O Wolverhampton aportuguesado e suas virtudes para a Premier League

A mais nova sensação da Premier League almeja retomar os tempos de glória e,para isso, conta com elenco dinâmico e recheado de peças lusitânicas

João Pedro Ramalho
Mezzala
6 min readOct 4, 2020

--

Com quase um século e meio de existência, o Wolverhampton Wanderers de Nuno Espírito Santo e sua caravela portuguesa lapidam a reconstrução dos tradicionalíssimos Wolves. Atrás somente do Big Six na pontuação acumulada nas duas últimas temporadas, o tricampeão inglês tornou-se não só a sensação da Premier League, mas também um pesadelo para os gigantes da Inglaterra.

INVESTIMENTO MILIONÁRIO

É notório, cada vez mais, a participação de grupos de investimento dentro da esfera futebolística. O Wolverhampton não fugiu dessa modernização do esporte. Ainda em 2016, quando disputava a EFL Championship, os Wolves foram comprados pelo conglomerado chinês Fosun International. Desde então, com um tempero lusitano, iniciava-se o prelúdio do sucesso dos Wanderers. Ademais, o grupo empresarial tem uma forte ligação com o português Jorge Mendes, o mais poderoso e influente agente de futebol da Europa. Assim, não é por acaso que os Lobos possuem o elenco mais aportuguesado dentro do Velho Continente. Com as chegadas de Nélson Semedo e Vítor Ferreira, já são onze atletas lusitânicos, sem contar com o técnico Nuno Espirito Santo.

Foto : Carlos Lujan

A Premier League virou uma porta de entrada para os clientes de Jorge Mendes, em um clube que mostra ambição e capacidade de investimento. Essa idiossincrasia do Wolverhampton elevou seu patamar, possibilitando o clube a investir mais de £ 300 milhões nos últimos quatro anos. Tal condição financeira permitiu a instituição figurar-se entre as 23° que mais gastaram nesse período.

VARIAÇÃO TÁTICA DE NUNO ESPÍRITO SANTO

Há três temporadas no comando, o técnico Nuno Espírito Santo é peça chave na engrenagem dos Wolves. Respaldado pela diretoria e atração para a chegada de jogadores, o português não só é destaque entre os grandes, mas também um discípulo de José Mourinho e Jesualdo Ferreira. Há quinze anos atrás, Nuno era goleiro reserva do Porto liderado por Mou, que pintaria a Europa de azul e branco após o título da Champions League. Em seu primeiro ano no Molineux Stadium, alcançou a promoção para a Premier League. Logo em sua estreia na principal competição do país, terminou entre os sete primeiros e classificou sua equipe para a Europa League.

Com uma identidade bem definida, ele conseguiu construir um novo DNA para o Wolverhampton. Reconhecendo suas limitações dentro do campeonato mais rico e equilibrado do planeta, Nuno surpreende com um modelo de jogo reativo e suas variações dentro da partida. A imposição tática de sua equipe varia, dependendo do oponente, entre um 3–4–3, protegendo os laterais e dando amplitude, ou um 3–5–2, povoando o meio de campo.

Sem a bola, os Wolves se compactuam no 5–4–1 e flutuam de acordo com o ataque adversário. Os laterais, que na fase ofensiva são extremamente importantes para gerar válvula de escape e superioridade numérica no terço final, na fase defensiva recuam e formam uma linha de cinco defensores com os três zagueiros. Com um perde e pressiona mais efetivo na sua metade do campo, o Wolverhampton aproveita-se do erro do rival para explorar a velocidade de seus extremos e laterais.

Compactação dos Wolves na vitória sobre o Fullham, pela quarta rodada da Premier League

Ademais, a individualidade do cartel de Nuno favorece seu estilo de jogo reativo. Conor Coady é o maior exemplo disso. Como zagueiro central e pilar defensivo na linha de cinco, o capitão da equipe também atua como líbero, fortalecendo a saída de bola com passes burocráticos ou lançamentos precisos.

O QUE ESPERAR PARA A PL 2020/21

Ao fim da quarta rodada, os Lobos possuem uma campanha regular com 50% de aproveitamento. São duas vitórias e duas derrotas até então na competição. Reforçado para a temporada, a equipe tem tudo para manter a ascendência no cenário inglês e repetir as consistentes campanhas que construiu nas duas últimas edições.

Todavia, Nuno perdeu umas das principais peças de sua engrenagem. O lateral direito Matt Dohert, um dos destaques da última Premier League, deixou o Molineux Stadium e agora defende o Tottenham Hotspur. Diogo Jota, negociado ao Liverpool, é mais uma perda a se lamentar. O atacante português, de 23 anos, tinha uma boa combinação com seu parceiro Raúl Jimenez e, para muitos, era o maior nome da equipe.

DESTAQUES PARA FICAR DE OLHO

Nélson Semedo

A contratação de Semedo, ex-Barcelona, justamente para recompor o setor enfraquecido pela saída de Dohert, confirma a crescente afirmação do Wolverhampton no panorama do futebol europeu. Em uma transação envolvendo cerca de € 30 milhões, o lateral direito, mesmo criticado pela atuação na eliminação para o Bayern de Munique na UCL, chega ao clube inglês com potencial e futebol para acrescentar. Além de ser mais um português, fator que facilita a comunicação.

Fernando Marçal

O brasileiro semifinalista da Champions League, pelo Lyon, chega para teoricamente compor a linha com três zagueiros tradicional dos Wolves. Marçal é lateral de origem, mas cresceu de rendimento na reta final da última temporada atuando como zagueiro pela esquerda. Foi um dos destaques da equipe francesa que eliminou a poderosa Juventos e o imponente Manchester City na competição europeia. Pode ser um reforço útil pela sua versatilidade e dinamismo.

Rúben Neves

Contratado ainda para defender o Wolverhampton na segunda divisão, o português de 23 anos, eleito melhor jogador da competição, fez total diferença na campanha de acesso. Rúben Neves é um dos melhores lançadores da Premier League, além de ser um grande finalizador. Importante para a construção dos contra-ataques, Neves enriquece a saída de bola da equipe de Nuno atuando como primeiro volante. O jogador é destaque absoluto no time e o termômetro da distribuição dos Wolves.

Fábio Silva

Envolvido na transferência mais cara da história do Wolverhampton, o atacante português Fábio Silva, de apenas 18 anos, chega para se impor na Inglaterra e fazer valer os € 40 milhões gastos na joia. Assim como Rúben Neves, a mais jovem peça no cartel de Nuno é formada no Porto, onde não teve tempo para se consolidar na equipe principal. Pela sua capacidade de finalização e posicionamento, criou-se uma grande expectativa sobre o futuro do atleta. O jogador deve crescer sobre o comando do técnico português.

Daniel Podence

Novo companheiro de ataque de Raúl Jimenez, o também português Daniel Podence é um dos grandes nomes desse time, principalmente pela sua capacidade de drible e visão de jogo. O camisa 10, ex Olympiacos, chegou para suprir a ausência de Diogo Jota e tornou-se o motor da equipe.

Raúl Jimenez

O mexicano Raúl Jimenez é um dos mais imponentes atacantes da Premier League e Europa. Com 17 gols na última edição, Raúl é a referência mais centralizada no time de Nuno Espírito Santo, contribuindo não só com tentos, mas também com assistências. Se o mexicano mantiver seu nível de efetividade e consequentemente fazer a equipe funcionar, o Wolverhampton tem tudo para alcançar uma vaga novamente entre os sete primeiros colocados da competição.

--

--