Com uma gestão diferente do tradicional, o RB Leipzig quer chegar ao topo

Em 11 anos de história, clube chega pela primeira vez nas semifinais da Champions League

Marcos Cardoso
Mezzala
7 min readAug 17, 2020

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Foto: Reuters

Em 2019, a fabricante de bebidas energéticas, Red Bull, sediada na Áustria, deu um salto no futebol brasileiro. Após anos investindo no RB Brasil, com um projeto visando chegar nas principais divisões do país fracassando repetidamente, a empresa voltou-se ao tradicional Bragantino. O futuro do clube ainda é incerto com base nas conquistas, porém, na Alemanha, com quase 11 anos de investimento no futebol, a marca começa a colher frutos e traçar metas ainda maiores.

Em 2009, a Red Bull finalizou os detalhes para a compra do pequeno SSV Markranstädt, clube da cidade de Leipzig, na Alemanha. Essa não era a primeira opção da marca. Após fracassar nas negociações com clubes tradicionais como Hamburgo, St. Pauli, TSV 1860 Munique e Fortuna Düsseldorf, a escolha foi migrar para a cidade onde a Federação Alemã de Futebol (DFB — sigla em alemão) foi fundada.

Além do futebol, outros fatores influenciaram para que a cidade fosse “a escolhida” nesse processo. Hoje, com mais de 560 mil habitantes, a população pode ser fundamental para que a economia e para que a exposição da marca seja alcançada dentro do território. Outro fator importante era que, em 2009, nenhum clube da região da Saxônia — estado onde se localiza Leipzig — disputava a primeira divisão do futebol alemão.

As regras germânicas são complexas quando se diz respeito a empresas administrarem um clube, como o caso da Red Bull e do SSV Markranstädt. Por isso, a marca austríaca pôde adquirir “somente” 49 por cento das ações do clube — o que não lhe impediu de mudar sua estrutura. Outro ponto é que a mesma legislação não deixa que os times carreguem nomes de empresas nos seus, com isso, o “RB” do Leipzig significa RasenBallsport, algo que em tradução literal significaria “esportes com bola na grama”. Nesse caso, somente poderá se chamar Red Bull Leipzig quando a parceria com a empresa completar 20 anos.

Assim, em 19 de maio de 2009, nascia o RasenBallsport Leipzig, ou mais conhecido como RB Leipzig. O primeiro ano da equipe se deu na quinta divisão nacional. O time tem como casa o antigo Zentralstadion, palco da Copa do Mundo de 2006, com capacidade para 44 mil espectadores e que atualmente se chama Red Bull Arena.

Red Bull Arena — Foto: Reprodução

No ano de 2010, o RB Leipzig já havia garantido sua primeira promoção nas divisões inferiores da Alemanha. Sem grandes brilhos, o clube ficou por duas temporadas na quarta divisão até que, em 2012/13, chegou a terceira divisão, sendo vice-campeão na 3.Liga. A primeira temporada da 2.Bundesliga (segunda divisão), não foi das melhores, o clube ocupou a quinta posição, duas abaixo da disputa do playoff para a promoção a elite. Porém, em 2015/16, a parceria do time com a Red Bull chegava ao seu primeiro grande feito. Em sete anos, saíram da quinta divisão para figurar entre os maiores do futebol alemão, garantindo vaga na Bundesliga 2016/17.

Jogadores do Leipzig comemorando acesso à Bundesliga — Foto: Divulgação

O clube possui como “filosofia” contratar ou formar jovens. Muitos acabam ganhando espaço primeiro em outros clubes da Red Bull, como o Salzburg e o New York, nesse meio tempo, o time da Áustria tornou-se a principal fonte de talentos do Leipzig. A primeira temporada na elite alemã já mostrava sinais disso. Gastou 10 milhões de euros para contratar o zagueiro Dayot Upamecano, seis milhões de euros no lateral-esquerdo brasileiro, Bernardo e quase 30 milhões de euros no meio-campista Naby Keita, todos vindos do Red Bull Salzburg — clube da mesma empresa e com sede no país natal dela –; além, claro, de quem se tornaria a principal peça do clube nas temporadas futuras, o atacante Timo Werner, vindo do Stuttgart por 14 milhões de euros. Nomes como Péter Guláscsi, goleiro; Lukas Klostermann, lateral/zagueiro; Marcel Halstenberg, lateral/zagueiro; Emil Forsberg, meia; e Yussuf Poulsen, atacante, também já faziam parte do grupo, destes últimos citados, todos seguem em Leipzig.

Timo Werner, gande nome da história recente do RB — Foto: EFE/EPA/FILIP SINGER

E a estreia na elite não poderia ser melhor. Desbancando os tradicionais Borussia Dortmund (3º), Borussia Monchengladbach (9º), Schalke 04 (10º), Eintracht Frankfurt (11º) e Bayer Leverkusen (12º), o RB Leipzig ficou atrás somente do gigante Bayern de Munique, com 20 vitórias e sete empates em 34 partidas, garantindo, assim, vaga em sua primeira Liga dos Campeões da Europa.

