Campeões de Champions: Bayern de Munique 12/13

No ano de sua tríplice coroa, a equipe Bávara conquistou a Europa com muita verticalidade e pressão nos adversários

João Terra
Mezzala
12 min readMay 22, 2020

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Time da Allianz Arena levantou a “orelhuda” pela quinta vez na história (Foto: dfb.de)

O Bayern da temporada 2012/2013 está marcado na história. Campeão das três principais competições que disputou (Bundesliga, Copa da Alemanha e, claro, Champions League), o time dirigido por Jupp Heynckes teve uma campanha marcada por goleadas em gigante e clássico na final.

Seu último título de Champions tinha sido na temporada 2000/2001, quando derrotou o Valencia nos pênaltis, por 5 a 4 — com a bola rolando, os times ficaram empatados em 1 a 1.

Na temporada anterior à do título que será contado um pouco mais aqui, o Bayern também chegou à final, mas foi vencido pelo Chelsea, novamente nos pênaltis, por 4 a 3.

Dessa vez, foi diferente. O time da Baviera conquistou a Europa e encerrou a era Heynckes — foi a última temporada com o alemão no comando —, que durou duas temporadas, da melhor maneira possível.

Como jogava o Bayern de Heynckes?

Time base do Bayern na temporada 12/13

A equipe alemã tinha pontos bastante destacáveis e características marcantes. Quando estava com o domínio da bola, trocava poucos passes entre zagueiros e volantes (posse de bola vertical) e buscava rapidamente os jogadores de lado (laterais e pontas), para realizarem tabelas rápidas, geralmente com toques de primeira. Ao ocupar zonas mais próximas da meta adversária, os bávaros invadiam a área com o máximo de jogadores possível, dando sempre opções de cruzamento a quem chegasse à linha de fundo, o que acontecia com frequência. Outra forma de finalização das jogadas eram os chutes de média e longa distâncias, principalmente com Toni Kroos, especialista nesse quesito. Enfrentando adversários mais fechados na defesa, a individualidade de Franck Ribéry era fundamental, e o francês tinha liberdade para buscar jogadas em vários setores o campo. O camisa 7, com 30 anos na época, foi eleito o melhor jogador daquela edição da Champions League.

Ao perder a bola, os jogadores do Bayern realizavam uma pressão pós-perda bem agressiva, sempre tentando tirar as opções de condução e passe dos adversários e recuperando a posse o mais rápido possível. Ao reconquistá-la, partia para contra-ataques muito velozes, com os homens ofensivos se movimentando constantemente para dar opções ao portador da bola.

Organização defensiva do Bayern na temporada 12/13

Em fase defensiva, o Bayern se baseava em um 4–4–2 para organizar os encaixes individuais por todo o campo — sem a bola, cada um perseguia um oponente. Nesse tipo de marcação, o volante Javi Martínez se destacava, pois, na temporada anterior, foi treinado por ninguém menos que Marcelo Bielsa, grande adepto dos encaixes longos. O camisa 8, na época, tinha o status de contratação mais cara da história da Bundesliga, comprado do Athletic Bilbao por 40 milhões de euros.

Fase de grupos

O Bayern dividiu o grupo F com Valencia, Bate Borisov e Lille. Os bávaros estrearam em casa, contra o Valencia, e abriram dois gols de vantagem com Schweinsteiger e Toni Kroos. Aos 46 do segundo tempo, o time espanhol diminuiu a vantagem alemã com Haedo Valdez. Os mandantes ainda tiveram a oportunidade de fazer mais um gol, no minuto seguinte, quando Robben foi derrubado pelo zagueiro Rami dentro da área. Porém, Diego Alves defendeu a cobrança de Mandžukić.

No primeiro jogo fora de casa, o Bayern foi surpreendido pelo Bate Borisov, da Bielorrússia, que conseguiu ser muito eficiente com seus contra-ataques, desorganizando as perseguições individuais dos alemães. Pavlov e Rodionov abriram dois gols de vantagem. Nos minutos finais, Ribéry descontou para o Bayern, mas Renan Bressan, brasileiro naturalizado bielorrusso, confirmou a zebra, e o placar final foi 3 a 1.

