A “Black Culture" toma conta do Super Bowl
Show de intervalo é composto apenas por lendas do Hip Hop; Eminem faz gesto antirracista em homenagem a Colin Kaepernick
A black culture (cultura negra na tradução literal) invadiu a NFL no dia 13 de fevereiro. No último domingo, ocorreu a partida do Super Bowl entre Cincinnati Bengals e Los Angeles Rams em Los Angeles, e um dos pontos altos da noite foi o show de intervalo, marcado pela presença de Dr. Dre, Kendrick Lamar, Snoop Dog, Mary J. Blidge, Eminem e participação especial de 50 Cent.
Foi a primeira vez, depois de 55 edições de Super Bowl, que o show de intervalo teve a sua playlist inteiramente composta por raps, sendo considerada por muitos a apresentação mais icônica da história do Super Bowl. Até o ano passado, rappers só tinham aparecido nos shows como uma espécie de featuring para as atrações principais.
A NFL implorou para que os artistas alterassem um pouco as letras por ser um gênero marginalizado e com grande risco de desaprovação do público elitista branco. Os rappers aderiram ao pedido da liga e fizeram algumas mudanças, mas mantiveram uma playlist com mensagens fortes contra a violência policial, e a forma como a população negra é tratada.
O momento que causou mais repercussão na noite ocorreu durante a performance de Eminem que, após cantar um dos seus maiores sucessos, “Lose Yourself" (música do filme “8 Mile", protagonizado pelo próprio artista), realizou o ato de se ajoelhar em referência a Colin Kaepernick, ex-jogador da NFL que criou e popularizou o gesto tão criticado pela extrema-direita norteamericana.
Quem é Colin Kaepernick?
Esportivamente falando, Colin Kaepernick é um ex-quarterback da NFL. Ele atuou no San Francisco 49ers durante o período de 2011 a 2016 e chegou a jogar o Super Bowl em 2013. Nas mãos de Kaepernick, os niners provavelmente já teriam conquistado um título nos últimos anos, já que o fator que mais incomoda a equipe é a falta de um bom QB1. Mas Colin Kaepernick significa muito mais que um ótimo jogador.
Caso Kaepernick
Em 2016, em um jogo de pré-temporada jogando pelos 49ers, Kaepernick se ajoelhou durante o hino nacional americano, que é reproduzido antes das partidas iniciarem, se recusando a cantar o mesmo. O ato era uma forma de protesto pacífico contra a violência policial sobre os negros e a discriminação racial presente no país.
O gesto causou muita polêmica nos Estados Unidos e nas mídias esportivas, dividindo a opinião popular: alguns alegavam ser um desrespeito à bandeira e nação americana, enquanto outros se viam do representados e compreendiam os problemas sociais graves levantados pelo protesto.
Com a repercussão negativa do outrora presidente Donald Trump, o qual era veementemente contra o ato durante o hino, ele fez com que a NFL decidisse punir a franquia ou os jogadores que se ajoelhassem.
Após os episódios de protesto, Kaepernick ficou sem contrato e se encontra até hoje no status de free agency, já que nenhuma franquia quis comprar sua luta e de vários outros jogadores, já que a NFL possui, em sua maioria, jogadores negros. Colin se juntou a Nike como rosto da campanha “Believe in something. Even it means sacrificing everything” (Acredite em algo. Mesmo que signifique sacrificar tudo).
Seu gesto de se ajoelhar durante o hino se tornou um símbolo da luta contra a discriminação racial usado no mundo todo por jogadores de outras ligas mundialmente relevantes como NBA, Premier League entre outras.
Indicação:
Em 2021, a Netflix lançou a série “Colin in Black and White” (Colin em Preto e Branco). A série é narrada pelo próprio Colin, mas focada na época de sua adolescência, momento em que começa a abraçar sua cultura e ao mesmo tempo descobre que está crescendo em um sistema que a desvaloriza e desfavorece a sua raça.