugar no comando tricolor, foi contratado o técnico da campanha do segundo lugar do Fluminense na Libertadores no ano anterior: Renato Gaúcho,, que chegou ao Fluminense com a perspectiva de, não só tirar o time da zona de rebaixamento, mas também preparar um elenco forte para a disputa da copa sul-americana que estava por vir.
O COMEÇO DA SUL-AMERICANO E O DRAMA NO BRASILEIRÃO
O primeiro adversário do Fluminense na competição internacional seria logo uma das equipes mais fortes da competição e o seu maior rival: Flamengo, que naquela época contava com jogadores como Petković e Emerson “Sheik” e que no final de 2009 viria a ser vencedor do Campeonato Brasileiro. O jogo da ida sobre mando tricolor foi de extremo domínio por parte da equipe rubro negra, com diversas chances criadas, porém com uma atuação muito boa do goleiro Rafael e muitos chutes perdidos e na trave sobre o gol tricolor, o time das laranjeiras conseguiu manter um empate por 0 x 0 contra o seu rival, e deixou tudo indefinido para o jogo de volta.
Na segunda partida sobre do Flamengo, o Fluminense conseguiu um pênalti no primeiro tempo, a qual foi convertida pelo atacante Roni, e deixou a equipe numa vantagem muito boa para o restante do embate. Porém o jogo fica mais dramático com o gol do atacante rubro-negro Denis Marques aos 15 minutos do segundo tempo. Desde o gol até o final da partida, o Flamengo manteve claro domínio do jogo e pressionava a defesa tricolor, entretanto, com uma história semelhante ao confronto de ida, a equipe das laranjeiras se fechou muito bem, o goleiro Rafael teve outra grande atuação e o Fluminense conseguiu assegurar um empate de 1 x 1, passando a equipe para a próxima fase graças à regra do gol fora de casa.
Paralelamente ao Fla-Flu na Copa Sul-Americana, o tricolor das Laranjeiras começara o segundo turno de forma péssima, com 3 derrotas e 1 empate, e o time ocupou a lanterna da competição.Essa sequência resultou na demissão de Renato Gaúcho, e após averiguar o mercado de transferências , o Fluminense decidiu contratar o treinador Cuca, que viria a ser um nome importantíssimo para o desenrolar dessa história. Porém o começo do técnico no time carioca não foi o dos sonhos, sabendo que o Flu antes do próximo confronto válido pelo torneio intercontinental acumulara 2 empates e 1 derrota, não conseguindo tirar a equipe da lanterna da competição.
O segundo duelo do Fluminense pela Copa Sul-Americana foi contra a equipe peruana Alianza Atlético, uma equipe mais fraca no papel que o time tricolor, porém que devido as circunstâncias do mesmo no Brasileirão ,acabava sendo uma incógnita, somando isso à goleada sofrida na partida anterior nesse campeonato por 5 a 1 sobre o Grêmio. O jogo de ida no Peru foi de 2 a 2, porém ficou claro a inferioridade tática da equipe da casa comparada ao tricolor das Laranjeiras. Sabendo desses fatores, o Fluminense chegou ao Maracanã com mais confiança e, mesmo com um susto no começo da partida e com boas atuações do atacante Adeílson e de Darío Conca, a equipe brasileira goleia o Alianza Atlético por 4 x 1 e se classifica para as quartas de finais da competição intercontinental.
Entretanto esse clima de comemoração após a vitória sobre a equipe peruana não se repetia no campeonato brasileiro. Durante o intervalo de tempo dos confrontos do Fluminense e do Alianza Atlético, o Fluminense ainda continuava na lanterna do Brasileirão, porém havia conseguido uma vitória de 3 x 2 contra a equipe do Avaí, após 11 jogos sem vencer na competição nacional.
