Campeões de Libertadores: Corinthians 2012

Invicto, o time comandado por Tite conquistou um título inédito em uma Libertadores histórica

Pedro José Domingues
Mezzala
15 min readJun 5, 2020

--

Capitão Alessandro levantando a taça de campeão da Libertadores da América (Foto: Leonardo Miranda)

Entre os clubes brasileiros mais vitoriosos no século XXI, é fato que estará o Sport Club Corinthians Paulista, muito por Adenor Leonardo Bachi, o Tite. O Corinthians hoje é o segundo maior campeão do século, com 18 títulos. O clube paulista só fica atrás do Internacional de Porto Alegre, que levantou taça por 19 vezes no período. Dessas dezoito conquistas do Timão, seis delas foram sob comando do técnico Tite, com um grande destaque para o ano de 2012, em que conquistou a Libertadores e o Mundial de Clubes.

Até hoje, aquele time do Corinthians é lembrado por sua organização tática e por sua superioridade nesses aspectos em relação às outras equipes. Uma equipe que parecia largar na frente das demais equipes do continente.

Com uma linha de quatro defensores bem compacta e fechada à frente da área, a defesa do Timão era muito sólida, e tal compactação é dificilmente vista pelos campos no Brasil. Seus ataques rápidos, principalmente com arrancadas do volante Paulinho, também impressionavam. Havia muita intensidade após a perda da bola, o que facilitava o desarme e armava contra-ataques de muita velocidade.

Defesa

Fase defensiva

Defesa corinthiana em diversos momentos da temporada, mas principalmente no 2° jogo da final da Libertadores, contra o Boca Juniors

Com o time recuado, em bloco baixo, a primeira linha defensiva era formada ,naturalmente, pelos dois zagueiros e pelos dois laterais. Porém, os jogadores ficavam muito próximos, e, junto a isso, o volante Ralf recuava entre os dois zagueiros, o que fortalecia a proteção aérea. Em alguns momentos, o volante corinthiano virava quase que um terceiro zagueiro, se juntando à primeira linha.

Na outra linha de quatro, mais aberta, o volante Paulinho ficava um pouco mais avançado para pegar a sobra e construir um contra-ataque. Quando Emerson jogava aberto pela esquerda, ele não voltava tanto para marcar, o que fazia o meia Alex recuar um pouco mais nesse lado para ajudar na marcação. Do outro lado, Jorge Henrique recuava mais para ajudar na defesa e pegar a sobra. Em alguns momentos, ele chegava a formar a primeira linha defensiva com os quatro da defesa. À frente das duas linhas, Danilo ficava mais avançado e centralizado.

Adversário com a bola no chão

A base defensiva da equipe era formada pelos quatro defensores e pelos dois volantes. Com isso, muitas vezes se originavam as chamadas zonas de guerra, com superioridade numérica para a roubar a bola. Os outros, recuavam mais quando o adversário atacava com mais jogadores, com Jorge Henrique e Danilo se revezando pelo lado direito, e Alex cobrindo o lado esquerdo. Emerson ficava mais pela esquerda, sem marcar tanto, mas pressionando sempre quando o adversário ia para as laterais.

Sempre em bloco baixo e bem recuado, em alguns momentos Ralf e Paulinho tinham total liberdade para dar o primeiro combate e pressionar o homem que estiver com a bola, sem ficarem muito presos à frente dos zagueiros. Nessa pressão, muitas vezes tinha a dobra na marcação, o que forçava o adversário a soltar ou recuar a bola. A tendência era a equipe marcar com duas linhas de quatro atrás da linha da bola, com a primeira linha defensiva compacta, e a segunda linha mais aberta.

Recuperação da bola

Após a perda da bola, todos os jogadores tentavam recuperá-la imediatamente. Era uma pressão com muita intensidade e comprometimento de todos na marcação. O time ia encurralando o jogador que estivesse com a bola, tirando as opções de passe e dobrando a marcação, até forçar um erro ou um “chutão”. Era muito comum também que jogadores que estavam mais avançados recuassem para fazer a dobra e roubar a bola pelas costas do adversário, o famoso “ladrão”.

