Ibra até 2021: Um leão em seu habitat natural

Aos 38 anos, sueco enfim renova seu contrato para ser o que quase sempre foi: um protagonista

Kaio Sauaia
Mezzala
5 min readSep 5, 2020

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(Foto: AC Milan: Reprodução)

No Taekwondo, o “yop chagi” é usado como um golpe de contensão quando, em uma luta, o competidor está a poucos pontos na frente de seu adversário e usa do chute para mantê-lo à distância, administrando sua vantagem. Podemos dizer que a renovação do Milan com o faixa preta da arte marcial, Zlatan Ibrahimović, foi um “yop chagi”, já que a chegada do veterano tem dado bons frutos a um jovem time que quer seguir com tais resultados.

Mesmo com Zlatan já tendo a idolatria do torcedor (conquistada na primeira passagem) e rendendo a ponto de mudar o panorama dos “rossoneri” por completo, esse vínculo ficou ameaçado por boa parte da temporada. Isso porque, com o intuito de renovar e reformular sua equipe mais uma vez, o Milan tinha negócios avançados com Ralf Rangnick, ex-diretor de futebol e treinador do RB Leipzig, sendo responsável por toda a construção do atual elenco semifinalista da UEFA Champions League, além de ter feito trabalhos consideráveis no comando do futebol de Schalke e Hoffenheim, baseando-se na contratação, evolução e valorização de jovens jogadores, concluindo ou em aumento do caixa, ou na montagem de um time mais competitivo com um orçamento mais limitado. Tal filosofia era perfeita para o momento do clube de Milão depois de inúmeras tentativas de mudanças falhas que custaram caro. Com tal metodologia, a permanência do acrobata era improvável e, em meio a tantas especulações, houve diversas perguntas ao jogador que, como de praxe, respondeu de forma polêmica, deixando seu futuro em aberto:

“Eu não o conheço e nem sei se ele chegará mesmo (ao Milan). Essa informação não chegou a nós jogadores, talvez aos jornalistas sim. Não sei nem se isso é oficial ou não”…

…“Ibra joga para ganhar alguma coisa ou fica em casa”

Todavia, todos os rumores e discussões foram por água abaixo, já que entrave entre Ibra e Rangnick e a arrancada do esquadrão de Stefano Pioli fizeram com que o sueco, o treinador e o atual diretor de futebol e lenda do clube, Paolo Maldini, permanecessem em seus respectivos cargos e que o trabalho tivesse sequência.

Impacto imediato

(Foto: Getty Images)

Depois de um início fraco com Marco Giampaolo, a diretoria dos “diavolos” decidiu mudar o comando técnico, trazendo Stefano Pioli como uma espécie de “tampão” até o fim da temporada. Como era esperado, Pioli chegou e mudou o semblante da equipe, que se tornou mais consistente e deixou a briga da parte de baixo da tabela para se estabilizar no meio dela. Era o início de um sonho por competição europeia, já que depois de um ano sem poder jogar nenhuma, devido à uma punição da UEFA, havia uma nova oportunidade para recuperar um lugar que era costumeiro para torcedores milaneses. Mas era claro que faltava algo para competir, principalmente quando a referência do ataque, Piatek, decepcionava, ainda mais depois de uma fase iluminada.

Sem contar na famigerada “maldição do 9”, que corria pelos gramados de San Siro, perseguindo não só os jogadores que usavam o número na camisa, mas também os que atuavam na posição de ataque. Entre estes: Higuaín, Cutrone, Piatek, André Silva, Kalinić e alguns outros nomes consagrados no futebol italiano que pouco renderam com a tradicional camisa.

Para acabar com todos esses problemas, era necessário trazer um nome de “costas largas”, experiente, que fosse acessível e que tivesse qualidade suficiente para comandar o jovem ataque “rossoneri”. Bastou que Maldini agisse na busca de opções e visse Ibra como o a melhor, por ter além de todas essas características, identificação com o clube.

E não deu outra. Ibrahimović marcou 11 gols e deu 5 assistências em 18 jogos, e acabou não só sanando os problemas ofensivos do time de Stefano Pioli, como potencializou os jogadores ao seu redor, como Ante Rebić, Rafael Leão e Hakan Çalhanoğlu, aumentando números como:

-Médias de gols por partida, de 1,00 para 1,65.

-Média de gols sofridos por partida, de 1,50 para 1,21

-Saldo de gols, de -5 para 17.

-Média de pontos ganhados por partida, de 1,20 para 1,73

Tais dados proporcionaram uma evolução no campo e, automaticamente, uma melhora evidente na colocação do Milan no campeonato, terminando como o sexto colocado na tabela da Calcio A, ganhando jogos como os diante Roma, Lazio e contra a Juventus, onde Ibra teve atuação de gala e colaborou para uma virada espetacular, saindo de um 2x0 para um 4x2. Apesar de todos esses feitos, o sueco lamentou o seguinte fato na etapa final da Calcio:

“Estamos bem e tenho pena de o campeonato estar no fim. Estaríamos em outra situação se eu estivesse aqui desde o primeiro dia.”

Quanto tempo mais?

(Foto: Placard.pt)

Mesmo descartando Rangnick, o Milan ainda tem intenções de trabalhar com jogadores jovens, e a eminente compra de Sandro Tonali e empréstimo de Brahim Díaz enfatizam isso. Porém, o intuito da diretoria é que Zlatan capitaneie esse início de projeto, sendo uma voz ativa no elenco e um líder dentro de campo, ajudando seus companheiros a evoluírem tanto tecnicamente quanto taticamente e, ao fim disso, que ele se torne um embaixador do clube. Assim, a questão que fica é, quanto tempo de “Ibracadraba” nós ainda teremos?

Pelo que se fala na imprensa italiana, o craque joga mais essa temporada e, no seu fim, decide o que fazer, apesar de ser certo que Ibra deve se aposentar na equipe “rossoneri”, até porque, o próprio diz estar por lá por razões emocionais, com uma pitada de ego:

“Disseram que se aposentar nos Estados Unidos seria muito fácil, por isso voltei ao Milan. E estou aqui por paixão, até porque estou jogando quase de graça”.

Ou seja, podemos estar prestes de presenciar o último ano de acrobacias, encaradas, broncas e golaços, características que, com certeza, fazem com que Zlata deixe um legado no Milan, no futebol italiano e no futebol mundial. Independentemente dos atritos e das atitudes desobedientes, já que, como um praticante do Taekwondo, o sueco foi evoluindo, de faixa em faixa, ficando mais experiente ao passar das graduações e temporadas, sendo hoje um faixa preta de primeira linha que, mesmo em idade mais avançada, usa de sua sabedoria para extrair o seu melhor, dando espetáculo e sendo o que foi em grande parte de sua carreira: um protagonista.

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