Matheus Cunha e a “9” da seleção brasileira

Brasileiro vive bom momento no Hertha e tem a chance de mostrar seu futebol no time de Tite

Kaio Sauaia
Mezzala
5 min readSep 28, 2020

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Matheus pela seleção pré-olímpica (Foto: Marcello Zambrana/AGIF)

A tradição da camisa “9” na seleção brasileira é uma das maiores do planeta. Jogadores como Ronaldo, Romário, Tostão, Adriano, Reinaldo e outros craques usaram da numeração e foram importantes à nível de decidirem finais de Copa do Mundo, Copa América e Copa das Confederações. Porém, de um tempo para cá, nosso país tem criado poucos centroavantes que fizessem jus aos nomes do passado, como os dos últimos dois mundiais, Fred e Gabriel Jesus, que, somados, marcaram apenas um único tento em um total de 12 partidas.

Mesmo em uma “má fase”, existem alguns brasileiros da posição que oferecem um grande potencial. O próprio Jesus é um dos nomes, já que sua chegada na seleção foi impactante e suas últimas temporadas demonstraram uma evolução evidente em seu jogo. Não à toa, Tite convocou o atacante para os jogos diante Bolívia e Peru, pelas eliminatórias da Copa de 2022, nos dias 9 e 13, mas não contando com uma lesão do jogador do Man. City, obrigando o técnico a selecionar outro nome.

O treinador optou por Matheus Cunha, atacante do Hertha Berlin de 21 anos, que já jogava pelas seleções de base do nosso país e que compôs o time pré-olímpico, sendo o artilheiro daquele grupo, com 5 gols em 7 jogos. O centroavante tem 1,84, tendo um porte físico mais avantajado do que o companheiro cortado, além de apresentar ótima versatilidade, podendo jogar como primeiro ou segundo atacante e tendo condições de atuar pelos lados, já que sua capacidade de drible e armação não deixa a desejar.

RB Leipzig

(Foto: Divulgação/RB Leipzig)

Com boas atuações no Sion, a Red Bull gastou 15 milhões de euros no atacante, vendo o jovem como um candidato para fazer parte do projeto do Leipzig de desenvolvimento de joias, pagando um preço baixo e os vendendo por cifras bem maiores.

Na sua passagem pelo clube, Matheus não chegou a ser muitas vezes titular, mas teve minutagens consideráveis, sendo uma peça influente na rotação com Poulsen e Werner, jogando um total de 52 partidas e marcando 9 gols, incluindo um dos mais belos da temporada 18/19, que chegou a concorrer ao prêmio Puskas.

Hertha Berlin

(Foto: Getty Images)

Apesar da metodologia de lucro do RB, o Hertha contratou Cunha por, apenas, 5 milhões de euros a mais que o Leipzig pagou para tirá-lo do Sion. A grande questão era que, junto a ele, o time de Berlim também trouxe Kryzstof Piatek, atacante polonês que vinha de uma boa passagem pelo Milan e que disputaria posição com o brasileiro, custando 30 milhões de euros e sendo a contratação mais cara da história do clube. Mesmo assim, Matheus acabou sobrando e se tornou um dos pilares do ataque da equipe de Bruno Labbadia, que tem extraído um excelente futebol por parte do jogador.

Para se ter uma noção de o quão bom é o momento de Matheus Cunha, basta comparar o tempo que ele leva para marcar um tento em relação aos seus companheiros de convocação. O dono da posição de Matheus no time de Tite, Roberto Firmino, leva, em média, 487,5 minutos, enquanto Matheus precisa de apenas 145. Outro peça certeira no onze inicial de Tite, Neymar também fica atrás do novo parceiro de time, levando 147 minutos para balançar as redes.

Como Tite pode usá-lo?

(Foto: Getty Images)

Já é complicado saber se Adenor Bacchi vai utilizar Matheus em alguma das duas próximas partidas, devido ao seu conservadorismo nas mudanças em relação ao time titular, mas com a versatilidade que o atacante oferece, é improvável que ele não ganhe alguns minutos.

O mais possível de acontecer é que Cunha entre na sua posição de origem, onde foi muito bem sucedido na seleção sub-23 e por ter características que nenhum outro “9” brasileiro oferece, tendo qualidade para finalizar e capacidade de ser uma referência, que, aliás, é algo que o treinador tanto insiste, e que Firmino pouco tem concedido.

Caso tenhamos um Tite mais ousado e com intuito de testar mais, há a possibilidade de vermos Matheus atuando com mais liberdade, podendo jogar tanto pelos lados, quanto como um segundo atacante. Assim ele tem feito pelo seu clube na Alemanha, como mostra o mapa de calor.

Movimentação de Matheus Cunha pelo Hertha (Fonte: SofaScore)

Não será fácil segurar a pressão de usar um camisa tão pesada e de lidar com uma escassez tão longínqua quanto a dos centroavantes da seleção brasileira, mas a personalidade e capacidade de Matheus Cunha são comprovadas, tendo em vista que suas atuações pela equipe pré-olímpica e sua rápida adaptação à um dos campeonatos mais disputados no mundo reiteram tais fatos.

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