Os representantes de um futebol para todos

Na semana do orgulho, apresentamos alguns jogadores que foram e são importantes para o movimento LGBTQIA+. Pessoas que inspiram e motivam milhares de jovens a se assumirem e fazerem parte do futebol independente de sua orientação sexual

Galvao
Mezzala
5 min readJun 29, 2021

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(Foto: Reprodução/O Povo)

Frases como “jogue igual homem” e “pare de ser bicha” são frequentes dentro de campos espalhados por todo o Brasil. Entretanto, não é uma brincadeira — como muitos acreditam — , e sim uma ofensa e uma repressão aos jogadores e membros desta comunidade. Xingamentos como esses fazem com que o preconceito se prolifere no futebol e dificulta a vontade de todo jogador LGBTQIA+ de se assumir e até mesmo de entrar no mundo do futebol, pois sabe do preconceito que o espera dentro e fora de campo.

Apesar de saberem das dificuldades, existem jogadores profissionais assumidamente LGBTQIA+ que posicionam-se com muita coragem, enfrentando o preconceito e incentivando cada vez mais pessoas a assumirem quem são. Ao mesmo tempo, infelizmente, é completamente compreensível a ausência de posicionamentos de alguns atletas que não se sentem confortáveis devido aos problemas estruturais e institucionais da sociedade. É essencial, portanto, que torcedores, dirigentes e os próprios jogadores se conscientizem que o futebol é para todos, o futebol é democrático e deve lutar pelas causas sociais.

O primeiro registro da homossexualidade no futebol

O primeiro relato de um jogador assumidamente gay ocorreu na Inglaterra, com o inglês Justin Fashanu. O centroavante começou sua carreira no Norwich City e com o destaque foi chamado para a seleção sub-21 da Inglaterra, porém ninguém sabia sobre sua orientação sexual. Em 1981, o jogador foi contratado pelo recém bicampeão da Champions League, Nottingham Forest, por um milhão de libras e foi considerado como uma promessa, tanto para o clube, quanto para a seleção inglesa.

Em sua temporada de estreia no time inglês, Fashanu não se encaixou com o modelo de jogo aplicado por seu técnico e, além disso, surgiram boatos de que o jogador estava frequentando boates gays. Quando o clube ficou sabendo da notícia, ainda não confirmada, o jogador foi proibido de frequentar os treinos e logo foi vendido para o Notts County. Somente em 1990 que o jogador teve coragem de assumir sua sexualidade, em uma entrevista ao jornal ‘The Sun’. No dia seguinte, a frase “I’m Gay”, dita por ele ao canal de comunicação, estampava muitas revistas esportivas da época.

Foto da capa do Jornal ‘The Sun’ (Foto: The Sun)

Anos mais tarde, já aposentado, em 1998, o ex-jogador foi acusado de estupro e no mês seguinte se suicidou. Antes de tirar sua vida, Justin escreveu uma carta que retratava a dificuldade de ser quem ele era e a injustiça que sofreu:

“Eu percebi que já havia sido considerado culpado. Não quero mais ser uma vergonha para minha família e meus amigos… Bom, a Justiça nem sempre é justa. Senti que não teria um julgamento justo por conta da minha homossexualidade.”

Atualmente, o inglês serve de inspiração para muitos jogadores e ganhou o nome de um time na Inglaterra, o Justin Fashanu All-Stars, que apoia e incentiva jogadores LGBTQIA+.

A Rainha do futebol é lésbica

Marta ao lado de sua noiva (Foto: Via Instagram/Marta)

Brasileira, nordestina, lésbica e a maior vencedora do prêmio de melhor jogadora do mundo, Marta Silva não tem vergonha de assumir sua sexualidade e mostrar a todos quem ela realmente é. Marta é a prova viva de que a orientação sexual de alguém não afeta seu desempenho no futebol, muito menos o ambiente entre jogadores dentro do clube. Afinal, Marta é respeitada e adorada por todas as suas companheiras de profissão.

Em janeiro deste ano, a rainha anunciou seu noivado com a também jogadora de futebol, Toni Deion Pressley, que atua pelo mesmo clube da brasileira, o Orlando Pride. As duas carregam a bandeira LGBTQIA+ por onde passam e Marta, como embaixadora da boa vontade pela ONU, sempre traz à tona em seus discursos a luta a favor da igualdade de gênero e do combate contra o machismo no futebol.

O medo de se assumir durante a carreira

Thomas Hitzlsperger atuando pela seleção alemã (Foto: Getty Images)

Com ótimas passagens pelo Aston Villa, Lazio, West Ham, Wolfsburg, Everton e também pela seleção alemã de 2006, o ex-meio campista alemão, Thomas Hitzlsperger, foi o primeiro jogador da Premier League a se assumir homossexual. Contudo, Thomas só teve coragem para assumir sua orientação depois de anunciar sua aposentadoria do futebol, em 2014, após uma longa sequência de lesões.

Mesmo sendo um excelente jogador, Thomas tinha medo de que isso pudesse afetar sua carreira, o que provavelmente aconteceria. “É impossível se declarar homossexual no futebol… Entendo a dor e a dificuldade dos garotos que saem do armário”, disse o ex-jogador em entrevista para o jornal alemão Die Zeit. Hoje, Hitzlsperger é embaixador da diversidade na Federação Alemã de Futebol e diretor esportivo do Stuttgart, sendo um dos principais ícones do futebol contra a homofobia.

O futebol para todos

Hoje, existem alguns jogadores como Justin Fashanu, muitas jogadoras como Marta Silva mas, principalmente, milhares de atletas como Thomas Hitzlsperger, que sofrem diariamente com o medo de assumir quem elas realmente são. Isto acontece essencialmente no futebol brasileiro, onde não se tem registro de jogadores profissionais LGBTQIA+, mostrando que o anseio pelo preconceito é maior que a coragem de se assumir.

O que nos resta é apoiar cada vez mais políticas de incentivo feitas por clubes, jogadores e organizações do esporte, para a comunidade LGBTQIA+. Além disso, devemos cobrar as instituições que não se posicionam sobre esse assunto tão importante. Afinal, o esporte não é apenas para homens ou mulheres, o esporte e o futebol são para todos!

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