Ataque

Esquema corinthiano a partir do 2° jogo contra o Emelec nas oitavas da Libertadores, quando Tite deixou de jogar com uma referência na frente

Sempre que recuperava a bola, e tinha espaço para atacar, saía em velocidade para pegar o adversário com a defesa bagunçada. Paulinho era fundamental nesses contra-ataques, porque tinha uma grande capacidade de arrancar com a bola e um bom passe para achar seus companheiros livres. Jorge Henrique era a válvula de escape corinthiana, sempre atacando o adversário com muita velocidade.

Quando não havia espaço para contra-atacar, era comum que tabelas fossem feitas pelas laterais. Alessandro, Paulinho e Jorge Henrique encostavam pela direita para trocar passes, uma espécie de triangulação. Em alguns momentos, Sheik e Alex também encostavam por ali, para ajudar na construção da jogada, aumentando as opções de passe. O lado direito corinthiano era muito forte, e, em diversos jogos da temporada, encontrava mais facilidade em sair jogando por ali. Pelo lado esquerdo, o Corinthians encontrava mais dificuldades. O volante Ralf não tinha as mesmas características de Paulinho para sair jogando e dar o passe com precisão, além de não aparecer muito como opção de passe.

Na finalização da jogada, era muito comum que o time avançasse pelas laterais e tentasse um cruzamento, esperando um erro da zaga adversária. Esses cruzamentos vinham mais pelo lado direito, que era onde as jogadas fluíam melhor. Em muitos momentos, o meia Alex arriscava de fora da área com as pancadas de sua canhotinha, sempre levando perigo aos goleiros.

Sob comando do Adenor, a equipe corinthiana vivia altos e baixos. O segundo gol de Emerson Sheik na partida de volta da final da Libertadores, contra o Boca Juniors, apenas coroou uma excelente volta por cima da equipe, que, ao final do ano, ainda iria conquistar o Mundial de Clubes no Japão.

No dia 4 de dezembro de 2011, o Corinthians conquistou de maneira emocionante o Campeonato Brasileiro, que foi definido na última rodada. Nesse mesmo dia, um dos maiores ídolos do clube, Doutor Sócrates, havia falecido, e aquele título certamente foi para ele. Conheça um pouco mais da história e da trajetória desse grande craque brasileiro nessa thread abaixo.

Naquele momento, o Corinthians se viu capaz de buscar um título inédito em sua história, a Libertadores da América do ano seguinte. O time estava em grande fase, com um aproveitamento tático muito eficiente, sob comando de Tite, e com a volta por cima de jogadores como Cássio, que foi promovido a titular no ano de 2012, o conjunto do time estava muito forte. Mas nem só de glórias e alegrias foi esse período no Parque São Jorge.

Do inferno ao céu

Ronaldo após eliminação para o Tolima-COL (Foto: Reprodução)

Em 2011, no ano anterior a essas conquistas, o comando de Tite estava ameaçado após duas derrotas doloridas em jogos importantes. Ainda com as estrelas Ronaldo Fenômeno e Roberto Carlos no time, o Corinthians começou a Libertadores desse ano na fase preliminar, contra o Tolima, da Colômbia. Muito se subestimava a capacidade da equipe colombiana, mas um verdadeiro vexame aconteceu naquele dia 2 de fevereiro de 2011. A derrota de 2 a 0 é lembrada até hoje pelos rivais como “Tolima Day”.

Com muitas críticas em volta do técnico Tite após a eliminação precoce na Libertadores, a diretoria do clube decidiu por manter o técnico, e ainda viu dois de seus principais jogadores saírem. O atacante Ronaldo estava se aposentando, e Roberto Carlos estava de malas prontas para jogar na Rússia. Uma reformulação e um recomeço era necessário. O clube contratou o atacante Emerson Sheik, que estava no Fluminense, e Adriano Imperador, que teve um saída turbulenta da Roma. Uma outra contratação foi o goleiro Cássio, que viria a ser um dos destaques da campanha daquele ano.