Na terceira partida, os comandados de Jupp Heynckes enfrentaram o Lille, na França, e conquistaram uma vitória magra. Com 18 minutos de jogo, o capitão Philipp Lahm foi derrubado pelo lateral-esquerdo Lucas Digne na grande área. Thomas Müller cobrou rasteiro, à esquerda, tirando as chances do goleiro Landreau, que pulou para o lado contrário.

(Foto: bavarianfootballworks.com)

Na Alemanha, o Bayern massacrou a equipe francesa. Com apenas 32 minutos, o time da casa já vencia a partida por 5 a 0. Schweinsteiger, Robben e Pizarro, com um hat-trick, marcaram na primeira etapa. No metade final do jogo, Kalou acertou um belo chute de canhota no ângulo esquerdo de Neuer, e Kroos fez o último da partida, com o placar final de 6 a 1.

Com o Valencia como mandante, o Bayern não soube aproveitar completamente a vantagem numérica que conseguiu após Barragán entrar duramente em Alaba e ser advertido com a expulsão, aos 33. Já no segundo tempo, com 31 minutos, Feghouli invadiu a área bávara e chutou, contando com um desvio em Dante para tirar Manuel Neuer da jogada. Cinco minutos depois, Müller aproveitou a sobra na área espanhola e marcou o gol do empate, que permaneceu até o apito final.

Já classificado para a fase seguinte, a equipe bávara recebeu o Bate Borisov na Allianz Arena e confirmou o favoritismo, ao contrário do que aconteceu na Bielorrússia. No primeiro tempo, Mario Gómez — recém voltado de uma lesão no tornozelo, que o afastara de campo por mais de três meses — abriu o placar. No começo da segunda etapa, Jérôme Boateng entrou exageradamente com um carrinho em Rodionov e acabou expulso. Apesar da vantagem numérica por parte dos visitantes, o Bayern ampliou a vantagem com Müller, Shaqiri e Alaba. Filipenko marcou o gol de honra dos bielorrussos, e o resultado da partida terminou 4 a 1 para o time de casa.

Oitavas de final

O primeiro adversário nos mata-matas foi o Arsenal. A equipe inglesa se classificou em segundo lugar no grupo B, onde o Schalke 04 foi o líder. Na primeira jornada, Toni Kroos abriu o placar aos seis minutos, com um chute de primeira no contrapé de Szczęsny, após cruzamento de Thomas Müller. O autor do gol, inclusive, teve uma ótima atuação, levando muito perigo em zonas entrelinhas e com chutes perigosos de fora da área. Com vinte minutos de jogo, Kroos cobrou escanteio na cabeça de Van Buyten. O goleiro polonês espalmou, e Müller marcou no rebote.

Já na segunda etapa, os Gunners descontaram com Podolski, de cabeça, após uma soma de erros individuais na cobrança de escanteio de Wilshere. O Bayern explorava constantemente o lado esquerdo da defesa do Arsenal — que contava com o zagueiro Vermaelen improvisado na lateral, por conta da lesão do titular Gibbs e de não poder escalar o recém contratado Monreal em partidas da Champions, já que o espanhol havia jogado a competição nessa temporada pelo Málaga — e, com 32 do segundo tempo, Lahm chegou à linha de fundo e cruzou rasteiro para Mandžukić fazer o terceiro e confirmar a vitória dos visitantes.

Toni Kroos comemorando seu gol contra o Arsenal (Foto: Reuters)

Três semanas depois, a equipe londrina entrou com tudo pela classificação. Logo aos dois minutos, o time de Munique falhou na organização de seus encaixes individuais, o que foi fatal: Ramsey recebeu livre na intermediária e passou para Rosický, que rolou de primeira para Theo Walcott. O camisa 14 cruzou forte para a pequena área, e Giroud abriu o placar. O Bayern passou a monopolizar a bola e buscava um gol para aliviar sua situação, apesar da vantagem no placar agregado. O time não contou com Ribéry — fora por lesão no ligamento — e explorou ainda mais os chutes de fora da área de Toni Kroos. O meio-campista tentou quatro vezes, mas nenhum entrou.

O jogo permaneceu neste cenário até os 39 do segundo tempo, quando Santi Cazorla cobrou um escanteio pela direita, e Koscielny venceu a disputa aérea com Javi Martínez, marcando o segundo do Arsenal. Os Gunners continuaram buscando o terceiro gol, mas esse foi o resultado final. Apesar do empate na soma dos placares dos dois jogos (3 a 3), o Bayern se classificou por ter marcado um gol a mais fora de casa.

