Futebol é coisa de mulher sim

O futebol se mostra como um dos principais meios para o empoderamento feminino e para a luta contra o preconceito

Joao Octavio Laux
Mezzala
5 min readOct 28, 2019

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(Foto: Ilustração Catarina Bessel)

Como sabemos, a luta pela igualdade de direitos entre mulheres e homens vem se tornando cada vez mais forte na nossa sociedade, independentemente do âmbito social, e no futebol, isso não é diferente.

Todas as características do esporte mais praticado no mundo são repletas de ideias retrógradas, ou melhor dizendo, ultrapassadas e gestões baseadas nos modelos mais conservadores, onde apenas algumas mulheres conseguem ganhar visibilidade. Entretanto, a batalha que elas enfrentam para alcançar o mesmo nível de valorização que os homens tem mudado a situação de maneira estável, mas ainda sim existe um caminho muito longo a ser percorrido, onde a dificuldade que as jogadoras brasileiras enfrentam para se tornarem como profissionais e serem valorizadas como merecem é um exemplo, já que está enraizado em nossa cultura que o futebol é esporte para homem e, que por isso, o futebol feminino nunca alcançará o mesmo nível técnico que o masculino.

(Foto: Ilustração Támara Tuudak)

Não restam dúvidas de que o número de mulheres envolvidas no futebol brasileiro tem aumentado consideravelmente, assim como as conquistas têm se mostrado cada vez mais expressivas ao longo desses anos, como a atuação em Mundiais e Olimpíadas e o credenciamento das árbitras na Federação Internacional de Futebol (FIFA). Situações como essas vêm marcando a jornada feminina no universo futebolístico. Porém, a falta de investimentos e o descaso da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), faz com que o esporte seja menos divulgado e as pessoas se interessem menos pelo futebol feminino nacional.

Seleção brasileira após conquistar a Copa América de Futebol Feminino pela 7ª vez (Foto: Jornal da Paraíba)

Em uma entrevista ao Mezzala, a jovem estudante de 18 anos, Sofia Caruso, deu um depoimento sensato a respeito do futebol ser um dos principais meios para a luta pela igualdade de gênero e contra o preconceito: “Para mim, o futebol feminino é muito representativo para luta das mulheres, já que quando se pensa em futebol, se pensa automaticamente na forma masculina de jogar. Talvez seja falta de informação sobre os times, mas o principal motivo da falta de visibilidade é aquele discurso antigo de que “futebol masculino é melhor que feminino”. Na verdade, é que fomos ensinados assim, a achar que existem esportes de menina e de menino, quando na verdade o esporte é para ser algo plural. Ver essas mulheres jogando e tendo a raça de continuar num campo (literalmente) tão sexista, da vontade de seguir com a nossa luta também, seja ela qual for. Aliás, não se declaram suspensas diversas atividades quando se tem a Copa do Mundo feminina, mas pra masculina sim. E o contraditório é que a Marta já ganhou Melhor do Mundo pela FIFA 6 vezes, mais do que qualquer homem no campo futebolístico. Se houvesse mais investimento como no futebol masculino, a divulgação e o interesse seriam maiores. A gente só precisa tirar essas raízes machistas de dentro da gente.”

Marta, camisa 10 da seleção brasileira, com seus 6 prêmios de melhor jogadora do mundo (Foto:Purepeople.com.br)

Diferentemente de algumas confederações europeias, como a Federação Norueguesa de Futebol, que em 2018 oficializou que igualaria os valores recebidos pelos atletas que servirem a seleção nacional, o Brasil não pode dizer que faz a sua parte ao tentar tratar todos de maneira igualitária. Os valores salariais femininos são muito menores ao serem comparados com os salários astronômicos que os atletas recebem, no qual poderiam facilmente pagar muitas jogadoras do país. Podemos notar, também, que existem tentativas para fazer com que as modalidades atinjam a mesma importância. Apesar disso, são, na maioria das vezes, vistas como um plano para o futuro que não dá esperanças para a concretização de tais ideias.

Os números indicam que o futebol feminino está no caminho para cruzar os limites dos EUA (país que conta com uma liga bem organizada e atrativa para todas as jogadoras do planeta) e se tornar um negócio no mundo todo, tendo como destaque a Europa. No mês de Março desse ano, o banco britânico multinacional Barclays, parceira da Premier League (liga de futebol da Inglaterra) há 20 anos, decretou que será o patrocinador master da Superliga Feminina da Inglaterra, onde investirá mais de 10 milhões de libras (R$51,4 milhões) na competição e no desenvolvimento da categoria. O valor é, praticamente, igual ao que deve ser pago aos homens, por ano, como banco oficial da liga. E no dia 8 desse mesmo mês, a Adidas, patrocinadora oficial da Copa do Mundo, se pronunciou, dizendo que corrigiria um dos principais casos de desigualdade de gênero no mundo dos esportes. A empresa alemã, então, pagou de bônus às campeãs mundiais o mesmo valor que foi pago para a seleção masculina da França, na Copa da Rússia, em 2018.

(Foto: Reprodução/Site- thefa.com)

Logo mais será realizada a grande final da Copa Libertadores da América de Futebol Feminino entre Corinthians e Ferroviária. A decisão será transmitida ao vivo e com exclusividade pelo DAZN, às 21h30, no Estádio Olímpico de Atahualpa, no Equador, sede do campeonato. O clube de Itaquera confirmou sua vaga na última sexta-feira (25) após golear o América de Cali (COL) por 4 a 0, com gols de Érika, Grazi e Millene (dois). Já o Ferroviária garantiu a defesa do título ao bater o Cerro Porteño (PAR), por 2 a 1 na primeira semifinal. O duelo entre os clubes paulistas na finalíssima da Libertadores será uma reedição da final do último Campeonato Brasileiro, em Setembro. Naquela ocasião, os times empataram os dois jogos e a Ferroviária levou o título nos pênaltis, no Parque São Jorge, casa corinthiana.

Logo oficial da Libertadores Feminina (Foto: conmebol.com)

O futebol feminino precisa de visibilidade, precisamos valorizar as mulheres que praticam esse esporte, e com isso, fortalecer a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres que é essencial nos dias de hoje.

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