Os pratas da casa que revigoraram o Flamengo de Domènec

Com um início conturbado, treinador catalão usa da base como uma solução

Kaio Sauaia
Mezzala
7 min readOct 22, 2020

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Hugo Souza, um dos pilares da efetivação da base (Foto: Alexandre Vidal/ Flamengo)

A chegada de Domènec Torrent foi um divisor de águas na temporada do Flamengo. O treinador catalão chegou disposto a seguir o trabalho de Jorge Jesus, campeão da Copa Libertadores e do Campeonato Brasileiro com o clube rubro-negro, tendo de lidar com uma pressão muito grande devido aos feitos de seu antecessor.

Com isso, os primeiros passos do técnico de 58 anos foram amplamente observados por mídia e torcedores, que brevemente viram mudanças, como implementações de ideais de um jogo “posicional” e maior rotação do elenco no onze inicial, que aconteceram junto aos péssimos resultados dentro de campo e uma queda de rendimento drástica, fazendo com que os mesmos torcessem os olhos para os métodos de Torrent e passassem a contestar seu trabalho, mesmo tendo de lidar fatores adversos, como diversos jogadores sem ritmo ou lesionados, resultados do longo período de paralisação da pandemia de Covid-19 e pelo apertado calendário do Brasileirão.

Como se não bastasse, o clube teve de lidar com um surto de infectados, perdendo alguns jogadores já no jogo diante o Barcelona de Guayaquil e, logo em sequência, vendo a situação se agravar, perdendo 16 no total para o confronto contra o Palmeiras, além de membros da comissão técnica, como o próprio “Dome”, que teve de ajudar Jordi Guerrero, seu assistente técnico, de casa. Desta forma, os comandantes tiveram de recorrer alguns pratas da casa.

E não deu outra. Diante da equipe paulista, o Fla teve de ir com diversos jogadores formados no “Ninho”, tendo, inclusive, 4 dos 5 jogadores da linha de defesa vindos do time sub-20. Mesmo assim, o time comandado por Guerrero fez frente ao segundo elenco mais caro do país, sendo até melhor em momentos do jogo e anulando boa parte do sistema ofensiva do time de Vanderlei Luxemburgo, que chegou ao seu tento em uma finalização desviada, previamente se tornando em vão, já que logo depois a equipe rubro-negra empatou, com gol de Pedro, um dos poucos jogadores do profissional a entrar naquele time.

No fim, o resultado foi um empate, mas com sabor de vitória, pois a boa atuação e todo o fator extracampo acabaram potencializando o desempenho dos pratas da casa, que, a partir de ali, começaram a ser peças influentes no trabalho de Domènec, afetando na rotação de boa parte dos titulares.

Gabriel Noga

Foto: Flamengo / Divulgação

O defensor de 18 anos é uma das grandes joias das categorias de base da equipe rubro-negra, mas por ser um dos infectados pela Covid, acabou não sendo relacionado no jogo contra o Palmeiras, dando vaga a Otávio. Noga não só foi vitorioso pelo Fla como também se destacou nas seleções de base, sendo até titular do time campeão mundial sub-17.

Com tais feitos, era evidente que o garoto do “ninho” tomaria a vaga de titular nesse período, estreando na goleada diante o Del Valle, fazendo uma partida segura ao lado de seus companheiros de base e conquistando um significativo clean sheet, tendo em vista que o ataque da equipe equatoriana era um dos melhores da Copa Libertadores. Hoje, mesmo com o retorno dos outros zagueiros mais experientes, Gabriel continua figurando entre os relacionados, jogando, inclusive, na goleada contra o Corinthians, na última rodada do Campeonato Brasileiro, e no jogo diante do Junior Barranquilla, que consagrou a classificação da equipe rubro-negra, comprovando que suas atuações o capacitaram à equipe profissional.

Matheuzinho

Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

O lateral direito já vinha recebendo oportunidades desde o início da temporada, já que o plantel do Fla não possuía mais de um jogador da posição, fazendo com que o jovem de 20 anos fosse o reserva direto de Rafinha. Com a saída do veterano e a indefinição no setor, Matheus conseguiu ainda mais minutagem, sendo testado junto a outra opção, no caso, João Lucas.

