Clássicos, goleada e golaços: os jogos de ida das quartas de final do Brasileirão Feminino

As primeiras partidas tiveram pontos bastante interessantes de analisar, já deixando muita expectativa para os confrontos de volta

João Terra
Mezzala
8 min readOct 30, 2020

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(Foto: CBF)

Começou o mata-mata do Brasileirão Feminino 2020, onde as oito melhores equipes da primeira fase estão chaveadas a partir das quartas de final e se enfrentarão em dois confrontos. As partidas de ida aconteceram nesta semana, e já deram o gosto do que vai ser essa reta final do Campeonato Brasileiro.

Os confrontos foram definidos a partir da tabela da primeira fase: o líder enfrenta o oitavo colocado, o vice joga contra a equipe da sétima posição e assim segue para os outros duelos.

Para esta fase eliminatória, as equipes estão jogando nos estádios principais dos clubes, o que é muito positivo. O futebol feminino precisa receber essa atenção e as melhores condições para valorizar a modalidade e atrair cada vez mais público.

Confira abaixo os detalhes táticos e o resumo de cada jogo das partidas de ida dessas quartas de final.

GRÊMIO 0X3 CORINTHIANS

Já era esperado que este fosse o confronto mais desequilibrado, do ponto de vista técnico. O Corinthians é um exemplo de projeto no futebol feminino, atual campeão paulista e da Libertadores, além de ter sido o primeiro colocado na fase inicial. Por outro lado, o Grêmio ainda disputava a Série A2 na temporada passada e não possui, nem de longe, um elenco comparável ao do time paulista.

Em um cenário de domínio da posse de bola na Arena do Grêmio, o Corinthians apresentou as suas já conhecidas características, construindo em organização ofensiva com paciência, desde a goleira Lelê. Com bola, bastante destacável a atuação de Tamires, gerando muito jogo entre linhas e ativando as companheiras à frente. Perdendo a bola, as comandadas de Arthur Elias buscavam recuperá-la logo em seguida, aplicando uma pressão pós-perda muito bem coordenada.

A equipe comandada por Patrícia Gusmão se portava em um 4–4–2 na organização defensiva e, como ponto chave para o resultado do jogo, a linha de defesa ficava bem adiantada. O problema é que as defensoras gremistas encontraram muita dificuldade em controlar a profundidade, ponto que o Corinthians soube aproveitar muito bem. Foi em jogadas desse tipo que as atletas do Timão conseguiram o primeiro e o terceiro gol.

No primeiro tento, Victória Albuquerque recebeu em profundidade, ganhando das zagueiras do Grêmio na velocidade. A atacante contou com uma falha da goleira Raíssa para rolar para Giovanna Crivelari marcar. O 3 a 0 veio também com uma das atacantes, no caso Adriana, recebendo à frente das defensoras. A camisa 16 cruzou para Crivelari, novamente, marcar para as visitantes.

O segundo gol veio com o Corinthians postado no campo rival. A artilheira do jogo recebeu pela esquerda, já dentro da área, e cruzou para a pequena área, onde a capitã do Grêmio, Ana Alice, acabou cabeceando para dentro de seu próprio gol.

Resultado coerente com as expectativas e as atuações das equipes. O Corinthians jogando seu jogo de domínio em todas as fases contra um Grêmio muito mal defensivamente, com erros técnicos e de aplicação tática. O Timão tem uma grande vantagem para confirmar o favoritismo no jogo de volta e se classificar para a próxima fase.

AVAÍ KINDERMANN 3X2 INTERNACIONAL

Na Ressacada, Avaí Kindermann e Internacional fizeram o jogo com mais bolas na rede desses primeiros confrontos das quartas de final. Apesar da vitória, o time da casa começou a partida bem abaixo de seu rendimento natural, apresentando certa desorganização. O ponto mais positivo do time de Arthur Barcellos foi a atacante Lelê, destaque do jogo por sua imposição física e participação direta nos três gols do time da casa.

A equipe tentava sair curto, mas a pressão alta por parte das coloradas na saída de bola obrigava a utilização da ligação direta, principalmente com Lelê, atleta que vai muito bem segurando a bola no pivô. Mesmo com um bom final de tarde da sua centroavante, o Kindermann sentiu a falta de Catyellen e Bruna Calderan pelo lado direito, jogadoras que vem fazendo uma ótima temporada, sendo referências do elenco, mas que não brilharam na última partida.

Terceiro colocado na primeira fase, o Internacional também buscava sair jogando curto, e obteve mais êxito para avançar em campo rival, principalmente com combinações rápidas pelos lados, entre laterais e extremas. Também neste sentido, excelente partida de Byanca Brasil, saindo da referência do ataque para auxiliar nas tabelas de avanço pelos flancos, sobretudo do lado direito, gerando espaço para jogadoras como Sashá e Fabi Simões invadirem a área em diagonal. Inclusive, foi assim que saiu o primeiro gol das Gurias Coloradas, com a camisa 7 entrando em velocidade na área adversária e rolando para Juliana empurrar para o gol, abrindo o placar para o time de Maurício Salgado.

No final da primeira etapa, Lelê começou a ganhar destaque no jogo. Primeiro, recebeu em profundidade, vencendo as zagueiras na corrida, e driblou a goleira Yasmim para empatar a partida. Também foi fundamental nos outros gols do Avaí, ganhando duas disputas aéreas em jogadas de bola parada, que foram aproveitadas por Simeia e Camila, virando e ampliando o placar.

