O projeto que levou o Miami Heat às finais da NBA

Gestão, bons drafts, mentalidade e coletividade fizeram parte da trajetória do time de South Beach

Kaio Sauaia
Mezzala
6 min readOct 2, 2020

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Bam Adebayo levanta taça da conferência leste (Foto: Jim Poorten/NBAE via Getty Images)

O Miami Heat foi o grande campeão da conferência leste da NBA, batendo o Boston Celtics em uma série de seis jogos, garantindo um 4–2 e a vaga na final diante o Los Angeles Lakers. O time de South Beach não chegava às finais desde 2014, último ano em que o trio de All-Stars formado por LeBron James, Dwayne Wade e Chris Bosh esteve formado, com o atual astro dos Lakers saindo da franquia e retornando a equipe que o lançou no basquete profissional, o Cleveland Cavaliers, ao fim daquela temporada. Após isso, Wade acabou indo ao Chicago Bulls e Bosh teve de se aposentar devido a problemas físicos, acarretando no fim de uma era e em um hiato do Heat nas finais da liga.

Porém, mesmo com as baixas perspectivas, escolhas pouco animadoras e um plantel pouquíssimo estrelado, Pat Riley e Erik Spoelstra, a grande dupla de Miami na era das “Dinamic Duos” da NBA, montaram uma equipe aos poucos, visando ter um time competitivo através das necessidades do time, fazendo drafts pontuais e opções de free agency que não afetassem tanto na capacidade da franquia de trazer outros bons jogadores.

Bam Adebayo

(Foto: NBA/ Reprodução)

O pivô foi a 14° escolha geral do draft de 2017, chegando com o patamar de reserva de Hassan Whiteside, uma das principais peças do elenco naquela temporada. Desta forma, Bam não teve muito tempo de quadra no seu ano de rookie, terminando com uma média de 6,9 ​​pontos e 5,5 rebotes após 69 jogos, deixando uma impressão de potencial evolução.

No ano seguinte, Spoelstra notou que não poderia ser competitivo com a passividade de Whiteside, mesmo com seus 2,13 metros e altos índices de pontos e tocos, dando maior tempo de quadra para Adebayo, que acabou a temporada regular com média de 8,9 pontos e 7,3 rebotes, jogando todos os 82 jogos, incluindo contra os Suns, onde marcou 22 pontos e 10 rebotes, e diante os Cavaliers, onde registrou 18 pontos, sendo ambas partidas cruciais para a classificação do Heat aos playoffs.

Com o resultado notável, Miami decidiu efetivar Bam como seu pivô titular na atual temporada e, desta forma, dando espaço para uma evolução notável em suas atuações e estatísticas, sendo assim um nome influente na disputa pelo Most Improved Player. Porém seus primeiros triplos duplos na carreira, sua primeira premiação como jogador da semana na conferência leste, sua primeira vez como All-Star e sua média de 15,9 pontos, 10, 2 rebotes e 5,1 assistências não foram páreas para o ano de Brandon Ingram nos Pelicans, que em sua primeira temporada pelo time de New Orleans se tornou o grande nome da franquia e acabou levando o prêmio.

Mesmo sem faturar o troféu, Adebayo foi um nome crucial para a virada de chave do Heat na temporada 18/19 para a 19/20, já que sua intensidade e capacidade de marcação muito agregaram ao garrafão californiano.

Tyler Herro

(Foto: NBA/ Reprodução)

O ala de 20 anos é outro que o time do estado da Florida selecionou, mas, nesse caso, no último draft, sendo a 13° escolha geral e vindo de Kentucky, onde foi o principal nome da universidade na NCAA, mas que, devido a lesões, acabou tendo uma classificação menor nas seleções. O grande destaque do jovem é seu aproveitamento nos arremessos de 3 pontos ainda no College, sendo esse de 35,5%, fazendo com que o Heat apostasse na revelação mesmo com o histórico de problemas físicos.