Adriano Imperador, já “gordinho”, em sua apresentação pelo Corinthians (Foto: Marcos Ribollli/Globoesporte.com)

Além da eliminação vexatória na Libertadores, o vice-campeonato para o Santos no Campeonato Paulista foi um outro baque para a torcida corinthiana. O Santos naquele ano estava em grande fase, e ainda viria a ser campeão da Libertadores com Neymar, Paulo Henrique Ganso e cia.

As expectativas naquele momento estavam voltadas para o Campeonato Brasileiro, mesmo com duas derrotas que ficaram na cabeça do torcedor. Desde a 7ª rodada da competição, Corinthians e Vasco da Gama se alternavam na liderança. O clube paulista ficou no topo da tabela por 27 vezes, mas sempre de olho no retrovisor, porque qualquer deslize poderia servir para a troca da liderança. Uma verdadeira corrida de Fórmula 1. O clube carioca ainda viria a conquistar o inédito título da Copa do Brasil, em uma final emocionante contra o Coritiba, o que agitou ainda mais a corrida pelo título brasileiro.

Um empate na última rodada era o bastante para o título do Corinthians. Os dois únicos concorrentes ao título enfrentaram os seus maiores rivais na última rodada, Palmeiras e Flamengo. No clássico carioca, um empate por 1 a 1. No Pacaembu, Corinthians e Palmeiras ficaram no 0 a 0, mas com a combinação dos resultados, o final da partida foi de festa. O clube paulista conquistou ali o seu pentacampeonato brasileiro, com um grande mérito ao técnico Tite.

Jogadores do Corinthians festejando o pentacampeonato brasileiro ao final da partida com o Palmeiras (Foto: Leonardo Soares/O Globo)

Em busca da América

Técnico Tite antes da partida entre Corinthians e Vasco, pelas quartas de final da Libertadores (Foto: Ricardo Matsukawa/Terra)

Com o recente título brasileiro, o Corinthians via a Libertadores de 2012 como o seu próximo objetivo. Classificado direto para a fase de grupos, afastando o fantasma da fase preliminar, o Timão caiu no Grupo 6 da competição, com Deportivo Táchira-VEN, Nacional-PAR e Cruz Azul-MEX.

Fase de grupos

Danilo e Liédson em goleada corinthiana contra o Deportivo Táchira-VEN (Foto: Reprodução)

Fora de casa, o Corinthians estreiou contra o Deportivo Táchira, da Venezuela. O time criava muitas chances, oferecendo perigo ao goleiro, mas parecia não ser um dia de sorte. Aos 21 minutos do primeiro tempo, num lance de azar da equipe corinthiana, o atacante Herrera abriu o placar para os venezuelanos. No último lance da partida, um cruzamento na área encontrou Ralf, que, de cabeça, empatou a partida. Um pequeno susto logo na primeira partida.

A volta por cima viria logo em sequência, no Pacaembu. O Timão venceu o Nacional do Paraguai por 2 a 0, com gols de Jorge Henrique e Danilo. Na terceira partida, o time viajou para o México para enfrentar o Cruz Azul, considerado o rival mais forte no grupo. Uma grande pressão corinthiana foi imposta nos mexicanos, mas o 0 a 0 não saiu do placar. Enquanto isso, a diretoria dispensou o atacante Adriano, que havia sido inscrito com a camisa 10 na competição.

Em um segundo turno perfeito, o Corinthians começou vencendo o Cruz Azul, agora em casa, por 1 a 0, com gol de Danilo. No jogo seguinte, a vitória por 3 a 1 no Paraguai, contra o Nacional, sacramentou a classificação alvinegra para a próxima fase, com os gols de Jorge Henrique, Emerson e Élton. Para fechar a primeira fase, o Timão goleou o Deportivo Táchira no Pacaembu, com um 6 a 0 avassalador, e gols de seis jogadores diferentes: Danilo, Paulinho, Jorge Henrique, Emerson, Douglas e o português Liédson.

Uma prova que o conjunto corinthiano era muito forte, e que qualquer jogador poderia balançar as redes. O time comandado por Tite estava em grande fase, e determinado para manter essa sequência de vitórias da fase de grupos, só que agora no mata-mata.