Depois da chegada de Mauricio Isla, ambos acabaram perdendo espaço, mas a infecção do chileno fez com que eles voltassem a disputar a vaga de substituto direto, e com a lesão do ex-Bangu, o prata da casa teve a faca e o queijo na mão, tendo espaço para mostrar seu futebol e se destacando pela boa qualidade técnica no apoio e nos cruzamentos, obtendo a manutenção da característica do titular, já que Mauricio é especialista no fundamento que é importante no sistema de Domènec.

Muito se crítica sobre seu posicionamento defensivo, já que em jogos como contra o Goiás o jovem acabou não guardando sua posição da devida forma. Mas Matheus demonstrou, ao lado de seus companheiros de base, que era tão bom quanto na função, justamente pelo entrosamento com seus antigos colegas de treino.

Ramon

Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Como o flanco direito, a parte esquerda do Flamengo também convivia como uma indefinição na reserva da lateral esquerda, tendo Filipe Luís como o titular absoluto e com Renê no banco, que apesar de entregar regularidade e ser bom para o nível da posição no futebol brasileiro, não tem a qualidade técnica necessária para ser o substituto imediato do ex-Atlético de Madrid.

Desta forma, Ramon, prata da casa de 19 anos, começou a ser envolvido desde o início da temporada, chegando até a jogar alguns minutos em jogos do Brasileirão e da Libertadores, mas voltando a atuar e ser relacionado aos jogos do sub-20, já que, por lá, o novato era um dos mais influentes nomes do elenco, sendo peça crucial para o time de Maurício Souza.

Após o ocorrido diante do Palmeiras, o jogador se estabilizou entre os profissionais, e tem tido bem mais oportunidades no onze inicial, justamente por demonstrar as características que seu companheiro de banco e posição é deficiente, como um apoio qualificado e precisão nos cruzamentos, além de ter semelhanças, como o bom posicionamento defensivo e a qualidade no passe para contribuição na saída de bola.

Natan

Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Natan é, talvez, o nome mais influente entre os jogadores de linha que vieram da base para esse atual momento do Flamengo. O zagueiro de 19 anos foi o único a marcar um gol dentre os tais, além de ter tido desempenhos importantes, sendo peça fundamental para resultados como o diante do Corinthians, onde o time perdeu Gustavo Henrique e teve de apostar ainda mais fichas em uma boa atuação do garoto, que prontamente respondeu de forma positiva.

Além disso, antes do confronto com o time de Vagner Mancini, Natan já possuía dados de um profissional consolidado, não sofrendo nenhum drible, não recebendo nenhum cartão amarelo, tendo o maior aproveitamento de passes longos entre os zagueiros do Campeonato Brasileiro (com 79%) e maior nota entre todos os defensores do Fla na competição, de 7,18, de acordo com o SofaScore.

Todos esses fatores fizeram com que o jovem defensor tivesse maior espaço na rotação titular, que convive com irregularidades de Léo Pereira, convocações e lesões de Rodrigo Caio e Gustavo Henrique, se tornando uma opção viável para um time que joga com linhas altas e precisa da participação dos defensores na construção ofensiva.

Hugo Souza

Foto; Flamengo / Divulgação

Hugo Souza, ou o Neneca, já tinha seu nome repercutido por parte da mídia antes mesmo de atuar no profissional, pois o mesmo havia sido convocado por Tite para os amistosos diante Estados Unidos e El Salvador, na tentativa de trabalhar com alguns arqueiros mais novos.

Nos últimos anos, Neneca teve de conviver com a transição intensa entre base e elenco principal, sendo relacionado em ambos, sendo constantemente titular nos juniores e ficando no banco no time veterano, sendo tratado apenas como o quarto goleiro. Com as perdas de Diego Alves e César, antes mesmo do surto de Covid-19, e as más atuações junto a infecção de Gabriel Baptista, Hugo acabou recebendo uma oportunidade contra o Palmeiras, onde não foi um dos melhores, mas sim o melhor em campo, fazendo defesas que garantiram o empate do mesclado time do Flamengo com a equipe paulista.

A partir dali, o arqueiro de 21 anos se manteve firme na posição, chegando a ultrapassar terceiro e segundo goleiros na hierarquia da posição e abalar até a titularidade absoluta de Diego Alves, que não era tão incomodado pelos seus outros companheiros, que conviviam com uma irregularidade que Neneca está longe de ter.

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