O adversário do Fluminense nas quartas de finais da Copa Sul-Americana foi a tradicional Universidad de Chile, que havia acabado de eliminar o até então campeão da edição anterior desse campeonato, o Internacional. Vindo de um resultado tão surpreendente, a equipe chilena veio embalada para enfrentar um fragilizado Fluminense, que apesar de ter conseguido empates importantes e uma vitória contra equipe do Santo André para a luta contra o rebaixamento, ainda ocupava a “zona da degola”. Após o retorno de Fred, vindo de uma lesão que o deixou fora de atividade por um tempo, o Fluminense chega para o jogo de ida no Maracanã com o objetivo de levar o jogo pro Chile com um placar favorável, e isso acontecia até os 51 minutos de jogo, com 2 gols de Fred sobre o gol da “La U”, sendo o segundo aos 19 segundos do segundo tempo. Entretanto a equipe brasileira cochilou, e facilitou o empate para a equipe chilena, deixando o jogo da volta indefinido, porém com o gol fora de casa a favor da equipe estrangeira. O jogo de volta no estádio Santa Laura foi dramático, porém sendo resolvido pelo craque tricolor Fred, que com um gol de cabeça trouxe a vitória e a classificação para a equipe das Laranjeiras.
O INÍCIO DE UMA REVIRAVOLTA E O CERRO PORTEÑO
Após um empate dramático com a equipe do Goiás, o Fluminense chega para a 32ª rodada na lanterna do campeonato brasileiro em uma situação completamente desesperadora. Segundo diversos matemáticos especializados em calcular situações relacionadas ao Futebol, a probabilidade do Fluminense ser rebaixado para a Série B era de 98%, uma porcentagem praticamente sacramentadora para a queda da equipe carioca. Para reverter esse quadro, o clube precisava adquirir em 7 jogos, 6 vitórias e 1 empate, algo extremamente difícil. Eis que chega o confronto contra a equipe do Atlético MG, um time badalado na competição e que se situava na 3ª colocação, até então se classificando para a Libertadores de 2010. Com a situação dramática do clube carioca, muitos comentaristas, jornalistas e até torcedores colocavam esse confronto de Atlético Mineiro e Fluminense como o último prego no caixão do tricolor carioca. Porém em um duelo dramático e apertadíssimo, o Flu conseguiu a vitória por 2x1 com gols de Fred e Darío Conca. Daí, começou uma sequência de eventos lembrada por todos os torcedores da equipe das Laranjeiras.
Ainda em situação dramática, porém com um pouco mais de confiança após a vitória contra o Atlético MG, o Fluminense partia para Minas Gerais enfrentar o Cruzeiro, outro time que fazia uma campanha muito boa no Brasileirão, se encontrando na 5ª colocação. O primeiro tempo desse jogo foi uma destruição da raposa sobre o tricolor carioca, aplicando um soberano 2 a 0 e que poderia ter sido mais, sabendo que aos 25 minutos de partida o atacante Wellington Paulista perdeu um pênalti. Após o fim da primeira etapa, todos esperavam um Fluminense abalado e resignado com o eminente rebaixamento, entretanto não foi isso que aconteceu.Com uma mudança na proposta de jogo e em uma partida inspirada de Fred, o clube das Laranjeiras conseguiu realizar o improvável e virar o jogo para 3 a 2, tirando o time da lanterna do campeonato e trazendo à todos os torcedores uma fagulha de esperança cada vez maior de se livrar da Série B. Além dessa partida, vale destacar o jogo seguinte do Fluminense, que foi contra o Palmeiras, esse sendo vencido pelo tricolor por 1 x 0 com gol do atacante Fred.
Embalado após três vitórias importantíssimas para a luta contra o rebaixamento, o Fluminense chega para as semifinais da Copa Sul-Americana para enfrentar o Cerro Porteño, do Paraguai, clube considerado mais fraco no papel do que o tricolor. O primeiro jogo foi na “La Olla”, estádio do clube paraguaio, e em um jogo de completo domínio do clube brasileiro, a vitória veio apenas aos 30 minutos do segundo tempo, com gol do artilheiro Fred, fazendo com que o Flu levasse uma pequena vantagem para o Maracanã. Entretanto esse benefício acabaria cedo, sabendo que no segundo jogo a equipe paraguaia, muito mais ofensiva, abriria o placar aos 6 minutos de partida com Cáceres, e faria com que o jogo fosse decidido até então nos pênaltis. Após esse baque, o time carioca partiu pra cima dos paraguaios, porém não conseguia colocar o Fluminense a frente no placar agregado. Eis que, no último minuto de jogo, o zagueiro Gum, que estava no ataque devido ao desespero tricolor, encontra uma bola na área e, “aos trancos e barrancos”, conseguiu empatar a partida e colocar o seu time na frente no somatório. E para completar a festa, Alan aproveita bola recebida por Diogo após escanteio para o Cerro Porteño onde todos os jogadores do “Azulgrana” partiram para o ataque, dribla o goleiro que estava no meio de campo pronto para rebater uma possível bola pra área e , com gol vazio, sacramenta a classificação do tricolor das Laranjeiras para a final da Taça Sul-Americana. Porém o jogo apenas acabou após uma pancadaria generalizada entre os jogadores e membros da comissão técnica do Fluminense contra os da equipe estrangeira, e, depois desse episódio lamentável, aí sim os jogadores da equipe brasileira partiram para comemorar com a sua torcida.