Porém, nem tudo foram flores na primeira temporada na Bundesliga. Muitos torcedores dos mais diversos clubes do futebol alemão aproveitaram as partidas frente ao Leipzig para protestar contra a administração do clube, visto que a grande maioria é contra ao cenário aonde uma empresa, mesmo que não em porcentagem, administre de forma completa um time. Faixas com dizeres como: “O clube mais odiado da Alemanha”, foram vistas pelos estádios.

Protestos contra o RB Leipzig — Foto: Michaela Rehle/Reuters

A estreia do RB em competições continentais se deu na temporada seguinte, 2017/18. Caindo em uma chave que parecia ser tranquila com Besiktas (TUR), Porto (POR) e Mônaco (FRA), porém, os alemães foram eliminados ainda na fase de grupos, com apenas sete pontos conquistados. Essa posição lhe garantiu vaga na fase de 16 avos de finais da Liga Europa, quando foi eliminado pelo Olympique de Marseille — que seria vice-campeão.

Nas contratações, seguiu sua política interna de buscar jovens jogadores. Sob o comando de Ralph Hasenhuttl, chegaram, ainda em 2017/18, o zagueiro Ibrahima Konaté — a custo zero vindo do Sochaux; o meia-central Konrad Laimer, vindo do RB Salzburg, os pontas Bruma e Lookman, de Galatasaray e Everton, respectivamente; além do atacante Augustin, do PSG. A temporada não teve o mesmo sucesso da anterior, com um 6º lugar na Bundesliga e eliminado na segunda fase da DFB Pokal, o clube amargou uma classificação para a Liga Europa de 2018/19.

Para a temporada seguinte, a principal mudança ocorreu no comando do time, Hasenhuttl saiu e deu lugar a Ralf Rangnick, grande nome da gestão futebolística da Red Bull, principalmente na Áustria. Nas contratações, mais jovens chegaram ao elenco, Nordi Mukiele, lateral/zagueiro; Amadou Haidara, meia-central; e Matheus Cunha, atacante, foram as principais aquisições. Com 66 pontos em 34 rodadas, ficou atrás apenas de Bayern e Dortmund, retornando, novamente, a Liga dos Campeões. Na DFB Pokal, ficou com o vice-campeonato, perdendo a final para Bayern por 3 a 0.

Após boas campanhas a frente do Hoffenheim, o também novato e promissor treinador, Julian Nagelsmann, de 31 anos, chegou para comandar o RB Leipzig na atual temporada. Com ideias novas, de movimentação de bola e agressividade com a posse dela, o “time propaganda” — como é chamado por alguns rivais em alusão ao patrocínio da marca de energéticos — começou a assustar de vez dentro de campo.

Julian Nagelsmann, comandante do RB — Foto: UEFA/Reprodução

Na temporada alemã, que se encerrou no último mês de junho, paralisada por três meses em virtude da pandemia do novo coronavírus, o RB Leipzig chegou a ser o “campeão de inverno” — título simbólico ao clube que ocupa a primeira posição antes da pausa em janeiro.

Com uma movimentação de mercado mais tímida do que nas últimas temporadas, apenas Chistopher Nkunku e Dani Olmo chegaram com grandes pompas, sendo o último em janeiro de 2020. Após a parada de março a maio, o clube não voltou com o mesmo ímpeto e, assim como o Borussia Dortmund, não teve forças para desbancar o octacampeão Bayern de Munique, terminando novamente na terceira posição com os mesmos 66 pontos da época anterior.

Sem sucesso da DFB Pokal, quando foi eliminado ainda nas oitavas de finais pelo Eintracht Frankfurt, o clube ainda nutre as esperanças na Liga dos Campeões. Com tudo, Nagelsmann não contará mais com seu principal artilheiro, Timo Werner, que já se despediu do elenco e atuará pelo Chelsea em 2020/21. Para seu lugar o sul-coreano Hee Chan Hwang foi contratado, outro destaque da franquia na Áustria.

Na primeira vez em que passou da fase de grupos da Champions, o RB já alcança um feito enorme, chega as semifinais da competição. Em um torneio que mudou seu formato a partir das quartas de finais devido a pandemia de coronavírus, os alemães encararam os espanhóis do Atlético de Madrid, finalistas em três edições, nas quartas de finais. Com um esquema muito bem armado, onde defende em um 5–3–2 e ataca em um 3–4–3, os comandados de Nagelsmann bateram os de Simeone por 2 a 1 no Estádio José Alvalade, em Lisboa. O próximo adversário será o Paris Saint-Germain.

Jogadores comemorando gol contra o Atlético de Madrid, pelas quartas de finais da Champions League — Foto: Lluis Gene/Getty Images

O projeto da marca ainda visa o sucesso dentro da Alemanha e no continente de uma forma geral. Pode ser que não venha em 2020, porém, com uma gestão que foge do tradicional, quem dúvida que o time que prospecta jogadores aos quatro cantos do mundo chegará lá?!

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Marcos Cardoso
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Jornalista que escreve, que lê, que vê e que sente. Que não esquece do bom café.