ON THE ROCKS

A Peste

Caro Alberto,

Te escrevo do outro lado do atlântico, com um atraso de uns 60 anos para pedir desculpas ao usar o título do seu livro aqui. Saiba que virou chavão nesses tempos bicudos. Tentei evitar, procurei outras palavras e até achei algumas que caberiam melhor, mas existe uma coisa chamada responsabilidade jurídica e, mesmo em confinamento tendo ciência que o oficial de justiça não apareceria na minha casa, achei prudente não usar.

Em segredo epistolar te digo: pensei nomear esse texto de ASSASSINO, descreveria com perfeição as medidas tomadas, as medidas não tomadas, a índole. Mas a tal responsabilidade… mesmo em tempos de crises agudas, temos que nos atentar a ela.

Pensei também em IDIOTA, no sentido grego do termo, aquele preocupado somente consigo mesmo, também se encaixaria perfeitamente.

Não teria problema com você, Alberto, mas o mesmo não poderia ser dito em relação a Fiodor. E nunca foi bom brincar com a Rússia e os russos, muito menos em tempo de Vladimir (outro Vladimir, veja só!)

(Permita-me outro parêntesis, pois em tempo de confinamento minha mente fica meio elíptica: Também não é bom mexer com a China. Mas aí, caro, não é culpa minha, mas da banana. Tá meio surreal esse texto, né? Mas sei que leu bastante Breton, Tzara e Joyce… com um pouco de referência você entenderá)

Assim sendo, Alberto, só posso mesmo nomear o que estamos vivendo de PESTE, com a devida vênia.

Mas essa peste, diferente das outras que conhecemos pelos livros de história também pelos seus escritos, essa praga, Beto (posso lhe chamar assim?), repito, diferente das outras, tem nome, sobrenome e endereço.

Fica ali na esplanada central, tortamente ali.

Tem nome, sobrenome, endereço mas é completamente desprovida de cérebro, empatia ou urbanidade.

A peste, mon ami, é um completo IDIOTA. Urge extirpá-la.

Saudações, amigo.

Walter Hupsel, Salvador, 03/2020

PS: mande Abraços a Jampô e Simone!

Walter Hupsel para o Microphonia.