O Rangers de Steven Gerrard e uma história de reconstrução
A tradicional equipe escocesa, comandada pelo ídolo do Liverpool, encantou o futebol nacional com sua equipe e com sua história de superação
Após um longo período de soberania do Celtic no futebol escocês com nove anos de títulos consecutivos da Scottish Premiership, o campeonato tem um novo campeão: o Rangers Football Club. A equipe azul de Glasgow é o clube com mais títulos na história da competição (55), com apenas quatro à frente do lado verde da cidade, o seu maior rival Celtic.
Na última temporada, os Rangers venceram a liga de maneira completamente dominante e invicta, com um retrospecto de 32 vitórias e seis empates ao final das rodadas.
Esse título possui uma grande importância para os “Gers”. Além de tirar a sequência de títulos seguidos do seu maior rival, redefine o patamar do Rangers em âmbito nacional, principalmente quando se acompanha o histórico recente da equipe azul de Glasgow.
A FALÊNCIA, A RECONSTRUÇÃO, E O RETORNO À ELITE NACIONAL
Há nove anos atrás, um ano após o último título da Scottish Premiership da equipe, o Rangers declarou falência após uma grande crise financeira que ocorreu no clube no fim da década de 2000. O motivo de tal ação se deu graças a diversos problemas administrativos e má gerência do dinheiro da instituição durante esse mesmo período.
A situação do clube era tão complicada que o valor estimado da dívida que a organização devia às instituições financeiras escocesas chegavam a 26 milhões de libras.
Sabendo disso, o clube mais vitorioso da Escócia mudou o nome de “Glasgow Rangers” para “ The Rangers”, e caiu para quarta divisão, onde teve que trilhar todo o caminho rumo à elite do futebol nacional, lugar onde o mesmo realmente merece estar.
O trajeto do Rangers rumo à primeira divisão foi rápida. Após três promoções em quatro anos, a equipe voltou à elite nacional na temporada 2015/2016. Assim, voltaria a enfrentar seus tradicionais rivais, como Aberdeen, Hiberdian e seu maior rival Celtic. O “Old Firm”, como é chamado o clássico contra o rival verde de Glasgow, já não acontecia por cinco anos na elite do futebol escocês. As duas equipes, no entanto, se enfrentaram em duas oportunidades em semifinais de copas nacionais durante esse período.
Na primeira delas, o Celtic venceu por 2-0 em duelo válido pela Copa da Liga Escocesa, em 2015. Na segunda, em 2016, o Rangers eliminou os Bhoys nos pênaltis pela SFA Cup. O primeiro confronto entre os dois na liga escocesa após o retorno dos Rangers, no entanto, terminou com goleada do Celtic por 5-1 em seu estádio.
Nessa edição, o Rangers terminou em 3° lugar, posição digna de um clube que acabara de retornar à Scottish Premiership. Para um time do tamanho e representatividade dos Gers, porém, era frustrante, principalmente tendo que presenciar o título do rival.
Nas temporadas seguintes, os Light Blues de Glasgow ainda amargariam três vices em três edições do campeonato escocês. Na temporada 2018/19, as coisas mudaram. Com um novo e conhecido treinador, o Rangers voltou a figurar em posições de destaque nas competições nacionais, com um padrão de jogo determinante para isso e para o título de 20/21.
O FATOR STEVEN GERRARD
Em 18/19, o Rangers anunciou o histórico ex-jogador Steven Gerrard para o cargo de treinador da equipe. Essa foi a sua primeira experiência como técnico de uma equipe profissional, sabendo que o ex-meia já havia treinado a equipe sub-18 do Liverpool, clube onde é ídolo. Certamente um começo de carreira em um clube do tamanho do Rangers seria um desafio gigantesco.
Nas suas primeiras temporadas, Gerrard deixou os Gers na segunda colocação da Scottish Premiership, além de mostrar um desempenho muito sólido na equipe com seu estilo de jogo ofensivo e propositivo. Com boas atuações de sua equipe, o inglês foi sondado para assumir o cargo deixado por Rafa Benítez no Newcastle, logo após sua primeira temporada no comando. Com todas suas fichas apostadas no projeto de reconstrução do Rangers, o treinador mostraria no futuro que foi a decisão certa sua permanência.
Em seu modelo de jogo, era utilizado o esquema 4–3–3 com grande destaque para a mobilidade e criatividade de seus homens de frente. No meio de campo, o volante tinha boas características defensivas para recompor, mas também qualidade no passe para uma saída de bola mais limpa. Junto a ele, dois meias centrais mais criativos e versáteis, que ajudam na dinamicidade da equipe. Na frente, dois pontas com liberdade para criar e atacar espaços, junto a um centroavante com mais mobilidade.
Na defesa, uma das principais características é a liberdade dos laterais para participar da fase ofensiva, com grande destaque para o capitão e lateral-direito James Tavernier. O camisa 2, inclusive, foi um dos artilheiros do Rangers na Scottish Premiership, com 11 gols.
Com essa liberdade dada aos laterais, os pontas fecham para o meio com espaço para criar e se movimentar, desempenhando uma função parecida com a de dois camisas 10. É bem comum que os dois pontas gerem apoios aos outros jogadores de ataque, como o atacante Morelos, o lateral Tavernier e os dois meio-campistas.
Ianis Hagi, filho do ex-jogador romeno Gheorghe Hagi, desempenhou as duas funções durante o campeonato escocês, sendo peça fundamental no funcionamento da equipe. Ao final da liga, foi o jogador com mais assistências do torneio, com onze passes para gols.
Durante a fase defensiva, o que se destaca nesse modelo de Gerrard é a alta pressão pós-perda da bola. As linhas de marcação, no entanto, não eram tão altas. Assim, a preocupação era tirar os espaços de criação do adversário entre as linhas, compactando elas. Nesse sentido, destaca-se o experiente volante Steven Davies, que foi o jogador com mais desarmes na equipe durante o campeonato.
Por fim, a qualidade do centroavante Alfredo Morelos merece o destaque. Empatado com Tavernier, o colombiano foi o artilheiro da equipe na Scottish Premiership, além de ser uma das referências técnicas do time. Com seu ótimo desempenho no comando de ataque, clubes europeus como Porto, Lille e Everton brigarem para contar com o atacante colombiano no seu plantel.
Com um esquema muito bem organizado e, principalmente, bem executado, a equipe foi campeã de forma invicta do campeonato nacional. Para 2021/22, os Gers buscam manter a base do seu elenco, e sonham com uma possível disputa na Champions League. Uma eventual classificação para os mata-matas da competição seria um grande feito para uma equipe que há pouco tempo estava na 4ª divisão da Escócia.