Quartas de final

O próximo adversário foi a Juventus. A equipe italiana defendia uma invencibilidade de 18 jogos consecutivos em competições europeias, sendo nove como visitante. Seria o encontro do melhor ataque da competição (Bayern), com 18 gols marcados, com a melhor defesa, a da Juventus, que sofreu apenas quatro gols.

No confronto de ida, realizado na Alemanha, o Bayern entrou com bastante pressão e agressividade no campo adversário desde o primeiro minuto, e com impressionantes 24 segundos, Alaba chutou de bem longe e contou com o desvio sutil no pé de Arturo Vidal, suficiente para tirar do goleiro Buffon. No minuto 15, Toni Kroos precisou ser substituído, por conta de uma lesão na virilha que o afastaria do restante da temporada. Foi uma perda significante, pois o meio-campista fazia uma excelente competição e era fundamental nas fases de construção e finalização bávaras.

Os italianos tentaram reagir, buscando jogadas pelo lado direito, com infiltrações de Vidal e Lichtsteiner, mas sem sucesso. Quem alterou o placar mesmo foi o Bayern, que ampliou com Müller, aos 17 minutos da segunda etapa. Os alemães foram ao segundo jogo com uma vantagem de dois gols.

Jogadores do Bayern comemorando contra o goleiro Buffon (Foto: ESPN)

Na semana seguinte, na Itália, o Bayern fez sua primeira partida sem contar em definitivo com Kroos. O holandês Arjen Robben o substituiu, entrando aberto pela direita, o que deslocou Thomas Müller para o meio. Essa alteração deixou o time ainda mais vertical, pois o antigo titular tem a característica de cadenciar os ataques, e o novo dono da posição aproxima-se bastante do centroavante Mandžukić, o que fez aumentar a presença na área adversária do Bayern. Com isso, Ribéry passou a ter um papel mais importante na construção dos ataques e, muitas vezes, voltava à base da jogada para buscar a bola.

Aos 18 minutos do segundo tempo, Javi Martínez desviou a falta cobrada por Schweinsteiger. Buffon defendeu, mas Mandžukić aproveitou o rebote para abrir o placar no Juventus Stadium. Claudio Pizarro entrou no lugar do autor do primeiro gol e marcou o segundo em um chute cruzado, após receber em profundidade de Schweinsteiger. Com o placar agregado de 4 a 0 a favor, o Bayern se classificou e passou a estar entre os quatro melhores times da Europa.

Semifinal

A um passo da finalíssima, o Bayern encarou o Barcelona, em um duelo que deixava uma grande expectativa em todo mundo. Dois gigantes do cenário mundial frente a frente para decidir quem jogaria contra o vencedor de Borussia Dortmund x Real Madrid — coincidentemente, os grandes rivais de Bayern e Barça, respectivamente.

O primeiro jogo aconteceu na Alemanha. Os espanhóis monopolizaram a posse, mas não encontraram muitos espaços para explorá-la. Os bávaros tiveram uma excelente atuação defensivamente. O trio de meias (Robben, Müller e Ribéry) acompanhava as jogadas até o fim, com muita disposição para a marcação. Javi Martínez e Schweinsteiger foram excepcionais na proteção das zonas entrelinhas (as preferidas de Lionel Messi, que foi completamente anulado), e Dante também se destacou na proteção da área, com interceptações. Aos 24, após cabeçada do zagueiro brasileiro, Thomas Müller abriu o placar com outro toque de cabeça.

Com apenas três minutos da segunda etapa, Robben cobrou escanteio pela direita e Müller escorou com a cabeça para Mario Gómez apenas empurrar a bola para o gol de Víctor Valdés, já vendido no lance. Aos 26, Ribéry recuperou a bola praticamente dentro da área de Neuer e puxou um contra-ataque impressionante, com a cara do time de Heynckes. A jogada terminou em Robben, que driblou o lateral-esquerdo Jordi Alba e tocou no canto direito de Valdés, fazendo o terceiro do Bayern. Faltando dez minutos para o término da partida, Alaba atacou a área culé e cruzou para Müller fazer seu segundo gol, o quarto dos bávaros, e sacramentar o placar elástico. 4 a 0, e uma imensa vantagem para a segunda partida.

