Os brasileiros tem muitas vagas nas competições continentais

Após uma chuva de eliminações no começo das competições continentais, cresce a dúvida do número grande de vagas para os clubes brasileiros

Rafael Bizarelo
Mezzala
8 min readMar 1, 2020

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Após ser expulso, Pedrinho viu o Corinthians ser eliminado para o Guaraní (Foto: Nelson Almeida/AFP)

Em 2019, um total de catorze equipes brasileiras conseguiram se classificar para competições internacionais. Desses catorze times, oito foram para a Libertadores e seis para a Sul-Americana. As duas competições já tiveram início, dessa vez com um grande número de brasileiros eliminados.

A segunda fase da Libertadores, que não tem nada de preliminar, contou com Internacional e Corinthians. Os gaúchos eliminaram a Universidad de Chile, empatando sem gols em Santiago e vencendo por 2–0 em Porto Alegre. O Corinthians enfrentou o Guaraní, clube paraguaio que já havia sido carrasco do Timão nas oitavas de final da Libertadores de 2015, e acabou por perder o primeiro jogo por 1–0 no Paraguai. Na volta, o Corinthians venceu por 2–1, mas por levar um gol em casa, foi eliminado.

Jogadores do Guaraní comemoram um gol na partida de ida contra o Corinthians (Foto: Guaraní/Twitter)

A Sul-Americana também já abriu a sua porta de saída para os brasileiros. Dos seis participantes, quatro foram eliminados na primeira fase da competição. O Atlético Mineiro tentou se recuperar após perder por 3–0 para o Unión, mas o 2–0 não foi suficiente para se classificar. O Fortaleza por pouco não passou de fase, mas após perder por 1–0 na Argentina e vencer o Independiente por 2–1, foi eliminado. O Fluminense teve duas péssimas atuações contra o Unión La Calera. Não venceu, não perdeu, mas empatou por 1–1 no Maracanã e 0–0 no Chile, sendo eliminado precocemente. Para terminar, o Goiás levou 1–0 do Sol de América nos dois jogos. Assim, apenas Vasco e Bahia continuam na competição.

A quantidade enorme de eliminações faz surgir a questão da quantidade enorme de vagas para os brasileiros nas competições continentais. Quase metade dos times do campeonato foram para a Libertadores (poderiam ser mais se algum brasileiro vencesse a Sul-Americana) e times que flertaram com o rebaixamento, como o Fluminense, se classificaram para a Sul-Americana.

O Flamengo, por ter vencido a Libertadores e o Brasileirão, tinha duas vagas para a Libertadores, e essa vaga “extra” foi somada na tabela, assim como a do Athletico Paranaense, campeão da Copa do Brasil e 5º colocado do Brasileirão. Dessa forma, Internacional e Corinthians, 7º e 8º na tabela, se classificaram para a segunda fase da Libertadores, e as vagas para a Sul-Americana que antes eram das duas equipes foram passadas para o 13º e 14º, que foram Atlético Mineiro e Fluminense, equipes que, poucas rodadas antes do fim do campeonato, se assustaram com o fantasma do rebaixamento.

Internacional, Corinthians, Atlético Mineiro e Fluminense mudaram de treinador na virada de 2019 para 2020. Das quatro equipes, três já foram eliminadas. Das três eliminadas, uma já demitiu o seu treinador. A eliminação na Sul-Americana se somou aos resultados ruins no estadual e à eliminação na Copa do Brasil para o Afogados, terminando a pequena passagem de Rafael Dudamel pelo Atlético Mineiro.

O Unión venceu o Atlético Mineiro em um agregado de 3–2 (Foto: Jose Almeida/AFP)

Naturalmente, são seis vagas brasileiras para a Libertadores pelo Brasileirão e uma pela Copa do Brasil (cinco diretas e duas para a segunda fase) e seis para a Sul-Americana. Com o aumento de vagas por conta dos títulos de Flamengo e Athletico Paranaense, o Corinthians, time que fez uma campanha medíocre no sentido literal da palavra (de qualidade média, comum; mediano, meão, modesto) e terminou na 8ª colocação, com apenas quatro pontos a mais que o Goiás, 10º colocado. Um time que faz uma campanha como a do Corinthians, de mais baixos do que altos, merece mesmo se classificar para a Libertadores?

Tiago Nunes, campeão da Sul-Americana de 2018 e da Copa do Brasil de 2019 pelo Athletico Paranaense chegou no Corinthians para mudar o estilo de jogo do clube e guiar para um futuro vitorioso. O alvinegro se movimentou no mercado, contratou Luan, Rei da América em 2017 que estava em baixa no Grêmio, mas que tinha expectativa de melhora. Ainda é muito cedo e há esperança para o Corinthians tomar rumo com Tiago Nunes, mas nada deu certo por enquanto, incluindo a eliminação precoce para o Guaraní.

O Fluminense viveu uma bagunça em 2019. Com Fernando Diniz, o time tinha a sua identidade e jogava bem, mas tinha sérios problemas na hora de marcar gols, e por isso foi parar na zona de rebaixamento. A demissão do treinador gerou uma briga interna entre o presidente, Mário Bittencourt e o vice de futebol, Celso Barros, que era a favor da demissão. Oswaldo de Oliveira foi contratado e logo eliminado da Sul-Americana, brigou com Ganso, xingou um torcedor e foi demitido. Marcão permaneceu até o final do ano e lutou contra o rebaixamento até ser premiado na última rodada com uma vaga para a Sul-Americana mesmo na 14ª posição do campeonato. Um time que flertou, marcou um date e por pouco não saiu com o rebaixamento merece mesmo uma vaga na Sul-Americana?

