Ninguém Ama Como A Gente: o movimento que busca reerguer o Glorioso

Conheça mais sobre a trajetória do projeto realizado por torcedores do Botafogo que, mais uma vez, mostram que ninguém pode calar o seu amor

Danilo Jordão
Mezzala
5 min readAug 30, 2020

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Torcida do Fogão no Nilton Santos, em 2019 (Foto: Reprodução)

O botafoguense não tem tido vida fácil. Desde as conquistas importantes nos anos 90, o torcedor sofre devido à longa crise financeira que o clube enfrenta, culminando em amargos rebaixamentos para a segunda divisão (2002 e 2014) e na escassez de títulos de relevância nacional. Contudo, é válido ressaltar que o “jogador número um” da equipe nunca deixou de estar ao lado do Clube, apoiando-o das arquibancadas do Caio Martins até o Nilton Santos.

Origem do movimento

(Foto: FogãoNET/ Twitter)

No segundo semestre de 2019, o Botafogo vivia uma sequência de péssimos resultados no Campeonato Brasileiro. Porém, o torcedor fazia sua parte, colocando quase vinte mil torcedores por partida no estádio quando a equipe jogava dentro de casa. Após mais um jogo sem levar os três pontos, um torcedor chamado Fellipe Portella, frequentador assíduo das arquibancadas de Engenho de Dentro, disse, com orgulho de seus parceiros de bancada, a frase que ficaria marcada como o nome de um grandioso movimento que estava por vir: “Ninguém ama como a gente”.

Temendo um possível rebaixamento, os torcedores mais apaixonados pelo Clube decidiram se reunir, com o objetivo de aumentar o público no Engenhão e empurrar o time para as vitórias. O movimento foi composto por celebridades, influenciadores digitais, torcedores organizados, povão e qualquer outro que demonstrasse o amor pelo clube.

A luta contra o rebaixamento

O movimento iniciou sua caminhada justamente contra o seu maior rival, Flamengo, na 32ª rodada do campeonato. O alvinegro vinha de três derrotas consecutivas, enquanto o rubro-negro estava na liderança da competição com folga. O resultado foi péssimo para os alvinegros, com a derrota em casa para o rival. Entretanto, os botafoguenses fizeram a sua parte com 23 mil presentes para empurrar o Glorioso. A entrada na zona de rebaixamento se tornou realidade e o time precisava render mais para sair dessa situação.

A torcida entendeu o seu valor e, mesmo após quatro derrotas seguidas, voltou a encher o Nilton Santos. Nos jogos que restavam como mandante, o Botafogo levou mais de 20 mil adeptos em todas as partidas, superando os 30 mil contra o Internacional. Os resultados apareceram, com o elenco derrotando o Corinthians, além de concorrentes diretos como a Chapecoense e o Avaí. Por fim, o clube se manteve na primeira divisão, para o alívio de seus torcedores. O objetivo inicial foi cumprido, mas ainda tinha muito mais trabalho por vir.

A continuidade do Movimento

Visto por todos como um grande sucesso, o Ninguém Ama Como A Gente continuou atuando fora de campo após a vaga assegurada no Campeonato Brasileiro de 2020. Sendo fervorosamente divulgado nas redes sociais por famosos e pelas torcidas organizadas do clube, o movimento mostrou que não tinha data de validade e caminharia ao lado do Botafogo até quando fosse preciso. Além de impulsionar a ida de torcedores aos estádios, a mobilização também influenciou em uma melhora de relação entre os dirigentes e os adeptos. Nos últimos anos, ocorreram muitos protestos com conotação política e esportiva, afastando o público do dia a dia do clube. Mas, com a chegada do movimento, existe mais diálogo entre as duas partes.

A confecção do bandeirão

O principal objetivo de uma torcida é fazer a festa. No Rio de Janeiro, particularmente, as arquibancadas possuíam um tom carnavalesco, apaixonado, com clima de samba e muitas bandeiras tremulando. Todavia, infelizmente, os órgãos públicos têm proibido cada vez mais os adereços que transformam o futebol em algo mágico, contribuindo negativamente para a elitização e teatralização do esporte. Desse modo, são poucas as alternativas possíveis para tornar o ambiente fervoroso. Mas, para um clube que se chama Botafogo, a torcida sempre arruma um jeito de esquentar o jogo.

A confecção de um bandeirão era um sonho dos torcedores alvinegros desde 2013. Porém, o projeto não saía do papel por conta da enorme crise financeira enfrentada pelo clube e pelas dificuldades dentro das quatro linhas. Com a gigante proporção do movimento, esse sonho, cada vez mais se tornou realidade.

O “Ninguém Ama Como A Gente” divulgou em suas redes sociais uma vaquinha virtual, com o objetivo de arrecadar dinheiro para o bandeirão, que teria quase 4000 metros quadrados. Em seis meses de projeto, as doações ultrapassaram o valor almejado inicialmente, tornando possível não só a confecção desse bandeirão, mas também a realização de outro, com 200 metros quadrados, reproduzindo o escudo do Glorioso. A vaquinha virtual beirou os 40 mil reais, extrapolando completamente a previsão dos organizadores. Com isso, os torcedores ajudaram funcionários do Botafogo, que sofriam com os salários atrasados em tempos de pandemia. O movimento contou com a ajuda do artista Beto, conhecido pelas torcidas de Botafogo e Vasco, que produz os materiais utilizados na bancada. Dessa forma, foi finalizado o processo de um dos maiores bandeirões do país e o maior dos clubes da região Sudeste.

Bandeirão sendo preparado para seu primeiro jogo (Foto: Reprodução)

O bandeirão fez a sua estreia contra o Atlético Mineiro, no dia 19 de Agosto. Infelizmente, as torcidas ainda não podem se fazer presentes nas partidas de suas equipes, por conta do novo coronavírus que ainda assola o país. Mas esse projeto alvinegro apenas confirma o que é entoado nas arquibancadas do Nilton Santos: “momentos ruins eu já vivi, mas nunca parei de cantar. E esse fogo no peito, que nunca vai se acabar”. É um dever, portanto, enaltecer o trabalho desses torcedores que lhe oferecem a vida, e não lhe pedem nada em troca.

Vida longa aos Movimentos de Torcidas, vida eterna ao amor pelo seu Clube.

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O que veio primeiro: o sorriso ou o mundo? Na felicidade tudo se cria.