A GRANDE FINAL E O REENCONTRO DE UM FANTASMA ANTIGO
Após uma vitória dramática contra o Cerro Porteño, o tricolor das Laranjeiras esperava o fim da outra partida da semifinal para saber quem seria seu último obstáculo rumo ao título de campeão da Copa Sul-Americana e, por ironia do destino, foi o algoz do clube na última competição internacional que participara: A LDU, do Equador, equipe essa campeã da última Copa Libertadores enfrentando por coincidência na final dessa competição o Fluminense. Os torcedores do tricolor enxergavam esse jogo por duas perspectivas: A chance de uma revanche contra o time que tirou o sonho do Flu de ter sua primeira Libertadores e também com medo da história de 2008 acabar se repetindo. Sabendo disso, a equipe brasileira partiu para o estádio “Casablanca” focado e em busca do título. E começou muito bem, com um gol aos 20 segundos de Marquinho. Entretanto, o time carioca voltaria a enfrentar um antigo inimigo: a altitude de 2,850 metros relativos ao nível do mar em que o estádio de Quito se encontrava. Sem fôlego e psicológico, o Fluminense parou, e possibilitou à LDU o domínio total e devastador da partida, fazendo com que esta terminasse em um placar elástico de 5 a 1 para a equipe equatoriana, levando ao Maracanã uma vantagem homérica. Vantagem essa que acabou sendo comprovada, já que após grande atuação do clube brasileiro e também um apoio imensurável de sua torcida, o Flu mesmo aplicando um elástico placar de 3 a 0, não conseguiu empatar no agregado. Pelo segundo ano consecutivo, o Fluminense perdia a final de uma competição internacional para a LDU.
O FIM DE UMA HISTÓRIA ÉPICA DE UM TIME DE GUERREIROS
Antes do segundo confronto válido pela final da Taça Sul-Americana, o Fluminense havia vencido mais 3 jogos rumo a fuga ao rebaixamento: um sólido 2 x 1 contra a equipe do Atlético Paranaense, um maiúsculo 3 x 0 contra o já rebaixado Sport e um soberano 4 x 0 contra o Vitória, fazendo que o Fluminense chegasse à 15ª colocação do Brasileirão e que apenas dependesse de um empate para escapar da Série B. Sabendo disso, o tricolor carioca partiu para o Couto Pereira enfrentar o Coritiba que dependia de uma vitória para escapar do rebaixamento, sendo notável que a equipe paranaense buscava a fuga a todo custo sabendo que era o centenário do time. O jogo foi muito equilibrado, com as equipes doando tudo de si para garantir a permanência na primeira divisão. Entretanto o placar foi aberto pela equipe carioca, com um chute de fora da área de Marquinho, após um passe de Fred numa cobrança de falta. Porém a reação do “Coxa-Branca” veio logo depois, com um gol de Pereira, após cruzamento de Marcelinho Paraíba. Até o final o jogo foi tenso, com o Fluminense querendo sacramentar sua permanência e o Coritiba buscando reverter esse cenário temerário. Após um segundo tempo dramático, o jogo acabou por 1 x 1 e o tricolor das Laranjeiras acabou garantindo a sua “estadia” na Série A, após uma sequência épica de 7 vitórias e 1 empate em um quadro em que o clube precisava somente disso para continuar na primeira divisão. Esse campanha trouxe ao Fluminense o apelido de “Time de Guerreiros” e é lembrada até hoje como uma das maiores reviravoltas da história do futebol nacional e mundial.
