Campeões de Copa: França 1998

Em casa, os franceses dominaram a Copa do Mundo e levaram a sua primeira taça

Rafael Bizarelo
Mezzala
9 min readMay 15, 2020

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(Foto: Reuters/Action Images)

Em 1998, a França teve a oportunidade de sediar a Copa do Mundo pela segunda vez na história. Sessenta anos antes, em 1938, a França também sediou a competição, mas foi eliminada pela Itália ainda na segunda fase. Na segunda oportunidade, os donos da casa não deixaram barato para ninguém.

O 4–3–2–1 começou a se popularizar na França do técnico Aimé Jacquet. Para dar liberdade para Zidane criar as jogadas, o treinador escalou Deschamps, Petit e Karembeu, que tinha funções de marcação, isentando Zidane de tal função. Djorkaeff servia para auxiliar Zidane na zona de ataque, enquanto Guivarc’h era o responsável por segurar a bola no ataque e entregá-la para os criadores. Ainda que esteja longe de ser um grande atacante, a função de Guivarc’h é subestimada. É inegável que seria melhor tem um atacante de elite ali, mas o camisa 9 cumpriu o seu papel, não atoa a França foi campeã com ele como titular. Além desses jogadores, os franceses ainda contavam com laterais bons no ataque e na cobertura, como Lizarazu e Thuram. Henry e Trezeguet também eram boas opções para o ataque francês, assim como Robert Pires e Patrick Vieira eram boas opções para o meio de campo.

Ataque

A França era muito forte pelas laterais, e costumava atacar por ali. Mesmo sendo uma zona com menor poder de criação por conta do espaço, o uso de tabelas com meio-campistas facilitava a criação e o avanço dos laterais. Thuram avançava pela direita, tabelava com Zidane ou Karembeu e chegava na área. Lizarazu costumava avançar por dentro, e sua tabela com Djorkaeff não terminava pelo lado, mas pelo centro, onde ele, tendo a bola, encontrava um jogador de ataque avançando entre os zagueiros para marcar.

Com o avanço pelo meio de campo, Deschamps e Karembeu podiam avançar no campo com a bola e achava o ataque através de enfiadas para os jogadores que infiltravam na defesa adversária para marcar. Quando a bola chegava a Petit, ele podia infiltrar, mas também podia tentar um chute de longa distância.

Fase de Grupos

(Foto: Pedro José Domingues/Mezzala)

A França chegou na Copa do Mundo com um grupo fácil. A África do Sul estava estreando, a Arábia Saudita estava em sua segunda participação, e a Dinamarca seria a adversária mais difícil do grupo, tendo o goleiro Peter Schmeichel e os irmãos Michael e Brian Laudrup.

Contra a África do Sul, um atropelo. O 3–0 mostrou uma excelente leitura do jogo por parte da França e um bom uso da cobrança de escanteio com um gol de cabeça de Dugarry. Na segunda rodada, mais uma goleada, dessa vez um 4–0 contra a Arábia Saudita, que não chegou perto de assustar a avassaladora seleção francesa. No duelo contra os sauditas, Zidane foi expulso, sendo punido por duas partidas.

A partida contra a Dinamarca seria mais interessante. Sem Zidane, craque e camisa 10 da França, a equipe tentava garantir a primeira colocação do grupo. Após uma jogada de Candela na lateral, Trezeguet seria derrubado dentro da área, com o juiz concedendo um pênalti para a França. Djorkaeff abriria o placar de pênalti aos 12 minutos de jogo, mas veria Michael Laudrup empatar da mesma forma aos 42 do primeiro tempo. O gol da vitória sairia de um bate-rebate na área após a bola sobra para Petit, que mandou um petardo para o fundo da rede.

Oitavas: França 1-0 Paraguai

O duelo contra o Paraguai serviu para mostrar aos franceses que a Copa não seria fácil. A seleção sul-americana chegou nas oitavas de final com apenas um gol sofrido, assim como a França.

A França tinha uma defesa sólida com Thuram, Laurent Blanc, Desailly e Lizarazu, e o Paraguai de Arce, Ayala, Gamarra e Sarabia ainda tinha o experiente goleiro Chilavert para proteger a meta. Treinados pelo brasileiro Paulo César Carpegiani, o Paraguai montou uma forte defesa e deixou a França atacar, pois atrás sabia que conseguia se segurar. Para o Paraguai, tentar um ataque era muito arriscado, pois o time não era capaz de vencer a França em forma ofensiva, apenas se segurando e esperando uma oportunidade.

O jogo seria bastante complicado para um França ainda sem Zidane, contando com Diomede e Djorkaeff abertos nas pontas e Henry com Trezeguet no ataque, tendo Henry recuando mais na partida para dar mais espaço para Trezeguet e também auxiliar na criação, mas também avançando com velocidade para o ataque. Dessa forma, o meio de campo ficaria com dois jogadores: Deschamps, que tinha um papel defensivo, e Petit, que partiria na criação e era obrigado a recuar por conta da menor quantidade de jogadores na região.

O 0–0 ficou no placar durante os 90 minutos, e em um prorrogação já desacreditada por parte dos franceses, o milagre aconteceu. Após um cruzamento de Robert Pires, Trezeguet ajeitou para o zagueiro Laurent Blanc marcar o gol de ouro, ainda válido na época, encerrando a partida com a vitória da França por 1–0.