Divida no primeiro confronto entre Fluminense e Unión La Calera (Foto: Carl de Souza/AFP)

Para 2020, Odair Hellmann foi contratado. Contratações foram feitas, e a esperança de um possível título da Sul-Americana cresceu nas Laranjeiras. Contra os times mais fracos no Campeonato Carioca, o Fluminense venceu (menos contra o Boavista) e até fez um 3–0 no Botafogo, mas quando chegou a hora de enfrentar o Unión La Calera no Maracanã, o time de Odair parecia ter medo, e acabou por empatar em 1–1. Na volta, o time pareceu jogar com ainda mais medo, e com um time titular um pouco estranho e substituições sem sentido, o 0–0 permaneceu no placar, eliminando o Fluminense já na primeira fase da Copa Sul-Americana.

Um ponto que precisa ser ressaltado é a tal supremacia dos futebol brasileiro. Pode ser que isso um dia foi verdade, mas hoje talvez não seja. Hoje, o Flamengo é disparado o melhor time da América do Sul, mas não existem muito brasileiros que cheguem perto desse nível. Nesse ponto, a superioridade se mantém, tendo apenas o River Plate como o único que bata de frente com o atual campeão da Libertadores, e isso foi mostrado no confronto das duas equipes na última final da competição.

Flamengo e River Plate fizeram a última final da Libertadores (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

Comparando os brasileiros eliminados com as equipes que os eliminaram, a história da velha superioridade balança. O ponto não é tradição, e sim a capacidade do time disputar uma competição continental.

Posições dos clubes que eliminaram os brasileiros (Foto: Pedro José Domingues/Mezzala)

Não se discute a tradição do Guaraní e a do Corinthians, ou a do Unión La Calera e do Fluminense, por exemplo. O que importa é que um time de campanha média não pode chegar para disputar a Libertadores, e um time que briga pra não cair não pode disputar a Sul-Americana. São vagas que podem ser divididas entre os outros países da América do Sul, ou talvez passadas para países da América Central e do Norte em uma possível expansão da competição.

Os campeonatos nacionais de Chile e Paraguai são sempre desvalorizados pelos brasileiros. A classificação de Goiás, Corinthians e Fluminense estavam já seguras contra, respectivamente, Sol de América, Guaraní e Unión La Calera, mas os três times mostraram um futebol deprimente e num nível pior que os seus adversários. O Atlético Mineiro mesmo perdeu a primeira partida contra o Unión por 3–0, sendo esse um clube argentino pouco conhecido e menosprezado em termos de competitividade. O único clube brasileiro eliminado que jogou bem foi o Fortaleza, que perdeu o primeiro jogo por 1–0 na Argentina e sofreu um gol no final da partida no Castelão.

Afinal, nós brasileiros somos mesmo todos mais fortes que nossos rivais na América?

Independiente del Valle e Colón eliminaram brasileiros e disputaram a final da Copa Sul-Americana de 2019 (Foto: Mauricio Garín)

A última final da Copa Sul-Americana foi entre o Colón, atual 22º colocado da Superliga Argentina (são 30 participantes) e o equatoriano Independiente del Valle, que terminou a última edição do Série A do Equador na 5ª colocação. Nas semifinais, os dois finalistas enfrentaram brasileiros. O Colón eliminou o Atlético Mineiro nos pênaltis em pleno Mineirão, enquanto o Independiente del Valle venceu na Arena Corinthians por 2–0 e empatou em casa por 2–2, eliminando o Corinthians da competição. Na final, o time muito bem estruturado do Independiente del Valle foi o vencedor da Sul-Americana sem muitas dificuldades, vencendo o Colón por 3–1.

Hoje a Argentina tem uma briga acirrada não só pelo título, mas também por vagas na Libertadores e na Sul-Americana. Não estranhe a pouca quantidade de rodadas, pois lá são 23, e o campeonato termina no próximo final de semana. A diferença de pontos entre River Plate e Boca Juniors, arquirrivais, é de apenas um ponto, e os dois são os únicos garantidos na Libertadores, que dá quatro vagas para os argentinos. Na Sul-Americana, poucos estão garantidos, mas esses ainda brigam pela vaga na Libertadores. Talleres e Arsenal de Sarandí, 10º e 11º, mesmo fora da zona de classificação para as duas competições ainda podem passar o Racing, 4º colocado. A disputa no país vizinho é mais interessante que aqui no Brasil.

Tabela atual da Superliga Argentina até o 16º colocado (Foto: Goal.com)

A tabela na imagem foi recortada até o Independiente, 16º colocado e último com (pouca) chance de classificação para a Sul-Americana.

Numerados os motivos do pensamento das vagas em excesso, é preciso pensar o que fazer com elas. Elas devem ser passadas para quais países, afinal? Essa resposta pode ser tema para outro texto aqui no Mezzala, mas uma sugestão seria matar esse problema e o da péssima logística da competição e adicionar clubes do México e do Estados Unidos, junto com canadenses que disputam a Major League Soccer.

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