Byanca Brasil ainda aproveitou uma bola sobrada na área após escanteio, diminuindo a vantagem do time da casa, mas não foi capaz de evitar a derrota. Apesar da grande atuação da centroavante colorada — tanto jogando fora da área para servir as companheiras com seu refino técnico quanto em desmarques em profundidade para finalizar — , o Inter vai para o confronto de volta com uma desvantagem no placar.

Foi um jogo equilibrado, com um Avaí Kindermann mal na etapa inicial, mas que foi capaz de melhorar durante o segundo tempo, principalmente pela ótima partida da artilheira Lelê, contribuindo nos três gols.

SÃO PAULO 0X0 SANTOS

A primeira partida do clássico SanSão foi disputada no Morumbi, e, apesar da expectativa por conta da rivalidade entre os clubes, foi o único jogo que o placar ficou em branco. Contudo, alguns detalhes táticos tornaram o jogo interessante.

A melhor chance da partida foi com apenas dois minutos, quando Glaucia segurou muito bem a bola no pivô e ativou Duda em profundidade, com a linha de defesa santista totalmente desorganizada. A camisa 10, porém, finalizou na trave, não conseguindo marcar para o time da casa.

Durante todo o primeiro tempo, o São Paulo manteve a pressão bem alta na saída de bola rival. Com um 4–4–2 em organização defensiva, as jogadoras de frente sufocavam intensamente as responsáveis por iniciar a construção santista, com destaque às atacantes Carol, pressionando e perseguindo com grande entrega, e Glaucia fechando linhas de passe, impedindo a progressão adversária e contribuindo no momento sem bola.

O problema dessa pressão alta por parte das comandadas de Maurício Salgado, porém, foi o verdadeiro latifúndio encontrado entre as duas linhas de marcação. A linha de defesa não subia proporcionalmente igual às jogadoras de ataque, e, principalmente quando as meio-campistas Yaya e Duda saltavam em pressão, o espaço deixado às costas dessas duas era imenso.

Pelo lado do Santos, as atletas encontraram muita dificuldade em sair de forma curta e elaborada, justamente pela pressão alta das são-paulinas. Entretanto, a equipe de Guilherme Giudice não soube aproveitar o enorme espaço entre as linhas do rival, não levando muito perigo em campo rival. As únicas oportunidades de gol das Sereias da Vila foram quando Ketlen recebeu no lado débil, sendo bastante objetiva para finalizar de média distância.

No segundo tempo, o São Paulo já não tinha o mesmo físico para ficar pressionando o tempo todo a saída santista, com o ritmo diminuindo naturalmente. O cenário permaneceu esse por todo o jogo: as anfitriãs tentando pressionar alto, mas cada vez mais desgastadas e menos capaz de incomodar intensamente a saída do Santos. As visitantes pouco souberam aproveitar os espaços deixados pelo time da casa, não tendo grandes chances de tirar o zero do placar.

PALMEIRAS 2X1 FERROVIÁRIA

Por fim, mais um clássico do estado de São Paulo agitou essas quartas de final. A Ferroviária, atual campeã brasileira, não conseguiu apresentar seu melhor futebol, sentindo uma noite pouco inspirada de sua principal jogadora, Aline Milene. Patrícia Sochor e Chú, outras referências do elenco, também não estavam em seus melhores momentos, apesar de terem participado bem em alguns lances no ataque.

No Allianz Parque, o Palmeiras se organizava em um 4–4–2, com o bloco médio/baixo, deixando a posse com a equipe visitante. Nas transições ofensivas, buscava invadir o terço final utilizando a velocidade de jogadoras como Camilinha e Lurdinha.

As Guerreiras Grenás ficaram com a bola a maior parte do tempo, como já é de costume, mas não foram capazes de levar muito perigo no campo adversário. Como já falado, a partida abaixo da média por parte da camisa 10 foi chave para o fraco desempenho da equipe de Tatiele Silveira. Quando conseguia entrar no terço final, a Ferroviária encontrou a zagueira argentina Agustina em uma grande noite. A camisa 3 alviverde ganhou a grande maioria das divididas, principalmente contra Sochor, e demonstrou um ótimo senso de posicionamento, realizando coberturas e interceptando as adversárias.

Foi sua companheira de zaga, porém, que abriu o placar. Após cobrança de escanteio da capitã Bianca, Thaís venceu a disputa aérea e cabeceou para o gol de Luciana, com apenas quatro minutos de partida. Já na segunda etapa, o Palmeiras conseguiu sua jogada chave para a partida, quando a goleira Vivi ativou Camilinha no meio-campo, com grande espaço livre para conduzir. A camisa 9 foi ganhando metros em condução e acertou um grande chute de longa distância, fazendo o segundo gol do time de Ricardo Beli.

No final da partida, a Ferrinha conseguiu descontar, após Patricia Sochor roubar a bola de Agustina dentro da área — em um dos poucos erros da zagueira em todo o jogo — e finalizar no canto, tirando da goleira palmeirense.

O resultado foi consequência da capacidade de cada equipe em aplicar suas ideias em campo, onde o Palmeiras foi muito bem esperando com o bloco mais recuado para castigar nos contra-ataques, e a Ferroviária encontrou dificuldades de entrar no campo rival, justamente pelo ótimo desempenho defensivo do time da casa.

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