A iconoclastia no antagonismo de Conte

Antonio Conte era pintado como o grande elemento antagônico da Juventus, e não é bem assim que a história está sendo escrita nesta temporada

CaiN
Mezzala
5 min readNov 11, 2020

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Foto: Getty Images

A história é, muitas vezes, contada por aqueles que triunfam. Antonio Conte é um destes que tem o nome marcado no panteão mais nobre do futebol, somando seus títulos como jogador e como técnico. Durante o ano de 2019 Conte aceitaria o que viria ser seu maior desafio não só externo: como profissional, mas também interno: como torcedor e ídolo da torcida Bianconeri.

O italiano havia sido contratado com um único objetivo: tornar a Inter de Milão o principal elemento antagônico da Juventus de Maurizio Sarri.

Por pouco, não teve êxito logo em sua primeira temporada. Apesar de manter os Nerazzuri figurando com a melhor defesa e segundo melhor ataque, os comandados de Conte perderam os dois confrontos diretos contra a Velha Senhora. Pontos que, lá na frente, fizeram falta.

Com um mísero ponto de diferença, Antonio Conte viu o, nada badalado, técnico Maurizio Sarri sagrar a Juventus eneacampeã, seguida, da Liga Italiana.

Maurizio Sarri e Antonio Conte | Foto: imagephotoagency.it

Após ser vice-campeão na Serie A e na Uefa Europa League em sua primeira temporada, a expectiva cresceu ainda mais. A chegada de Achraf Hakimi, a volta de Ivan Perisic após empréstimo com atuações positivas pelo o Bayern, Nainggolan, as boas oportunidades de mercado com: Vidal e Kolarov, além da contratação de Matteo Darmian, foram motivos para alegrar não somente a torcida, mas também o técnico que — publicamente — já reclamou da qualidade e quantidade dos jogadores.

Porém, a Inter não está respondendo da maneira que era esperado. A falta de criatividade e equilíbrio são aspectos que, constantemente, são trazidos para debate quando é falado da equipe treinada por Antonio Conte.

É possível notar uma queda estatística nos números gerais da Inter se comparados com os das sete primeiras rodadas da temporada passada:

2019/2020: Após 7 jogos a Inter possuía o 3º melhor ataque e a melhor defesa da Itália, com 6 vitórias e 1 derrota.

2020/2021: Após 7 jogos a Inter possui o 5º melhor ataque e a 7ª melhor defesa da Itália, com 3 vitórias, 3 empates e 1 derrota.

de Vrij, Skriniar e Godín | Foto: Gazetta

Formando uma linha defensiva que, pelo menos inicialmente, proporcionava inveja aos rivais, o trio defensivo formado por: Skriniar, de Vrij e Godín já foi desmontado após a primeira temporada.

Bastoni, D’Ambrosio e Kolarov são os nomes que mais rotacionam entre a defesa titular da equipe.

Dos três primeiros citados: de Vrij é o único com 90 minutos de média. Tendo jogado 450 minutos nos cinco jogos que participou. Skriniar participou de somente três, dos sete primeiros da equipe, totalizando 259 minutos. Godín passou a ser parte do plantel do Cagliari durante a última janela de transferências.

Esta mudança repentina no setor defensivo pode ser um dos fatores da queda de rendimento da Inter não só na Serie A, mas também na Liga dos Campeões.

Nas primeiras três rodadas da maior competição de clubes do mundo, os Nerazzuri não venceram nenhum jogo. Somaram dois empates e uma derrota. Nestes três jogos a linha defensiva não foi repetida nenhuma vez.

Assim como na edição anterior, Conte vê a classificação ameaçada, desta vez podendo ficar longe até da vaga à Liga Europa.

A esperança da Inter de Milão depositada em Nicolò Barella | Foto: Inter.it

Ao contrário da defesa, o meio-campo da Inter dá motivos para ainda acreditar numa melhora exponencial e progressiva da equipe. Nomes como o de Nicolò Barella, Marcelo Brozović, Arthuro Vidal, Stefano Sensi, Christian Eriksen — apesar dos apesares — e Radja Nainggolan formam um dos setores centrais mais potentes da Itália e da Europa.

Já o ataque há um abismo tão grande quanto a defesa. A efetividade do setor ofensivo da equipe está diretamente conectada a um jogador: Romelu Lukaku. Em 8 jogos, contabilizando Serie A e UCL, são 7 gols em 8 jogos. O belga é a principal arma de Antonio Conte. Apesar do empate, sem gols, contra o Shakthar, Lukaku foi o grande gerador de jogadas da equipe.

Lukaku frustado durante a partida contra o Shakthar | Foto: AP

Durante a derrota para o Real Madrid na 3ª rodada, a falta de Lukaku ficou ainda mais evidenciada. A infamiliaridade de Perisic com o sistema de Conte, as falhas defensivas e o isolamento de Lautaro Martínez fizeram com que a Inter, apesar de ainda tirar dois gols da cartola, fizesse uma partida para esquecer.

Vindo de uma derrota na Liga dos Campeões e um empate nada animador, contra a Atalanta, a Inter de Milão se encontra numa espécie de limbo. As atuações não são empolgantes, a equipe não parece ter progredido em relação à temporada passada e o período pandêmico dificulta ainda mais pela influência sobre as finanças do clube.

Se na temporada passada Antonio Conte era o grande candidato para ser o elemento antagônico da Juventus durante anos, hoje o italiano caminha, nem tão lentamente assim, para cada vez mais distante deste título.

O iconoclasta é aquele que destrói símbolos. Neste caso, a narrativa do herói em ascensão vai sendo desconstruída. Só basta saber se o iconoclasta é o próprio Conte, ou a própria Inter.

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CaiN
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