Oitavas: Novidade no gol e mudança na forma de jogo

Escalações de Corinthians e Emelec no jogo da volta das oitavas de final da Libertadores

Líder do Grupo 6, o Corinthians enfrentou o Emelec, do Equador, nas oitavas de final. O clube equatoriano se classificou de forma histórica na última rodada de seu grupo, eliminando dois grandes times do continente: Flamengo e Olimpia-PAR. Depois de algumas falhas do até então goleiro titular Julio César, o técnico Tite promoveu a entrada do “grandalhão” Cássio na equipe principal.

O primeiro jogo não saiu do zero. O Corinthians jogou mal, mas resistiu a pressão e empolgação do time adversário com uma boa atuação do novo goleiro titular. O resultado até que foi bom, pois a definição do classificado seria em sua casa, no Pacaembu. Em São Paulo, o Timão garantiu a vaga na próxima fase na vitória tranquila de 3 a 0, com gols de Fábio Santos, Paulinho e Alex.

Goleiro Cássio conquistou a titularidade nos jogos contra o Emelec, nas oitavas de final (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)

Nesse jogo, o técnico Tite mudou a forma de jogo do time. Liédson e Élton não viviam uma boa fase, com isso, o treinador optou por não jogar mais com uma referência no ataque. Na frente, Jorge Henrique e Emerson continuavam pelos lados. A mudança mesmo foi com Danilo e Alex, que a partir daquele momento, revezavam na posição de “9”.

Quartas: Adversário brasileiro e um gol salvador

Escalações de Corinthians e Vasco da Gama nas duas partidas das quartas de final da Libertadores

Nas quartas de final, o Corinthians enfrentaria o Vasco da Gama, seu adversário durante toda a campanha do título brasileiro no ano anterior. Na partida de ida, em São Januário, o maior adversário foi a chuva. O time de Tite se mostrou muito bem defensivamente, e a partida não saiu do zero.

Em um Pacaembu completamente lotado, o jogo de volta não foi nada tranquilo. As duas equipes criavam chances, mas esbarravam na definição do lance e na boa fase dos goleiros Cássio e Fernando Prass. Até o técnico Tite não aguentou a tensão, sendo expulso no decorrer da partida e assistindo o restante do jogo nas arquibancadas.

No segundo tempo, dois lances definiram a partida. Em um erro do capitão Alessandro no meio do campo, o camisa 10 Diego Souza partiu sozinho, com o campo livre, em direção ao gol. O Pacaembu estava em silêncio, apreensivo com a chance do Vasco. Para quem assistia a partida, a corrida do camisa 10 vascaíno até o gol parecia ser eterna. Diego tentou tirar de Cássio com um chute rasteiro, mas o goleiro de 1,96m de altura tirou a bola com os dedos.

Defesa histórica do goleiro Cássio em chute de Diego Souza (Foto: Agência AP)

Alegria para os corinthianos, que comemoravam como se fosse um gol, e tristeza para os vascaínos. Aquele gol fora de casa praticamente sacramentaria a classificação dos cariocas.

Aos 42 minutos do segundo tempo, uma escanteio cruzado na área definiu o classificado. Paulinho subiu entre os zagueiros do Vasco e cabeceou no canto esquerdo de Prass. Sem saber para onde correr, Paulinho liberou toda aquela emoção reprimida com a tensão da partida. Tirou a camisa, subiu no alambrado e tudo mais. Um resultado suado, mas justo. Corinthians classificado para as semifinais pela segunda vez em sua história.

“Paulinho, você enlouquece o Pacaembu! Você é religião! Você é dramático! É emoção, Corinthians! Você é épico, e não desiste jamais!”- Nilson César/Jovem Pan

Paulinho comemorando gol da classificação com a torcida (Foto: Agência AFP)

Semi: Clássico paulista

Escalações de Corinthians e Santos no segundo confronto das semifinais da Libertadores

Não era só mais um clássico para as estatísticas de Corinthians e Santos. Os dois clubes se enfrentavam nas semifinais de uma Libertadores pela primeira vez na história. O Santos, comandado por Muricy Ramalho, era o atual campeão da competição, e vinha embalado com as recentes atuações mágicas dos craques Neymar Jr e Paulo Henrique Ganso. O Corinthians acabara de se classificar de forma heróica contra o Vasco, e estava em grande fase. O segundo confronto brasileiro na competição para o Timão.

