Gasperini e como sua “affascinante” Atalanta se tornou a sensação europeia

Com um projeto gerencial e paciente, Atalanta colhe frutos do trabalho de Percassi e Favini

João Pedro Ramalho
Mezzala
5 min readAug 24, 2020

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Fonte: NICOLÒ CAMPO

O ceticismo lapidado em torno da tradicional Atalanta Bergamasca Calcio era compreensível. Os nerazzurri fogem do padrão italiano conservador e não desfrutam de uma grande torcida ou técnico internacionalmente renomado. Todavia, a centenária “La Dea” e seu histórico grupo comandado por Gian Piero Gasperini romperam como fronteiras de Bérgamo e conquistaram o mundo nessa temporada.

A estruturação da Atalanta como conhecemos hoje foi paulatinamente iniciada em suas décadas fascistas de 1920 e 1930. Antes de disputar a Série A italiana, o clube da região da Lombardia construiu um dos primeiros estádios do país, em 1928, nomeado Brumana, em homenagem autocrata militar Mário Brumana. Anos após sua fundação, em 1936, a Dea disputaria de forma inédita a primeira divisão do país.

Na década de 1960, os nerazzurri atingiram sua glória máxima. O elenco liderado por Angelo Domenghini, vice-campeão do mundo na Copa de 70, derrotou o tradicional Torino (ITA) e conquistou, dentro do San Siro, sua primeira Coppa Italia.

Angelo Domenghini e o primeiro título nacional da Atalanta

Nos anos 80, a Atalanta tivera honestas participações na Série A, na Recopa Europeia e Coppa Itália. Entretanto, em 1990, o então presidente Cesare Bortolloti sofrera um grave acidente de carro e falecera aos 39 anos. A partir desse trágico momento a história da Dea mudaria para sempre.

Antonio Percassi, ex-jogador dos nerazzurri na década de 70, assumiu o comando da instituição e começaria desde já a implantar uma filosofia gerencial longa e trabalhosa. A visão empreendedora do multimilionário Percassi plantaria uma semente: o descobridor de talentos Mino Favini. Com uma ideologia de manter e não vender jovens promessas, Favini assumiu a direção das divisões de base da Atalanta. Junto ao presidente, presavam pela paciência e perspicácia para poder incorporar na hora certos jogadores à equipe principal. Percassi acabaria se demitindo quatro anos depois, mas retornaria à Bérgamo em 2010 para reviver seu legado e transformar uma Atalanta em um dos principais tempos da Itália e da Europa.

Percassi na pré temporada de 2019 / Getty Images

Antes dos nerazzurri se tornarem uma sensação europeia, todo o processo de administração com seus méritos. Fugindo do paradigma italiano de periferização em investimentos nos jovens atletas, a Atalanta tem o selo de melhor divisão de bases do país, eleito pela FIGC (Federazione Italiana Giuoco Calcio). Os olheiros escolhidos por Percassi também são peças essenciais nessa grande estruturação. A Dea gira seu fluxo de capital a partir de bons investimentos em jovens baratos, encontrados por esses mesmos olheiros. Franck Kessié e Dejan Kulusevski são frutos dessa ideologia. Kessié foi contratado por € 1 milhão e vendido ao AC Milan (ITA) por € 24 milhões. Já Kulusevski tem números ainda mais impressionantes, foi comprado por € 100 mil quando tinha apenas 16 anos e foi negociado com a Juventus (ITA) por € 35 milhões. Duván Zapata, Marten de Roon e Robin Gosens também chegaram à Bérgamo por um preço ínfimo comparado aos seus atuais valores de mercado.

O maior acerto da gestão de Antonio Percassi chegou em 2016. Gian Piero Gasperini foi demitido do Gênova (ITA) e chegou na Atalanta sem sabre que deixaria seu nome eternizado na história nerazzurri. Gasp já era reconhecido por ter descoberto a posição precisa de jogadores como Domenico Criscito, Diego Milito e Stefano Sturaro, que não eram bem aproveitados até serem treinados por ele. A cabeça pensante da equipe atual, Alejandro “Papu” Gómez, também estava em baixa quando saiu do futebol ucraniano e pisou em Bérgamo. Sua escalada com Gesperini o fez chegar a Seleção Argentina, em 2017. O colombiano Zapata também ascendeu em crescimento aos cuidados de Gasp, tornando-se um dos melhores jogadores do Campeonato Italiano nas últimas edições.

Foto: Reprodução/Atalanta

Em sua primeira temporada no comando, Gasperini figurou a Atalanta entre as quatro primeiras equipes da Calcio, classificando o clube para a Liga Europa. Na competição, se saiu bem no “grupo da morte” com Lyon (FRA), Everton (ING) e Apollon (CYP) e avançou como oitavas, quando foi eliminado pelo Borussia Dortmund (ALE).

Com seu estilo de jogo ofensivo, a Dea marcou 77 gols em 38 partidas pelo Campeonato Italiano da temporada 2018 / 2019.Tal campanha gerou resultados e a Atalanta terminou em terceiro lugar, classificando-se de forma inédita para uma Liga dos Campeões.

Com o valor de mercado de seu elenco triplicado na Era Gasperini, a Atalanta fez história novamente ao ter o melhor ataque da Calcio nos últimos 60 anos, superando a Fiorentina (ITA) de 1958/59. Foram 98 gols ao longo da competição.

Mesmo com um investimento de segunda divisão da Inglaterra, um nerazzurri se classificou junto ao Manchester City (ING) no Grupo C e avançou como oitavas de finais em sua primeira participação na UCL. Em um estilo de jogo rápido, o 3–4–1–2 de Gasperini aposta em um bloco de marcação alto e compacto que dificuldade de saída de bola adversária. Com seu gegenpressing efetivo e seu ataque mortal dentro e fora da área, um Dea marcou 114 gols na temporada iluminada do artilheiro esloveno Josip Ilicic. No confronto pelas oitavas, atropelou o Valência marcando oito gols em duas partidas. Nas quartas, caíram em uma fração de três minutos para os franceses do Paris Saint-German (FRAN) de Neymar e companhia.

A Atalanta Bergamasca Calcio é uma surpresa improvável para quem desconhece o projeto de iniciado com Percassi e Favini.O trabalho paciente e árduo vem colhendo frutos e mesmo não avançando na competição europeia, Gian Piero Gasperini e temida Atalanta construiu uma história que ainda está sendo escrita . O percurso do pequeno tempo da região da Lombardia será lembrado ao longo dos anos e quem sabe não veremos esse timaço aprontar mais uma vez nas próximas temporadas !?

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