O West Ham de David Moyes e a redenção de Jesse Lingard

A equipe comandada pelo técnico escocês surpreende na temporada 2020/21 e chega na Europa League, desafiando todas as expectativas.

João Pedro Cupello
Mezzala
7 min readMay 23, 2021

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CRÉDITOS: whufc.com

Durante a temporada 2019/2020, o West Ham United, equipe da região leste de Londres, fez atuações fracas e terminou abaixo das expectativas criadas pelo clube pra temporada, ao terminar na 16ª colocação da Premier League e sendo eliminado na quarta rodada da FA Cup pelo West Bromwich.

Sabendo disso, o trabalho do técnico escocês David Moyes, que já teve passagem pelo Manchester United na temporada 2013/14, foi questionado e a sua manutenção no comando dos “Hammers” também entrou em pauta. Porém, em uma decisão normalmente vista no cenário internacional, e que futuramente foi mostrada que foi acertada, Moyes foi mantido no cargo e o West Ham fez a sua melhor temporada em muito tempo, e assegurou uma vaga para a Europa League ao terminar na 6ª colocação da Premier League, ficando na frente de times tradicionais, como Arsenal e Tottenham, 2 membros do chamado “Big Six”.

Vendo esses resultados surpreendentes, vale-se avaliar o que levou um clube, que previamente brigava para não cair para a EFL Championship, à segunda maior competição continental da Europa.

1- MANUTENÇÃO DE JOGADORES IMPORTANTES E TRANSFERÊNCIAS

No fraco desempenho que a equipe do West Ham teve na temporada passada, alguns jogadores conseguiram se sobressair dentro de campo. Entre eles, vale destacar o meio campista checo Tomáš Souček, jogador que na época era recém contratado pelo time londrino vindo do Slavia Praga, o atacante Michail Antonio, artilheiro da equipe naquela temporada e o jovem volante Declan Rice, uma das referências dos Hammers e atleta com passagem pela seleção inglesa. Além deles, temos o brasileiro Felipe Anderson, que por mais que seja um jogador talentoso e uma das estrelas da equipe, fez em uma temporada abaixo do esperado.

Meio campista Tomáš Souček em ação pelo West Ham na temporada 19/20. CRÉDITOS: SKY SPORTS

Pensando nisso, os Hammers colocaram como prioridade para a próxima temporada a permanência de suas estrelas na equipe. Sabendo disso, o West Ham contratou em definitivo Souček, que veio por empréstimo no último ano, e assegurou Rice, Antonio e outros atletas da equipe. Entretanto, negociou dois jogadores importantes para outros times: Sebastian Haller, atacante franco-marfinense que chegou com grandes expectativas por ser a contratação recorde da história do West Ham, e que foi vendido pela metade do preço para o Ajax, e Felipe Anderson, que foi emprestado para o Porto.

Sebastian Haller em ação pelo West Ham. O atacante franco-marfinense fez uma temporada muito abaixo das expectativas e foi vendido pela metade do preço para o Ajax, onde fez boa temporada. CRÉDITOS: goal.com

Além disso, o West Ham contratou reforços que vieram com o objetivo de encorpar o elenco e trazer mais qualidade. Entre eles, vale-se destacar o ponta argelino Saïd Benrahma, trazido para a equipe londrina após grande desempenho na EFL Championship jogando pela equipe do Brentford, o lateral direito checo Vladimir Coufal, vindo do Slavia Praga assim como Souček, e na metade da temporada a sua contratação mais contestada: o meia armador Jesse Lingard, vindo de empréstimo de meia temporada do Manchester United.

Jesse LIngard enquanto jogador do Manchester United. CRÉDITOS:transfermarkt.com

Jesse Lingard é um jogador cria da base dos “Red Devils” e que nunca conseguiu afirmar o seu lugar no time no começo de sua carreira. Após rodar por diversos clubes por empréstimo, como Birmingham City, Brighton e Derby County, ele voltou ao Manchester United em 15/16 e, por mais que tivesse bons momentos nesses anos e em 17/18, chegando até à seleção inglesa, nunca foi uma certeza. Entretanto o apogeu dessa desconfiaça sobre Lingard ocorreu nas duas temporadas seguintes, onde ele teve desempenho considerado pífio pela torcida do United. Sabendo de toda essa desconfiança acima do meia inglês, o West Ham o contratou por empréstimo com o objetivo de trazer o bom futebol de Lingard de volta.