Na primeira partida, na Vila, o conjunto corinthiano prevaleceu. O time de Tite surpreendeu os santistas e comandou a partida. A defesa do Timão era a melhor do campeonato, com apenas dois gols sofridos. Aos 27 minutos do primeiro tempo, Emerson recebe um passe de Paulinho e marca um golaço, colocando a bola no ângulo.

“Paulinho recolheu, arrancou por dentro, abriu na esquerda pra Emerson, chegou na área, entrou, bateu, e que golaço! Gooooooooool!”- José Silvério/Rádio Bandeirantes

Comemoração de Emerson Sheik depois de um golaço na Vila Belmiro (Foto: Daniel Augusto Jr / Ag. Corinthians)

Até o final da partida, a forte marcação do Corinthians não dava espaços para o avanço santista, com os volantes Ralf e Paulinho anulando o atacante Neymar. Emerson ainda seria expulso no decorrer do jogo, mas o 1 a 0 se manteve.

Na partida de volta, o Pacaembu estava novamente lotado, como de costume. Um empate era necessário para colocar o Corinthians na finalíssima. O time de Muricy conseguiu abrir o placar ainda no primeiro tempo, com um gol de Neymar. Mas não demorou tanto para esse vitória magra sair do placar. Com uma grande pressão do Timão no início do segundo tempo, Danilo marcou o gol de empate que seria o da classificação corinthiana para a tão esperada final.

“Bola desviada, ficou na direita, vem Danilo! Prooo gooool!”- Oscar Ulisses/Rádio Globo

Danilo comemorando o gol da classificação corinthiana (Foto: Reprodução)

A grande final: Romarinho talismã, Sheik herói e Fiel solta o grito

Jogadores de Corinthians e Boca Juniors discutindo na primeira partida da final, na Argentina (Foto: Reuters)

O adversário na grande final era nada mais nada menos que o temido Boca Juniors. O clube argentino chegava a sua décima final de Libertadores, e sempre foi conhecido como um carrasco de clubes brasileiros na competição. Na mesma Libertadores, os argentinos eliminaram o forte Fluminense nas quartas de final. Era a última Copa Libertadores do ídolo Juan Román Riquelme com a camisa xeneize, e eles eram considerados os favoritos na finalíssima por sua camisa e sua história.

Escalações de Corinthians e Boca Juniors na partida de ida da final da Libetadores

Na primeira partida, o Corinthians não enfrentava somente o cascudo time de Julio César Falcioni, mas também a atmosfera da torcida xeneize na temida La Bombonera. Parecia que essa pressão não assustou tanto a equipe corinthiana, que criou diversas chances no primeiro tempo. Porém, na segunda etapa, o time do Boca veio com tudo para abrir o placar. De muitas bolas cruzadas na área corinthiana, o zagueiro Roncaglia marcou o gol argentino aos 27 minutos do segundo tempo, após um bate-rebate na área. La Bombonera veio à baixo.

A vitória do Boca parecia se concretizar, até que, faltando cinco minutos para o término da partida, o técnico Tite aposta na entrada de Romarinho. O atacante vinha de dois gols contra o maior rival Palmeiras, pelo Brasileirão, mas faltava algo mais para ele cair nas graças da torcida.

Uma pressão corinthiana no meio de campo fez com que Paulinho roubasse uma bola de Riquelme e partisse para o contra-ataque. O volante toca para Emerson, que domina a bola fazendo um giro no marcador, e acha um espaço livre para Romarinho atacar.

“Olha o time do Corinthians chegando, olha o Romarinhoooooo! Goooooool!” -Cléber Machado/Rede Globo

Romarinho no momento da histórica cavadinha na La Bombonera (Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians)

De cavadinha, o talismã Romarinho, que tinha acabado de entrar na partida, marcou um gol memorável para os corinthianos. Um herói improvável na primeira partida da final do torneio mais cobiçado do continente, em uma La Bombonera pulsante. Os poucos torcedores corinthianos no estádio fizeram a festa e calaram os argentinos. Histórico.

