O América-MG de um “Maluco Beleza”

O Coelho vem fazendo uma ótima temporada, com uma campanha sólida na Série B e uma surpreendente chegada às semifinais da Copa do Brasil. Quando se analisa a maneira que a equipe mineira joga, observa-se que muito dessa boa fase se deve ao seu treinador: “Lisca Doido”

João Pedro Cupello
Mezzala
5 min readNov 22, 2020

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Créditos: Flickr: América Futebol Clube

O América Mineiro vem fazendo uma temporada histórica. Fazendo uma boa Série B do Campeonato Brasileiro, ocupando a segunda posição do torneio, e conseguindo uma classificação histórica para as semifinais da Copa do Brasil após passar por gigantes brasileiros como Corinthians e Internacional, o Coelho vem se mostrando como uma das maiores surpresas do Brasil, e um dos favoritos a subir para a primeira divisão do ano que vem. Quando se analisa os motivos para a equipe mineira estar nessa boa fase, muitas respostas acabam se atrelando a um nome: o treinador Lisca, ou “Lisca doido”, como o técnico é popularmente conhecido. O técnico porto-alegrense ex-Ceará e ex-Naútico instaurou um estilo de jogo muito dinâmico e interessante no América, e que vale a pena ser estudado e analisado.

Elenco-base do América-MG

O time do América Mineiro joga num 4–3–3 com um volante e dois meias centrais, o que cria uma boa dinâmica no meio de campo e uma liberdade conveniente para os pontas e os laterais avançarem. Além disso, vale constar que esse primeiro jogador do meio, que é o volante Zé Ricardo, vem muitas vezes para a linha defensiva para dar esse primeiro passe e começar o ataque do Coelho. O camisa 5 possui uma ótima técnica na hora de orquestrar o meio de campo, além de possuir um senso de posicionamento diferenciado e uma leitura de jogo acima do nível de outros volantes do Brasil, o que já fez despertar o interesse de diversos clubes brasileiros como Palmeiras, Flamengo e Atlético Mineiro sobre o jovem meio-campista de 24 anos.

Após essa primeira construção, os dois meias centrais que fazem essa transição ofensiva, que na maioria das vezes são Geovane e Juninho, porém muitas vezes no rodízio entra Alê, criam dentro dessa zona de jogo uma proposta muitas vezes bem clara: trabalhar com os pontas e os laterais. Analisando os jogos, observa-se que o lado que o América mais gosta de atacar é o esquerdo, que conta com o experiente lateral João Paulo, que já teve passagens no Flamengo e no Palmeiras, e, com o ponta camisa 10 Ademir, que é uma das maiores referências técnicas desse time após a saída do destaque Matheusinho, que se transferiu para o Beitar Jerusalém, de Israel. Nessa ala, o extremo faz muitas vezes a aproximação com o meio de campo e o centroavante Rodolfo, fazendo o facão quando não está com a bola no pé e puxando para o centro quando está com a pelota.

Analisando o lado direito, o América conta com o lateral Diego Ferreira, que faz um bom apoio na zona ofensiva, e o experiente ponta Felipe Azevedo, que teve boas passagens no futebol nordestino, como os seus 3 anos como atleta do Sport Recife. Além dele, um outro extremo que vem entrando pela direita e tem recebido muito destaque pelas suas atuações, especialmente pela Série B, é o jovem Léo Passos, jogador de 21 anos emprestado pelo Palmeiras e que até agora já fez 3 gols pela segunda divisão do campeonato nacional, sendo uma das principais referências técnicas da equipe. De atacante, o Coelho conta com Rodolfo, artilheiro da equipe mineira na temporada e o autor do gol contra o Internacional, no primeiro jogo válido pelas quartas de finais da Copa do Brasil. Ele é um centroavante com bom poder de movimentação, muitas vezes criando uma boa amplitude pelas pontas para dar aos extremos uma oportunidade para afunilar. Entretanto, quando necessário, Rodolfo possui boa presença de área e fez muitos gols na base no posicionamento e do oportunismo que todo bom homem de área tem que ter.

Quando se observa a equipe do América em um aspecto defensivo, é notável que o estilo de jogo que Lisca deseja aplicar é uma pressão forte sobre seus adversários. Desde os tempos de Ceará e Criciúma que o treinador gosta de instaurar essa mentalidade, e no Coelho ela é muito bem aplicada, principalmente quando analisamos o desempenho que os 2 meias centrais tiveram nas últimas partidas na Copa do Brasil. Geovane e especialmente Juninho são atletas que fazem muito bem essa pressão desejada por Lisca, e Zé Ricardo, com seu excelente senso de posicionamento e técnica defensiva, consegue efetuar os desarmes ou cobrir bem os espaços deixados pelos meio-campistas. Além disso, vale ressaltar o alto rendimento que os dois zagueiros, Messias e Anderson, teve nos jogos da temporada, sendo muito soberanos pela bola aérea e tendo boas interceptações e desarmes no decorrer da Série B e na Copa do Brasil.

Créditos: Flickr: América Futebol Clube

Portanto, o que se observa é que, atrás de um personagem extremamente carismático e simpático, existe muito conhecimento e estudo tático. Lisca não pode ser apenas definido como o “técnico doido” ou “Maluco Beleza do futebol”. Ele merece muito mais reconhecimento pelo seu trabalho, que vai muito além de sua personalidade e seus momentos carismáticos.

O adversário do América Mineiro nas semifinais da Copa do Brasil será o gigante Palmeiras , e o confronto entre o “Lisca Doido” e o treinador português Abel Ferreira é um duelo que gera enorme expectativas.

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