A resposta foi imediata, já que Herro acabou se tornando um sexto homem que incomodava diversas vezes o quinteto titular e terminando a temporada regular com média de 13,5 pontos, 4,1 rebotes e 2,2 assistências. Mas o que realmente tem surpreendido em Herro foi seu crescimento evidente nos playoffs, tendo em vista que o jogador não só aumentou sua média em relação a temporada regular, como quebrou alguns recordes da pós-temporada, entre eles o de maior pontuação de um novato em um jogo de finais de conferência na história da NBA, com 37 pontos; jogador mais jovem na história a anotar 30 ou + pontos vindo do banco em um jogo de playoffs; e 2° calouro com mais pontos em um jogo de playoffs, atrás “somente” de Magic Johnson.

Além de tais dados, outros pontos reiteram a maturidade e capacidade de Tyler Herro, como sua mentalidade, já que o próprio diz lembrar de todos os 12 jogadores draftados na sua frente naquela classe, como uma forma de motivação:

“Os 12 caras na minha frente estão na minha cabeça toda hora e todo dia, isso definitivamente me motiva.”

Jimmy Butler

(Foto: NBA/ Reprodução)

A temporada 18/19 marcou o último ano de Dwayne Wade em Miami, que mesmo sem o condicionamento físico e qualidade da época de All-Star, continuava entregando uma liderança e uma capacidade de decisão dos seus anos dourados.

Sem o ídolo no plantel, havia uma necessidade clara de trazer alguém que pudesse exercer as funções que Wade tinha na franquia, mas que, ao mesmo tempo, também se enquadrasse na ideologia de jogo de Spoelstra e Riley de não priorizar ninguém. A escolha foi Jimmy Butler, jogador que, mesmo tendo toda sua qualidade de jogo reconhecida, vivia diversas polêmicas devido à sua relação com a maioria de seus companheiros, tendo problemas em Minnesota e na Philadelfia, já que seu foco e sua competitividade incomodavam muitos jogadores das respectivas franquias.

Essa postura poderia sim incomodar seus companheiros, mas atrapalhava ainda mais a vida dos adversários, que tinham que conviver com um trash talking intenso de Butler, prejudicando tanto psicologicamente, quando tecnicamente. Um caso recente foi o de T.J. Warren, jogador do Indiana Pacers que, mesmo com um altíssimo nível de jogo no início da bolha, acabou sucumbindo às provocações de Jimmy.

Com tal mentalidade precisando aflorar em South Beach e com toda a experiência do ala dentro da NBA, não havia nome melhor para implantar esta forma de jogo. Assim, o desempenho do jogador de 31 anos foi evoluindo paralelamente ao do Heat, sendo crucial para a campanha da equipe de quarto lugar na conferência leste (44–29) e terminando a temporada regular com média de 19,9 pontos, 6,7 rebotes e 6 assisntências.

Menções honrosas

É claro que, em um time onde prevalece o coletivo, não havia como ter apenas três destaques. Aconteceram outros movimentos feitos pela gestão de Miami que capacitaram ainda mais o elenco de Erik Spoelstra. Um surpreendente foi o de Duncan Robinson, que em 2018 se quer foi draftado em sua classe, tendo o Heat como o único interessado em assinar um contrato com o ala, que hoje é um dos mais efetivos chutadores do time e da liga.

Outros dois que chegaram adicionando ao time foram os experientes Jae Crowder e Andre Iguodala, vindos do Memphis Grizzlies. Jae é titular no time de Spoelstra, devido à sua liderança e ótimo aproveitamento nos chutes de bolas de três, já Iguodala é um excelente nome para o banco, tendo em vista que ele foi o sexto homem daquele Golden State Warriors que doutrinou na liga.

Por fim, Goran Dragic, experiente armador esloveno que está em Miami desde a época de LeBron James e cia., sendo hoje não só um líder experiente, mas também um jogador muito consistente, entregando uma boa média de pontos e assistências que, no fim, agregam muito ao grupo, fazendo com que seus companheiros cresçam ainda mais.

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