A mudança necessária no comando do Barcelona foi finalmente realizada
Quique Setién assume o clube catalão após a demissão tardia de Ernesto Valverde
Quique Setién é o novo treinador do Barcelona. O ex-treinador do Real Bétis foi anunciado nas redes sociais do clube catalão logo após o anúncio da demissão de Ernesto Valverde, que estava na berlinda após a derrota por 3–2 para o Atlético de Madrid na semifinal da Supercopa da Espanha.
Com Valverde, o Barcelona ficou marcado pelas grandes viradas na Champions League, não a favor, mas contra. O Barcelona viveu anos de abandono de sua filosofia, com um futebol medroso, fraco e totalmente dependente de Lionel Messi. A mudança de treinador já era necessária desde a temporada anterior, mas chega em um momento crucial para o resto da temporada.
Em sua primeira temporada, Ernesto Valverde já tinha um enorme desafio: encontrar alguém para o lugar de Neymar. Ousmane Dembélé e Phillipe Coutinho foram contratados por valores astronômicos. Juntos, os dois custaram 270 milhões de euros. O resultado foi péssimo. Hoje, Dembélé ainda veste a camisa do Barcelona, mas está longe de ser titular, enquanto Coutinho teve um desempenho tão ruim que foi emprestado para o Bayern com opção de compra.
Embora tenha conquistado a Copa do Rei e La Liga, Valverde passou por um vexame histórico na Champions League. Após vencer a Roma por 4–1 no Camp Nou, o Barcelona foi destruído na Itália. Apenas dois chutes catalãs chegaram ao gol de Alisson, enquanto a Roma marcou três gols em Ter Stegen. Essa seria apenas uma das viradas vergonhosas sofridas pela equipe de Ernesto Valverde, treinador que quando tem o seu time engolido pelo adversário, não sabe o que fazer, e acaba tomando péssimas decisões que só pioram a equipe, como colocar André Gomes no lugar de Iniesta nesta partida.
Na temporada seguinte, o Barcelona levou mais uma vez La Liga para casa, mas perdeu para o Valencia na final da Copa do Rei por 2–1. Mais uma vez, o maior vexame da temporada aconteceu na Champions League, e este foi pior que o da temporada anterior.
O Barcelona havia vencido o Liverpool por 3–0 no Camp Nou, e esperava um jogo difícil em Anfield, mas não o que aconteceu. Foram quatro gols para o Liverpool e zero para o Barcelona. No intervalo, quando o jogo estava apenas 1–0 para o Liverpool, Jordi Alba estava totalmente desestabilizado, e seu treinador nada fez para mudar a situação. Os jogadores estavam totalmente abatidos pelo péssimo primeiro tempo que fizeram, e Valverde passava instruções que não eram necessárias. Tudo é isso visto no documentário “Matchday”, mostrando a temporada do Barcelona. Sem um treinador para instruir os jogadores a ter a cabeça no lugar, a desatenção atingiu o seu auge no quarto gol do Liverpool, quando o goleiro e os defensores falavam e reclamavam antes da batida de escanteio que já havia sido autorizada, e Alexander-Arnold, que tinha um treinador em seu time, cruzou para Origi sacramentar a classificação do Liverpool para a final.
Na atual temporada, o Barcelona chega ao limite de sua paciência com Ernesto Valverde, que tinha apoio dos jogadores, mas não dos torcedores. Após uma série de resultados ruins, como o 0–0 com o Real Madrid no Camp Nou dominado pelos merengues, o empate de 2–2 com o Espanyol que mostrou mais uma vez a falta de capacidade de Valverde de trabalhar em situações difíceis de jogo (De Jong havia sido expulso com o Barcelona vencendo por 2–1) e com a eliminação na Supercopa da Espanha na derrota por 3–2 contra o Atlético de Madrid, quando o Barcelona mais uma vez permitiu uma virada inacreditável, a diretoria catalã foi em busca de nomes para substituir Valverde.
Após uma possível negativa de Xavi Hernández, ídolo do clube e atual treinador do Al-Sadd, Quique Setién foi o escolhido para assumir o posto de técnico do Barcelona.
Ao chegar no meio da temporada 19/20, Setién deverá trabalhar para resolver grandes problemas no Barcelona, sendo a lesão de Luis Suárez o maior deles. É possível que o Barcelona ainda demore um pouco para se adaptar totalmente ao estilo do novo treinador, que segue uma filosofia próxima de Johan Cruyff.
Com a janela de transferências aberta, é natural e necessário que o Barcelona vá atrás de um substituto para Suárez.
Lautaro Martínez é um dos favoritos do Barcelona para assumir a posição de Suárez. Além de já ter jogado com Messi na seleção argentina, o atual jogador da Internazionale vive um excelente momento em seu clube, tendo marcado 15 gols em 24 jogos na atual temporada. A negociação com a Inter é bastante difícil, mas o clube catalão pode tentar envolver Arturo Vidal, que interessa aos italianos, na compra de Lautaro.