Quartas: Itália 0 (3)-(4) 0 França

Nas quartas de final, a França enfrentou a Itália, vice-campeã mundial na Copa de 1994. O time era recheado de craques, e ainda contava com Roberto Baggio no banco naquela ocasião.

Com a volta de Zidane ao time, a França voltou a se arrumar num 4–3–2–1, tendo Deschamps, Karembeu e Petit no meio dando segurança para Zidane ser livre no ataque, ainda tendo Djorkaeff para atacar e Guivarc’h para conseguir espaço para os criadores. Lizarazu continuava com as suas corridas para lateral e ainda conseguia avançar por dentro.

A Itália, em um 4–4–2 que poderia formar um 4–2–3–1 em certas ocasiões com o recuo de Del Piero ou Vieri, se montava com uma zaga muito forte formada por Cannavaro e Costacurta, ainda tendo Maldini na lateral para dar mais poder defensivo. Os dois volantes ainda tinham bom papel de criação e podiam contar com Moreiro e Pessotto aberto pelos lados. A entrada de Roberto Baggio durante o jogo serviu para dar mais profundidade para a Itália no meio de campo e ainda avançar no ataque.

As defesas prevaleceram mais uma vez, e o jogo foi para a prorrogação. Durante os 30 minutos, muitas chances apareceram para as duas seleções, mas nenhuma conseguiu marcar. Dessa forma, o jogo foi para os pênaltis, com a Itália caindo pela terceira Copa seguida nas penalidades.

Semifinal: França 2–1 Croácia

A adversária da França na semifinal da Copa do Mundo era a Croácia. Com qualquer uma das duas passando, a final teria uma seleção que nunca havia sido campeã do mundial.

A Croácia ainda não havia participado de uma Copa, já que se tornou independente apenas em 1991 e ainda não era membro da FIFA em 1994. A campanha da estreante foi surpreendente, perdendo apenas para a Argentina na fase de grupos e se classificando em 2º para o mata-mata, eliminado a Romênia nas oitavas por 1–0 e a Alemanha nas quartas por 3–0.

O primeiro gol da partida sairia apenas no segundo tempo. A bola foi lançada para frente, e Suker aproveitou a falha da zaga que avançou e o deixou sozinho para abrir o placar para a Croácia.

O gol de empate da França saiu no avanço de Thuram, que roubou a bola, tabelou com Djorkaeff, infiltrou na área e marcou para os donos da casa. A virada saiu em mais um avanço de Thuram, com outra tabela e um chute do lateral de fora da área para dentro do gol. Vale ressaltar que 16% dos gols da carreira de Thuram foram marcados nessa partida contra a Croácia.

A França então estava pronta para o desafio final da Copa do Mundo, mas chegaria desfalcada, pois o zagueiro Laurent Blanc, decisivo contra o Paraguai, foi expulso aos 74 minutos de jogo.

Final: Brasil 0–3 França

Atual campeão mundial, o Brasil estava atrás do penta em 1998. A França, em busca do seu primeiro título, teria o adversário mais complicado de sua história pela frente.

A seleção brasileira perdeu apenas uma partida na fase de grupos em um 2–1 contra a Noruega, mas ainda se classificou em 1º, eliminando Chile por 4–1 nas oitavas, Dinamarca por 3–2 nas quartas e Holanda nos pênaltis após um 1–1. A Copa dos brasileiros era muito boa até então, com Ronaldo e Bebeto jogando muito bem no ataque e com Rivaldo tendo seu destaque.

Antes da final, o Brasil enfrentaria um problema que até hoje contém muito mistério envolvido. Ronaldo, goleador, camisa 9 e principal jogador da seleção, sofreu uma convulsão e não tinha condições de jogar futebol, e aqui entra um pouco de experiência própria. Edmundo era a opção para entrar em campo, mas um pouco antes do jogo, foi decidido que Ronaldo iria começar jogando, correndo risco de desmaiar dentro de campo.

O que se viu dentro de campo foi uma grande atuação da França, a melhor da seleção da casa na Copa. O Brasil sofreu para tentar se defender, mas não conseguiu. Já aos 27 minutos do primeiro tempo, Zidane abriu o placar de cabeça após uma cobrança de escanteio. Ainda na primeira etapa e em outra cobrança de escanteio, Zidane marcou mais uma vez, mostrando que a defesa brasileira estava em choque.

No segundo tempo, o Brasil substituiu Leonardo por Denílson, tentando ter mais força pelo lado esquerdo e incomodar os franceses, que passam a usar Boghossian para bloquear o ataque brasileiro. Para piorar a situação da França, Desailly é expulso aos 68 minutos. Dessa forma, Petit recua para a zaga e a França coloca o volante Patrick Vieira no lugar de Djorkaeff para atuar centralizado à frente dos zagueiros, com Deschamps atuando como volante pela esquerda. O Brasil ainda substitui César Sampaio, um volante, para a entrada de Edmundo, no ataque, mostrando que era o tudo ou nada.

A defesa dos franceses então força o ataque brasileiro com uma quantidade exorbitante de jogadores na zona ofensiva, deixando poucos defendendo, dando chance para o contra-ataque francês. Com os laterais partindo ofensivamente, o ataque brasileiro não funcionou, já que a França soube se defender muito bem. Para sacramentar a vitória francesa no Stade de France, Petit marcou o terceiro da França.

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