Pierre Gasly vence em Monza e mostra os problemas de desenvolvimento da Red Bull

Com a vitória do francês, a falta de espera pelo desenvolvimento dos pilotos na Red Bull se torna mais do que evidente

Rafael Bizarelo
Mezzala
6 min readSep 11, 2020

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(Foto: Getty Images)

A surpreendente vitória do francês Pierre Gasly no último Grande Prêmio de Monza serviu para escancarar os problemas que a Red Bull tem em seu programa de desenvolvimento de pilotos. Tais questões ficaram óbvias no .tratamento da equipe austríaca com pilotos como Daniil Kvyat, o próprio Pierre Gasly e diversos outros que deixaram o programa.

Os pilotos de grande sucesso pela antiga Toro Rosso (atual AlphaTauri) e pela Red Bull serviram como modelos perfeitos. O padrão de Sebastian Vettel, o mias jovem tetracampeão mundial até hoje é praticamente impossível de ser repetido, mas a Red Bull ainda espera que irá repetir sempre o sucesso com todos os seus pilotos.

Hoje, a Red Bull não precisa de dois Max Verstappen. Uma dupla formada pelo holandês e por Daniel Ricciardo, não se sustentou. O australiano se mudou para a Renault, equipe onde não obteve sucesso, e agora está de malas prontas para a McLaren. Ainda assim, a equipe não soube gerir as duplas na equipe principal.

(Foto: Crash)

Antes de Verstappen, Kvyat era o piloto escolhido pela Red Bull para subir da Toro Rosso para a equipe principal. Os resultados do russo eram melhores após quatro corridas em 2016, conseguindo até mesmo um pódio no Grande Prêmio da China. Uma corrida depois, na Rússia, Kyvat terminou em 15º, enquanto Verstappen abandonou na 33ª volta. Ainda assim, a troca entre os dois ocorreu. O holandês foi promovido para a Red Bull, enquanto Kyvat voltou para a Toro Rosso.

A primeira corrida de Max pela Red Bull foi em Barcelona, e tudo deu certo para ele. Logo no início da corrida, as Mercedes de Rosberg e Hamilton se colidiram, abrindo espaço para o jovem piloto assumir a primeira colocação. Naquela temporada, Verstappen terminou o mundial na 5ª colocação, duas atrás de Daniel Ricciardo, seu companheiro de equipe.

Max ainda venceria corridas em 2017, mas foi em 2018 que a situação mudou para a Red Bull. O potencial de Verstappen era enorme, e a equipe sabia disso. Ricciardo, apesar de ser um piloto rápido e que já havia vencido corridas, não conseguia bater de frente com Mercedes e Ferrari. A série “Drive to Survive”, da Netflix, mostra bem o drama que Daniel viveu em sua última temporada pela equipe austríaca. Decisões priorizando Max e um desgaste enorme na relação com a equipe levaram Daniel Ricciardo à assinar com a Renault.

(Foto: Joe Portlock / Motorsport Images)

Sem Ricciardo, que já era piloto da equipe principal da Red Bull na Fórmula 1 desde 2014, a solução foi decidir quem subiria da Toro Rosso para ser o segundo piloto, afinal, era claro para Christian Horner, chefe de equipe da RBR, que Max era o número 1.

Se Daniil Kyvat já tinha tido as suas chances em 2015 e no começo de 2016, agora era a vez do francês Pierre Gasly. Gasly participou de apenas 12 grandes prêmios pela Red Bull, um número bem menor que os 22 grandes prêmios de Kvyat (seriam 23 se ele tivesse largado na Austrália em 2016).

É fato que os resultados de Gasly não foram bons, mas era algo natural. Nem todo piloto é um tetracampeão como Vettel, veloz com Ricciardo ou capaz de vencer a Mercedes de Hamilton como Verstappen. Além disso, nenhuma equipe necessita de dois Max Verstappen.