A chega de Setién pode trazer também uma sensatez maior na política de transferências.
Algumas péssimas contratações marcaram a era Valverde no Barcelona, principalmente com a quantidade exorbitante de flops. Das contratações da primeira temporada, apenas Nélson Semedo continua frequentando o time titular, enquanto as outras e seus valores enormes ainda não se explicam, como a compra de Paulinho por 40 milhões de euros, jogador que pouco rendeu no Barcelona. Coutinho e Dembelé pelo menos foram jogadores que chegaram com expectativas altas, mas não responderam bem ao clube. Na temporada 18/19, Malcom chegou por 41 milhões de euros, não rendeu e já foi vendido ao Zenit na temporada 19/20 por 40 milhões. Prejuízo para o Barcelona, assim como os empréstimos sem sentido de Boateng e Murillo. Jogadores como Arthur, Vidal e Lenglet são importantes para o Barcelona, embora o brasileiro tenha sido contratado com uma expectativa ainda maior. Em 19/20, Griezmann chegou por um alto valor, mas pelo menos vem jogado bem e sendo um dos principais jogadores da equipe, assim como Frenkie de Jong, que também deve ter tudo para evoluir com Quique Setién. Os valores de Neto foram até altos para um goleiro reserva, Júnior Firpo foi uma boa contratação para a reserva de Jordi Alba, além de ter experiência com o futuro treinador, Emerson foi emprestado ao Bétis e Cucurella foi emprestado ao Eibar.
Setién tem o Barcelona de Cruyff como inspiração para o seu trabalho como treinador. Agora, ele poderá aplicar no Barcelona o bom trabalho no Bétis na temporada 17/18 que rendeu ao clube uma classificação para a Europa League. Sabendo que agora ele está em um clube que apoia sua ideia de jogo e tem Cruyff como base para tudo, Quique Setién pode ter um bom final de temporada no Barcelona e talvez um futuro promissor também.
As jogadas do Real Bétis partiam do goleiro Adán, e os zagueiros desciam o máximo possível para ajudar na criação. Javi Garcia se postava entre Fedal e Mandi para reproduzir uma saída Lavolpiana com os laterais bastante abertos e prontos para atacar, assim como utilizado por Pep Guardiola no Barcelona. Sempre com a linha alta, o Bétis se expôs ao risco, mas com um elenco melhor e mais forte, esse risco pode diminuir para Setién.
Com o recuo de Busquets, a bola circularia entre os zagueiros, e com os laterais avançando, a jogada passaria para Xavi, posicionado entrelinhas (adversários em branco) para continuar a criação das jogadas.
No Bétis, Guardado e Fabián tinham liberdade para se posicionarem aonde quisessem, o que dificultava a marcação adversária. Isso dá confiança para os jogadores em campo, algo que Setién prioriza. Fabián Ruiz, hoje no Napoli, seria uma ótima contratação para o Barcelona, já que Rakitić não está perto do nível alto que já esteve e Vidal pode sair para a Internazionale. Assim, Fabián chegaria até os pontas e jogaria até próximo ao atacante.
Os pontas e os laterais do Bétis funcionavam em conjunto. Cristian Tello e Joaquín desciam o campo para ajudar na construção com os laterais, e quando Durmisi e Barragán já estavam avançados, os pontas caiam de fora para dentro enquanto os laterais davam amplitude. O atacante, Sergio León, era o homem que espera recuado até a hora certa de avançar e receber a bola de Fabián ou dos pontas.
A chegada de Setién representa a retomada do modelo Johan Cruyff de pensar o futebol. Agora, o Barcelona deve voltar a usar sua academia de base, La Masía, que formou jogadores como Messi, Xavi e Iniesta e recentemente tem sido pouco utilizada. Com Valverde, por exemplo, jogadores como Aleñá e Riqui Puig foram pouco utilizados, e até Ansu Fati e Carles Pérez, que se apresentaram bem na atual temporada merecem mais tempo de jogo. Mesmo sem o brilho do passado, La Masía forma bons jogadores, como o próprio Puig e Álex Collado, que foram escanteados por Valverde. Portanto, fica claro que a diretoria do clube deve abrir os olhos para a sua academia, assim como Setién.
Para a próxima metade da temporada, Setién deverá tentar aplicar com a maior rapidez possível a sua metodologia, e com a familiaridade de jogadores como Messi, Busquets e Piqué com o modelo de jogo, tudo pode ficar mais fácil. Frenkie de Jong não jogou exatamente em um jogo posicional guardiolista, mas no Ajax, sob comando de Erik ten Hag, fez parte de uma equipe que praticou o Futebol Total de Rinus Michels e Johan Cruyff.
Sem Valverde, o Barcelona tende a melhorar, ainda mais com Quique Setién, um treinador que respeita e segue o modelo do clube.
Depois de um grande jogo que terminou com a vitória por 4–3 do Bétis de Setién no Camp Nou, Sergio Busquets decidiu dar um presente ao seu novo treinador.
