90 minutos antes da eternidade
O encantador Flamengo e o poderoso River Plate disputam o título mais importante do continente
Como sabemos, a Copa Libertadores da América é o principal torneio de clubes profissionais do continente, sendo um dos de mais prestígio do mundo. Organizada pela Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) desde 1960, a competição que faz homenagem aos principais líderes da independência das nações da América do Sul teve vários formatos diferentes a longo da sua história.
No início, era chamada de Copa dos Campeões da América, onde apenas os campeões nacionais disputavam, e recebeu o nome que tem hoje em 1965. A partir da edição seguinte, os vice-campeões nacionais sul-americanos também passaram a se classificar para a competição. Hoje, cada país tem, pelo menos, quatro representantes, enquanto Argentina e Brasil têm seis e sete clubes disputando a Libertadores, respectivamente. Tradicionalmente, uma fase de grupos quase sempre foi usada, mas o número de times por chave variou por diversas vezes.
No formato atual, o torneio consiste em três fases, com a primeira delas sendo iniciada, geralmente, no fim de Janeiro. As seis equipes sobreviventes da Pré-Libertadores juntam-se aos outros 26 clubes previamente classificados na segunda, na qual existem oito grupos compostos por quatro equipes cada. Os dois melhores de cada grupo vão para fase eliminatória, sendo ela a última da competição, e sempre em jogos de ida-e-volta até as semifinais. Pela primeira vez na história, a decisão será disputada em jogo único, originalmente no Estádio Nacional, em Santiago, no Chile, mas devido às manifestações no país, a partida foi transferida para o Estádio Monumental, em Lima, no Peru. O vencedor da Libertadores se classifica para a disputa da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, como representante da CONMEBOL, e na Recopa Sul-Americana do ano seguinte.
A Copa Libertadores da América de 2019, será decidida entre Flamengo e River Plate. Será a primeira vez que Flamengo e River Plate se enfrentam em uma final de Libertadores, mas ambos já foram finalistas do torneio em outras ocasiões. A equipe brasileira disputou apenas uma final até então, se sagrando campeã em 1981. Já os argentinos alcançaram a decisão em seis oportunidades anteriores, saindo com o título em 1986, 1996, 2015 e 2018.
Após 38 anos de sua primeira e única chegada à final, o clube rubro-negro repetiu o feito nesta edição do torneio. Com um início de competição meio conturbado, sob o comando do técnico era Abel Braga, o clube conquistou 10 pontos na fase de grupos, onde enfrentou o San José (BOL), a LDU Quito (EQU) e o Peñarol (URU). Porém, com uma sequência de jogos onde o desempenho do time não agradou à diretoria e aos torcedores, o treinador brasileiro não suportou a pressão de ambas as partes e pediu sua demissão. Com a saída de Abelão, o treinador português Jorge Jesus assumiu o time no início do mês de Junho e transformou o futebol que vinha sendo jogado pelo Flamengo.
Sob o comando do “gajo”, o time brasileiro começou a jogar um futebol envolvente, com muito volume de jogo e que se fortaleceu ainda mais com os reforços trazidos no meio da temporada como o volante Gerson, o lateral-esquerdo Filipe Luís e o zagueiro espanhol Pablo Marí. Seu estilo de jogo se mostrou presente quando passou pelo Internacional, na fase de quartas de final, e, principalmente, quando o time carioca atropelou o Grêmio na semi-final dominando os jogos de ida e volta contra ambos os times. A conquista da Libertadores para o Flamengo pode representar muitas coisas, como a visibilidade para novos investimentos estrangeiros que podem ver no clube um enorme potencial para se transformarem em um nova máquina de títulos. E pode, também, simbolizar o ínicio de uma nova hegemonia no futebol brasileiro e sul-americano, visto que, o time carioca detém um enorme poder econômico, vem se mostrando cada vez mais entrosado dentro das quatro linhas e muito organizado fora delas.