Ter um piloto que briga pela vitória é essencial, mas não é mandatório ter dois. É complicado comparar com a Mercedes por conta da máquina incrível que é o carro, mas o paralelo entre Lewis Hamilton e Valtteri Bottas pode ser lançado. A capacidade de Bottas pode ser duvidada, mas ele é um piloto capaz de garantir um pódio ou de vencer na falha de Hamilton. A Red Bull precisa de um piloto para buscar a vitória no lugar da Mercedes e um para buscar a 3ª vaga de pódio, ou até mesmo um 4º ou 5º lugar.

Em suas 12 corridas, Gasly ficou fora da zona de pontuação na Austrália e em Hockenheim, abandonando também em Baku. Fora isso, o francês se manteve em posições de disputa, ainda considerando a sua adaptação. O seu ponto alto foi o 4º lugar na corrida de Silverstone. Além do mais, vale ressaltar que a última corrida de Gasly foi um 6º lugar em Hungaroring, perdendo apenas para Verstappen, Mercedes e Ferrari, ou seja, não era um resultado ruim. Mesmo assim, Pierre foi rebaixado para a Toro Rosso, dando lugar ao tailandês Alex Albon.

A primeira corrida de Gasly em sua volta à Toro Rosso foi em Spa-Francorchamps, e a ocasião não poderia ter sido pior. Um dia antes da corrida, no 31 de agosto, o piloto Anthoine Hubert sofreu um acidente na Fórmula 2 e não sobreviveu. Hubert era o melhor amigo de Gasly, que estava passando por maus bocados em sua carreira. Tudo parecia ruim para Pierre.

Alex Albon, que era estreante na Fórmula 1, fez boas corridas em sua promoção para a Red Bull. Variando entre 4º, 5º e 6º, o pódio parecia encaminhado em Interlagos, mas um toque de Hamilton atrapalhou tudo. No final, Max venceu a prova, e Gasly conseguiu o seu primeiro pódio, um prêmio para um ano doloroso.

(Foto: Dan Istitene/Getty Images)

A chegada da temporada 2020 mudou o panorama da Red Bull. Albon, que performou bem em 2019, começava a enfrentar problemas na briga com Racing Point, McLaren e até mesmo a Renault. Enquanto Max continua sendo priorizado, Alex enfrenta problemas em um carro bom para o holandês, mas não para ele. A paciência da Red Bull, de Helmut Marko e de Christian Horner não é grande.

Tudo piora para Albon com a corrida em Monza. Alex foi P9 na classificação, e Pierre P10. Com as duas Mercedes no topo do grid, tudo parecia normal, mas a corrida indicou um caminho oposto.

O primeiro pit-stop de Gasly foi na volta 19, e Kevin Magnussen encostou o seu carro na saída da curva da Parabólica na volta 20. O safety-car foi acionado e o pit-lane fechado, mas Hamilton entrou mesmo assim, recebendo uma punição de 10 segundos parado no box. O pit-lane foi aberto apenas na volta 23, e os pilotos fizeram as suas paradas.

Gasly, em terceiro, estava atrás apenas de Hamilton, que pagaria a sua punição, e Stroll, que não parou. Se as coisas já estavam diferentes, tudo ficaria mais complicado na volta 25, quando Leclerc bateu forte na Parabólica, parando a corrida por 30 minutos.

Hamilton foi para a última colocação com a punição, Stroll falhou na volta e Gasly assumiu a ponta na volta 34. Carlos Sainz, que havia passado as duas Alfa Romeo e Lance Stroll, puxou até o fim para chegar em Gasly. A diferença entre os dois caiu para menos de 1 segundo, mas Pierre soube manter uma pilotagem excelente, levando a AlphaTauri ao topo do pódio pela primeira vez desde 2008, com Sebastian Vettel, também em Monza, mas a equipe era chamada de Toro Rosso na época.

(Foto: Reprodução)

A vitória de Gasly não foi apenas sorte. Vencer a McLaren por manter uma excelente pilotagem foi um mérito do francês, mostrando que ele precisava apenas de tempo na Red Bull para dar resultado. Pierre Gasly é um piloto subestimado, e agora mostrou que pode sim vencer uma corrida.

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