No fim da temporada, o que se observa é que essas escolhas foram muito bem feitas. As permanências e as contratações, especialmente as de Lingard e de Souček foram fundamentais para o excelente desempenho que o West Ham teve nessa Premier League.

Jesse Lingard foi o principal jogador do West Ham durante a metade final da temporada, tanto que foi premiado como o melhor jogador do mês de Abril, assim como o autor do gol do mesmo mês. CRÉDITOS: whufc.com

2- O FUTEBOL PROPOSTO POR DAVID MOYES

Formação utilizada pelo West Ham durante a primeira metade da temporada.

O treinador David Moyes montou um West Ham para a primeira metade da temporada 2020/21 em um 5–4–1, sendo um time que, com a bola no pé pode variar para um 3–5–2, com os alas Masuaku e Coufal subindo para a segunda linha, os meias abertos Bowen e Fornals fechando mais para o meio com a finalidade de dar mais liberdade aos alas e com Souček subindo para a linha ofensiva junto de Antonio para agregar ao ataque, sabendo que o meia checo é um dos principais jogadores especializados em bola aérea da liga.

Nessa formação, o jogo passa muito nos pés de Declan Rice. O volante inglês é uma das referências técnicas e táticas da equipe londrina e contribui para o esquema com os seus passes longos quebradores de linha ou com seus lançamentos, tanto para Fornals e Bowen, o último principalmente sendo utilizado como peça para fazer o “facão”, sabendo da qualidade de finalização do jogador, quanto para os alas Masuaku e Coufal, no 3–5–2 que o Moyes gosta de variar.

O volante e capitão da equipe do West Ham, Declan Rice. CRÉDITOS: GETTY IMAGES

Além de Rice, outra peça importantíssima nesse esquema é o zagueiro Aaron Cresswell, que jogava como lateral esquerdo de origem e que, por esse desenvolvimento, possui muita qualidade no passe, tanto rasteiro quanto pelo alto. Sabendo disso, Moyes utiliza muitas vezes o defensor inglês durante a posse de bola ofensiva e saída de bola, juntamente com Rice e Souček, criando uma espécie de trinca na parte central do meio de campo. Isso se mostra muito eficiente, sabendo que Cresswell é o jogador da equipe com mais passes ao último terço do campo, muitas vezes utilizando o centroavante Antonio como referência no pivô para a ultrapassagem dos meias abertos ou como uma peça de finalização, sabendo que o atacante foi o artilheiro dos “Hammers” na Premier League.

Zagueiro da equipe do West Ham, Aaron Cresswell. CRÉDITOS: premierleague.com

Na defesa, o West Ham é uma equipe bastante reativa, sendo estatisticamente a que menos pressionou na marcação em toda essa edição da Premier League. Diante disso, vale ressaltar em como a equipe foca em se manter compactada no centro, dando mais liberdade apenas aos alas Coufal e Masuaku no combate nas laterais do campo.

Entretanto, com a chegada de Jesse Lingard e com a boa fase do experiente zagueiro Craig Dawson, jogador que veio por empréstimo do Watford, a equipe londrina mudou a sua formação e passou a utilizar uma estratégia ofensiva que passa muito pelo centro de campo e pelos pés do seu “camisa 10 que veste a 11”. Lingard se tornou não apenas uma arma na construção de jogadas e de passes importantes para gols, mas também num artilheiro, se tornando no principal jogador dos “Hammers” na metade final da temporada. Além disso, com essa formação Souček desempenha uma função menos ofensiva, sendo mais focada na construção da saída de bola e na manutenção da posse durante a essa fase. Ou seja, mudou a função, mas não a sua importância no ataque do time londrino, mostrando a sua qualidade e polivalência.

Na defesa, por mais que possua menos jogadores na última linha, a equipe não muda muito o seu estilo, pois muitas vezes utiliza Rice para uma função de cabeça de área, ou também usando-o como um terceiro defensor que entra linha entre Ogbonna e Dawson.

David Moyes, treinador da equipe do West Ham na temporada 2020/21, e que terá seu trabalho assegurado para a próxima “season”. CRÉDITOS: whufc.com

Sabendo de toda essa proposta bem definida por David Moyes e também à inteligência do mesmo de utilizar essa ideia mais reativa em uma Premier League em um calendário mais corrido e apertado, o West Ham conseguiu resultados muito além do esperado não só pela torcida, mas de todos os espectadores do campeonato inglês, e vem forte para a próxima temporada sonhando com uma possível vaga na Champions League.

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