Foi a terceira vez em que as equipes se enfrentaram na Champions (Foto: trivela.com)

No confronto de volta, no Camp Nou, com o Bayern já tendo uma gigantesca vantagem no placar agregado, o Barcelona não contou com seu grande craque, Lionel Messi. O argentino estava com uma lesão muscular, e já no jogo de ida se sacrificou para estar em campo. Fàbregas foi escalado no lugar do camisa 10, mas a alteração não surtiu efeito.

O Bayern foi melhor mais uma vez contra os espanhóis — com destaque para Bastian Schweinsteiger, que soube conduzir, controlar e pausar o jogo dos visitantes — e, novamente, utilizou os contra-ataques de forma fatal. No terceiro minuto da segunda etapa, Alaba encontrou Robben em um lançamento longo. O holandês finalizou de sua maneira preferida: conduziu para sua perna esquerda e chutou no canto direito de Víctor Valdés. Já aos 26, Luiz Gustavo acionou Ribéry em profundidade, e o francês cruzou para o meio da área. O zagueiro Gerard Piqué tentou afastar, mas a bola bateu em sua perna e parou no fundo do próprio gol. Três minutos depois, Ribéry invadiu a área novamente pelo lado esquerdo e cruzou na segunda trave para Müller fazer o último da partida. Com impressionantes 7 a 0 na soma dos placares, o Bayern conquistava a classificação para sua segunda final consecutiva de Champions League.

Der Klassiker na grande final

Pela primeira vez na história, dois times alemães se enfrentariam na decisão da principal competição entre clubes do mundo. Depois de passar pelo Real Madrid na semifinal, o Borussia Dortmund voltaria a uma final de Liga dos Campeões após 16 anos, quando conquistou o título contra a Juventus, na temporada 96/97.

No Estádio de Wembley, na Inglaterra, o time de Jupp Heynckes enfrentaria a equipe comandada por Jürgen Klopp, que tinha como características principais a pressão pós-perda e a forte imposição ao portador da bola adversário. Em fase ofensiva, contava com um trio em brilhante fase: Marco Reus, Robert Lewandowski e Mario Götze. Porém, o último não pôde ser escalado na final, por conta de uma ruptura muscular na coxa esquerda, sofrida contra o Real Madrid, no Santiago Bernabéu. Inclusive, Götze faria sua última partida com a camisa aurinegra, pois o meia já estava vendido, justamente para o Bayern.

Marco Reus e Jérôme Boateng em dividida (Foto: Laurence Griffiths)

Nos primeiros 45 minutos, foi perceptível uma maior valorização da posse por parte do Bayern, mas sem perder suas características de ataques rápidos pelos lados. Bastian Schweinsteiger, na maioria das jogadas, baixava até os zagueiros para auxiliar a saída de jogo — principalmente lateralizando seu posicionamento à esquerda, dando liberdade para Alaba se aproximar de Ribéry para tabelas. Notáveis trocas de posições entre Robben e Thomas Müller foram interessantes, e o holandês criou algumas chances pelo meio. Mario Mandžukić foi bastante acionado em busca de ligação direta. O Borussia chegou à área bávara algumas vezes com bons ataques pela direita, com Piszczek e Błaszczykowski, além de Reus conduzindo em contra-ataques. De uma forma geral, ambas as equipes conseguiram criar chances. Manuel Neuer e Roman Weidenfeller, porém, não permitiram a inauguração do placar na primeira etapa.

Já no segundo tempo, aos 12 minutos, Ribéry passou para Robben entrando na área adversária pelo meio. O camisa 10 conduziu para a esquerda e encontrou Mandžukić na pequena área. O croata apenas empurrou a bola com seu pé esquerdo para marcar o primeiro da grande final. Oito minutos depois, Dante foi mal em um lance com Reus. O brasileiro acabou acertando o alemão dentro da área, na tentativa de desarmar o adversário, o que levou à marcação do pênalti. İlkay Gündoğan cobrou à esquerda de Neuer, mas o goleiro pulou para a direita.

Com o empate no placar, o jogo parecia se encaminhar para a prorrogação, até que, aos 43, Boateng fez um lançamento para o ataque, Ribéry conseguiu controlar a bola e rolar de calcanhar para a ultrapassagem de Robben. Ao receber, levou a bola estrelada para a esquerda e deu o toque suficiente para tirar de Weidenfeller, marcando o gol do título do Bayern de Munique.

O holandês foi eleito o melhor jogador da final (Foto: Miguel Delaney)

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