Grande reforço: Matías Zaracho é do Atlético Mineiro

Jovem ex-Racing chega como importante complemento ao time de Jorge Sampaoli

João Terra
Mezzala
6 min readOct 20, 2020

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Novo contratado realizou seu primeiro treino com a nova equipe no último domingo (Foto: Pedro Souza/Atlético-MG)

No último sábado (17), o Atlético Mineiro oficializou a contratação de Matías Zaracho, jovem meia de 22 anos que defendia o Racing. Formado no próprio clube de Avellaneda, o argentino se destacou na conquista do campeonato nacional, na temporada 18/19, quando foi eleito a revelação da competição.

Com a camisa da seleção, esteve no grupo ganhador do Pré-Olímpico Sul-Americano Sub-23, no começo desse ano, além de ter marcado presença no Sul-Americano e na Copa do Mundo da categoria Sub-20, ambos disputados em 2017. Pela equipe principal, o jogador natural de Wilde, na província de Buenos Aires, foi convocado em uma oportunidade, em 2019, quando entrou em campo uma vez.

Zaracho chega ao clube mineiro como uma das principais contratações da janela, principalmente por já se tratar de um excelente jogador e que tem grande margem para evolução. Por seis milhões de dólares, o novo reforço do Galo se tornou a maior contratação da história do clube, assinando um contrato válido até outubro de 2025.

Claro que, por ter apenas 22 anos, o clube o enxerga também como uma ótima oportunidade de lucrar futuramente, com uma provável venda à Europa. Mas, além disso, se trata de um jogador que tem tudo para acrescentar à equipe hoje. Para entender melhor onde e como Zaracho pode contribuir dentro de campo, é necessário que o novo contexto ao qual está inserido seja analisado.

Anúncio oficial de Matías Zaracho no Galo (Foto: Divulgação/Atlético-MG)

Um dos principais times do país atualmente, o Atlético é um conjunto que já mostra estar bem encaixado e com as ideias de seu treinador assimiladas. Daqui para frente, o que se deve ver na equipe é o aperfeiçoamento da aplicação dos conceitos.

Por se tratar de Sampaoli, e também graças à profundidade cada vez maior no elenco do Galo, não há onze jogadores fixos que sempre iniciam as partidas. Portanto, é preciso compreender que Zaracho fará parte de um ótimo conjunto de jogadores, que se alternam constantemente na equipe titular.

Para exemplificar um time base, abaixo está como Sampaoli posicionou seus atletas na organização ofensiva na última partida, contra o Bahia.

Organização ofensiva do Atlético em 3–1–3–3, com um losango no meio-campo

Através de uma ocupação racional dos espaços, os comandados de Sampaoli sempre buscam cenários de mais posse de bola que o adversário, visando ao domínio e controle das partidas, entrando no campo rival em bloco e construindo seus ataques com paciência, e ao mesmo tempo objetividade.

Aprofundando as funções realizadas por cada atleta no jogo contra a equipe baiana, observamos uma saída de três, com Guga na linha dos zagueiros, Jair se posicionando às costas dos atacantes adversários na saída de bola, Franco e Arana como internos, trabalhando na base da jogada ou se posicionando em zonas intermédias para atacar o espaço entre zagueiro e lateral em profundidade, e Nathan por trás de Eduardo Sasha, se movimentando constantemente nas zonas entre linhas, principalmente no setor esquerdo para triangular com lateral e ponta daquele lado. Os extremos Savarino e Keno eram os responsáveis por gerar amplitude, e Sasha jogava no centro do ataque, recuando constantemente para realizar apoios.

Por característica, o mais provável de acontecer é Zaracho disputar uma vaga com o equatoriano Alan Franco. Ambos se assemelham por terem uma forte chegada à área adversária e ocuparem bem os espaços entre as linhas rivais.

Alan Franco ocupando zonas intermédias (entre os quatro adversários que defendem o lado da jogada)

Zaracho é um jogador interessantíssimo e mais uma arma para o treinador argentino usar como opção na equipe que briga pelo título nacional. Antes um ponta-direita, La Joya teve a sua mudança de posicionamento muito influenciada por Eduardo Coudet, técnico do Racing nos dois últimos anos, que escalava Zaracho como um meia central ou um meio-campista pela direita na linha de três do seu tradicional 4–1–3–2. Atuando por ali, o atleta se desenvolveu taticamente e amadureceu consideravelmente neste sentido.

O período sendo comandado por Coudet foi fundamental para o jogador evoluir sua noção de posicionamento e entendimento geral do jogo, que, aliadas a seu refino técnico, verticalidade nas ações e capacidade física o caracterizam como peça rara no futebol sul-americano. Vale destacar que ele não é um meia-armador, um enganche, um “camisa 10 clássico”, como alguns torcedores atleticanos esperam, e sim um atleta muito capaz de contribuir nas transições e com um senso de posicionamento incrível.

Como dito anteriormente, é esperado que Zaracho concorra a uma vaga com Franco, justamente nesta posição de interior-direito. O novo camisa 28 do Galo se destaca ao se posicionar em zonas intermédias, explorando as costas dos volante adversários, onde pode receber entre as linhas e olhar o jogo de frente para acionar um companheiro com um passe preciso, ou atacar o meio-espaço (entre zagueiro e lateral) em profundidade como alternativa de invadir a área adversária.

Inclusive, uma de suas principais características é a chegada à área rival como um elemento surpresa, vindo de trás. Essa era uma das principais características no Racing, hoje comandado por Sebastián Beccacece, principalmente quando o centroavante Lisandro López descia para realizar apoios e acionar Zaracho com passes de primeira. De fato, ele é muito capaz de se movimentar como homem livre — conceito aplicado também por Jorge Sampaoli.

Vai muito bem ocupando os espaços dentro da área, é verdade. Entretanto, o pior quesito do jogador são as finalizações. Definitivamente, é o ponto mais fraco de seu jogo, o fazendo desperdiçar grandes oportunidades de gol.

(Foto: Divulgação/Trivela)

Trabalhar na base da jogada, como faz Franco eventualmente, também poderá ser visto no posicionamento de Zaracho. O argentino vai bem em termos associativos, sendo muito capaz de acionar companheiros no último terço com alta precisão nos passes.

O atleta é significativamente destacável nas fases sem bola também. Apresenta uma capacidade de pressionar que chama a atenção, o que será fundamental no time de Sampaoli, já que é uma das marcas da equipe a pressão alta na saída de bola rival e a pressão pós-perda nas transições defensivas.

Apesar de seu físico — 1,71 de altura e 65 kg — não ser dos mais chamativos, Zaracho apresenta grande êxito nas divididas e duelos pelo chão contra os adversários, indo muito bem em um trabalho área a área. Tem ótimo aproveitamento em roubadas de bola, muito pelas boas tomadas de decisão no sentido de pressionar alto ou não, sabendo o momento exato de fechar as linhas de passe e realizar coberturas para seus companheiros. Sem a bola, Zaracho é um verdadeiro batalhador, com uma capacidade de recuperação impressionante e grande fôlego, correndo os 90 minutos e se doando constantemente pela equipe.

É muito importante também nas transições ofensivas, onde sempre é um dos primeiros a se posicionarem para receber a bola em profundidade, explorando sua velocidade para chegar ao terço final com rapidez.

(Foto: Divulgação/ClubCall)

Será muito interessante ver Matías Zaracho jogando no futebol brasileiro. É um atleta que tem um futuro muito promissor pela frente e, certamente, já será bastante útil na equipe de Jorge Sampaoli, sendo mais uma grande opção para contribuir com a luta do Atlético pelo título do Campeonato Brasileiro até o final.

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