Bastava agora uma vitória para a glória. O Corinthians recebeu o Boca Juniors em um Pacaembu completamente abarrotado de corinthianos. Muitos fogos, bandeirões e sinalizadores. Uma bela festa dos torcedores. O time de Tite estava completo para a última partida da competição, e o Boca quase completo. Os argentinos não contavam com Roncaglia, autor do gol xeneize na Argentina, que foi substituído pelo lateral Sosa.

Elenco do Corinthians campeão da Libertadores da América de 2012 (Foto: Marcos Ribolli/ Globoesporte.com)

O início do primeiro tempo foi bem tenso para o lado corinthiano. O Boca Juniors dominou os primeiros vinte minutos da partida, criando chances e levando perigo à defesa do Timão. O meia Riquelme teve uma atuação apagada, anulado pelo meio de campo corinthiano. O time argentino ainda ficou sem o seu goleiro titular Orión, que saiu machucado e foi substituído por Sosa. O goleiro reserva do Boca voltava ao Pacaembu depois de um ano. Sosa era o goleiro do Peñarol no titulo santista na temporada anterior. O time de Tite depois se encontrou, tendo domínio até o final da primeira etapa. Fim de primeiro tempo: 0 a 0.

No início da segunda etapa, a estrela de Emerson Sheik começou a brilhar. Em um lance de oportunismo, uma bola cruzada na área teve um leve desvio de calcanhar de Danilo. A bola caiu no pé de Sheik, que balançou as redes de Sosa. 1 a 0 pro Corinthians.

“Tocou de calcanhar, Emerson cara-a-cara, cara-a-cara, cara-a-cara, cara-a-caraaaaa! Gooooooooool!”- Deva Pascovicci/Rádio CBN

Chute de Emerson para abrir o placar no segundo jogo da final da Libertadores (Foto: Reprodução)

Pacaembu em êxtase. Com a desvantagem no placar, o Boca não encontrava mais inspiração para atacar. E o domínio corinthiano estava evidente para o restante da partida.

Com muita pressão e intensidade na marcação, um passe errado de Schiavi na defesa deu a bola de presente para Emerson. A estrela dele brilhou mais uma vez. Ele arrancou com a bola em direção ao gol, deixou os marcadores para trás e chutou a bola na saída do goleiro xeneize. 2 a 0 pro Corinthians.

“Olha a bola errada do time do Boca, Emerson dominou, vai para dentro, ganhou na velocidade, olha a chance do segundo gol! Goooooool!”- Cléber Machado/Rede Globo

Emerson marcando o seu segundo gol na final da Libertadores, no Pacaembu (Foto: AFP)

Depois do segundo gol, o título estava praticamente definido. Via-se ali um time campeão, aguerrido, e que não largou o osso em nenhum segundo da partida. O Corinthians não deixou o time argentino jogar até o apito final. O Pacaembu estava em festa, esperando apenas o término da partida para comemorar. Até que, aos 48 do segundo tempo, o juíz colombiano Wilmar Roldán deu o apito final.

Sport Club Corinthians Paulista foi naquele momento, pela primeira vez em sua história, campeão, invicto, da Libertadores da América. Acabaram ali as gozações dos rivais paulistas em cima do Corinthians. Um título incontestável, que ficará sempre na história do clube e da competição. Uma equipe com poucas estrelas, mas com um conjunto muito forte. Muito mérito para o técnico Tite, que revolucionou a tática no Brasil nesse período que esteve no Parque São Jorge.

Jogadores do Corinthians fazendo a tradicional volta olímpica, com a taça da Libertadores da América (Foto: Marcos Ribolli/ Globoesporte.com)

O clube ainda viria a conquistar o título do Mundial de Clubes daquele mesmo ano de maneira histórica, contra o Chelsea, mas isso é assunto para outro texto aqui no Mezzala.

Salve o Corinthians. O campeão dos campeões.

--

--