Demissão de Roger Machado reforça a política resultadista que afeta o futebol brasileiro

Danilo Jordão
Mezzala
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4 min readSep 8, 2020

Desligado do clube após derrota para o Flamengo, na 7ª rodada, o treinador é mais um exemplo de técnicos demitidos no decorrer da temporada

(Foto: Felipe Oliveira / E.C. Bahia)

O Esporte Clube Bahia comunicou, através de uma nota do presidente Bellintani nas redes sociais, que Roger Machado não é mais o treinador do tricolor. O técnico estava no clube desde abril do ano passado, e comandou a equipe em 74 partidas, com 30 vitórias, 22 empates e 22 derrotas, um aproveitamento de 50%.

Para o futebol brasileiro, Roger Machado fez um trabalho de longo prazo. Conquistou dois campeonatos baianos e foi vice-campeão da Copa do Nordeste, derrotado pelo Ceará. No Campeonato Brasileiro de 2019, conseguiu uma classificação para a Sul-americana com a 11ª colocação.

O curioso, no caso da demissão do treinador, é o comportamento da diretoria do clube baiano. Dois dias antes do jogo contra o Flamengo, o presidente bancou a permanência de Roger, dizendo acreditar na continuidade do projeto, além de ter feito uma análise com outros dirigentes após o título baiano, decidindo mantê-lo no cargo. Essa situação nos leva a fazer o seguinte questionamento: vale a pena demitir um treinador no decorrer de um campeonato, ainda mais no início, por conta de alguns resultados negativos? A resposta, pelo menos para os europeus, considerados exemplo de organização nos meios esportivo e social, é que não, o futebol não pode ser resultadista.

Vejamos como exemplo um dos maiores treinadores da história do futebol e maior ídolo do Manchester United, Sir Alex Ferguson. O treinador chegou ao clube inglês em novembro de 1986 e ficou até 2012, quando decidiu se aposentar. Porém, o ídolo demorou cerca de 4 anos para levantar seu primeiro caneco pelo clube, quando ergueu o troféu de campeão da FA Cup, na temporada 89–90. No final, foram quase 1500 jogos e 38 títulos comandando os diabos vermelhos, sendo o treinador mais campeão da história da Premier League, com 13 conquistas.

De acordo com nossa cultura, Ferguson não duraria nem seis meses no Brasil devido aos resultados iniciais. Brincadeiras à parte, o futebol brasileiro é famoso pelas crises políticas internas dos clubes e pressão das torcidas por mudanças drásticas na forma de um time jogar da noite pro dia. Com isso, os treinadores estão sempre pressionados e, quando a equipe não está rendendo da forma esperada, os dirigentes realizam a demissão. Na verdade, esse mecanismo de trabalho é feito para blindar a diretoria, como se a saída de um treinador após algumas derrotas resolvesse os problemas. É muito raro um técnico chegar em uma equipe vencendo os primeiros jogos, visto que ele precisa apresentar para o elenco sua filosofia de jogo, metodologia de treinos e conhecer melhor as características dos jogadores. Forma-se, então, um ciclo vicioso, no qual o treinador começa a perder e é demitido. Outro entra no lugar, não tem tempo para “arrumar a casa”, fica pressionado e é demitido. Esse ciclo ocorre até a chegada de um salvador da pátria, o que acontece em raríssimos casos.

Apesar de tudo que foi dito, Roger Machado teve um tempo considerável para realizar seu trabalho, mais de 1 ano e 5 meses. O mais importante é questionar o porquê do clube esperar o barco afundar para tentar salvá-lo. Uma demissão na sétima rodada do campeonato só prejudica a equipe, ainda mais sem um novo treinador contratado, retrato da precipitação da diretoria acerca da demissão de Roger. É válido ressaltar que Roger Machado foi criticado quando chegou no Bahia por parte da imprensa, visto que muitos entendiam como um “passo para trás” em sua carreira. Ele mostrou que o Bahia poderia competir com os clubes do eixo, deu trabalho em diversas competições e manteve a hegemonia na capital baiana, conquistando os dois estaduais que disputou.

(Foto:Reprodução)

Sobre o Tricolor de Aço, o clube está perto da contratação do medalhão Mano Menezes. O técnico está sem clube desde que saiu do Palmeiras, em dezembro do ano passado. No Porco, Mano também foi vítima de uma política resultadista, ficando apenas três meses no cargo, disputando vinte partidas. Caso seja contratado, estaremos na torcida por um planejamento de longo prazo, capaz de colher grandes frutos no decorrer do trabalho.

Enquanto eu escrevia essa matéria, mais um treinador foi demitido entre os grandes clubes do país. Enderson Moreira, após 12 jogos frente ao Cruzeiro, foi desligado do cargo. Reflexo da zona que é o clube mineiro atualmente, reflexo do quanto é desorganizado o futebol nacional.

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