Em uma entrevista ao Mezzala, Marcelo Peixoto da Silva, torcedor do Flamengo, deu um depoimento a respeito da sensação de poder rever seu time do coração em uma final de Libertadores, desta vez, com seu filho Gabriel Peixoto: “A sensação é maravilhosa. Quando o Flamengo foi campeão em 81, eu tinha 9 anos. Era pequeno, mas mesmo assim vibrei muito com meu pai. Ele era doido pelo Flamengo, assim como eu, mas infelizmente Deus o levou em 1996. Vim de Vila Kennedy, um Bairro muito humilde, então, eu não podia fazer muita coisa por causa da condição financeira. Hoje sou advogado, e tive que trabalhar muito para conseguir o que tenho, isso graças à minha família. Então, hoje, eu poder proporcionar isso ao meu filho, de assistir a uma final de libertadores em outro país e torcer pelo nosso time do coração, é extraordinário. Estou muito feliz e acredito que ele também. Quanto ao palpite, eu não gosto de cantar vitória antes do jogo acabar, mas o Flamengo está jogando um futebol admirável, que eu nunca vi nenhum time do Brasil jogar e, por este motivo, não tenho dúvidas que ele será campeão, e o resultado será 2x0. Como falei acima, o futebol do Flamengo é elogiado por todos. No meu ponto de vista, o Mister (Jorge Jesus) resgatou o futebol brasileiro. O time é incansável na marcação, joga buscando sempre o ataque e se defende muito bem. Ele tira o máximo dos jogares, fica ao lado do campo cobrando a intensidade, a concentração e a seriedade dos jogadores. Nunca vi um Técnico assim. O Flamengo hoje, tem mais prestígio do que a nossa seleção e joga muito mais. Não me lembro de um time que tenha conseguido isso. Na Europa isso é comum, na Espanha não sei fala muito da seleção, e sim do Barcelona ou Real Madrid. Na Alemanha, se fala do Bayern e do Borussia Dortmund. Na Inglaterra, do Manchester City e do Liverpool. Na França, o PSG. E pela primeira vez no Brasil, o Flamengo é que tem mais destaque do que a seleção brasileira. Acho que é isso. Isso aqui é Flamengo. Rumo ao Catar, e Liverpool que se cuide.”
O River Plate também conquistou dez pontos na fase de grupos, onde enfrentou o Internacional, o Palestino (CHI) e o Alianza Lima (PER). Diferentemente do Flamengo, o clube de Belgrano vem mostrando um futebol muito sólido desde Junho de 2014, quando Marcelo Gallardo assumiu. Desde que “Muñeco” tornou-se o treinador do time argentino, foram conquistados nove títulos, incluindo duas Libertadores, sendo uma delas contra o Boca Junior, o seu maior rival. Com números extraordinários, como ao menos um título por ano, Gallardo é dito como o maior treinador de toda a história do clube e, certamente, já é um dos maiores ídolos do time alvirrubro.
O time de Marcelo Gallardo joga um futebol muito vistoso, onde prezam por uma posse de bola inteligente. Jogando em um 4–3–1–2, onde percebemos que no meio-campo se forma um losango, com o volante Enzo Pérez se aproximando dos zagueiros, Ignacio Fernádez e De La Cruz abertos pelos lados e Palacios como meia-atacante, o time faz a maioria dos seus gols em jogadas criadas pelo centro do campo. Seu estilo de jogo ficou muito claro no primeiro jogo da semi-final contra o Boca, onde o River foi dominante durante toda a partida. Se porventura o clube oriundo de Belgrano se sagrar campeão da Copa Libertadores da América de 2019, pode-se afirmar que o título representaria a consolidação de uma nova soberania no futebol da América do Sul, visto que, já são três finais nos útimos cinco anos, sendo essa a segunda consecutiva e que o time de “Muñeco” está cada vez mais entrosado e experiente em competições que existem a fase de mata-mata.
O treinador do atual campeão da Libertadores não escondeu o time que mandará para campo, escalando; Armani, Montiel, Lucas Martínez, Pinola, Casco, Enzo Pérez, Ignacio Fernández, Palacios, De La Cruz, Borré e Matías Suárez.
Mister, por sua vez, também não fez mistério, e escalou o melhor que o Flamengo pode oferecer; Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí, Filipe Luís, Arão, Gerson, Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel.
O jogo começa às 17h no horário de Brasília, e será eletrizante desde o primeiro segundo. Vejo dois times com propostas parecidas, mas o time brasileiro leva vantagem pelos talentos individuais, como Bruno Henrique, Gabriel, Arrascaeta e Éverton Ribeiro. Entretanto, não podemos esquecer que estamos diante de uma final de Libertadores, onde se encontram os dois melhores times da América, sendo um deles o River. Sim, o gigante de Buenos Aires. O atual campeão está, mais uma vez, na final. Desta vez, mais experiente e sabendo cada vez mais como jogar essa competição. Pelo fato de ser um jogo único, onde não haverá a pressão de jogar no Maracanã, e pela capacidade de reverter situações desfavoráveis que Gallardo já demonstrou, vejo o River como favorito para ser o campeão. Aposto em um jogo muito equilibrado, com ambos os lados sendo extremamente cautelosos na construção de jogadas, pois todos dentro das quatro linhas sabem que qualquer erro pode ser fatal em um jogo como esse. Acredito que pela experiência o time argentino vencerá por 2 a 1.
