O CAMINHO DAS PEDRAS

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Angela Cristina
Microphonia
Published in
3 min readJul 18, 2020

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Estamos vivendo na esfera artística uma preocupação genuína e coletiva entre os profissionais da área na retomada das atividades. — Como será o amanhã? responda quem puder, o que irá me acontecer, o meu destino será como Deus quiser?! ( João Sérgio)

A pergunta que não quer calar é — Quais os rumos da reabertura dos espaços culturais (cinema, teatros, museus, casa de shows, bares, etc)?

O que tenho observado é que estamos todos apenas especulando os caminhos do (novo) entretenimento. Contudo, cinemas, museus, galerias e teatros serão muito mais fáceis de se ordenar, nas questões de exibições dentro das suas respectivas salas… porém, na questão cênica continuará o desafio?

Por exemplo:

Teatro e Cinema — Limitar a capacidade máxima dos locais e distanciamentos entre os assentos. Só que as produções teatrais, cinematográficas e televisivas sofrerão uma enorme transformação em suas tramas. Sabemos que a arte imita a vida, então, como interpretar uma família, uma coreografia de um combate entre o mocinho e o bandido ou um romance sem contatos físicos (sem um abraço, um beijo e/ou toque)?

Museus e Galerias — Podem-se restringir a quantidade de pessoas dentro dos espaços. Mas e a aproximação dos apreciadores quem vigiará (Lanterninha, o retorno — Como vulgarmente era chamado “fiscal de p*)? As aglomerações naturais nos “foyers” para um bate-papo e comentários sobre as obras e acervos que é parte fundamental da ação, como evitar?

A Música? … Ahhhh! Essa como sempre, a mais problemática das artes. Um show com um número limitado de pessoas será a coisa mais sem propósito do planeta. Vide que o público quando encontra um espaço vazio, nem entra. O “burburinho” é fator determinante para conforto dos adeptos de uma boa pista de dança ou de uma “pauleira” nos decibéis.

Sem falar que lidamos com um aspecto capital, a bebida alcoólica (cachaça, birita, o mé). No geral o álcool retira do indivíduo qualquer noção de perigo, o sujeito quando bebe vira o Superman, O Incrível Hulk e Thor todos juntos, não teme nada (tira trago do cigarro de um, bebe do copo de outro, abraça até mendigo).

Pior, aflora determinada sexualidade que requer urgência em contato físico (não é uma verdade absoluta, óbvio! São meus olhos de psicóloga de boteco que me faculta tal observação).

Shows grandes serão mais complicados ainda, custos altíssimos e uma real necessidade de demanda na lotação para cobrir a produção. Não tem como realizar um mega show sem uma quantidade significativa de pagantes. Se houver restrições de públicos, não terão recursos suficientes para “rodá-lo”.

Eu particularmente tenho assistido muitas “lives”, cursos e escutado muito sobre a forma de fazer arte virtual. Mas, também será um nicho a ser amadurecido. Sabemos sim, que nomes do “mainstream” estarão anos-luz a nossa frente, grandes marcas fazem questão de vincular seus nomes a tais espetáculos e artistas, claro! E o anônimo, o alternativo? Como poderemos reverter nossos trabalhos em valores? Artistas que tenho conversado que estão fazendo apresentações de forma virtual, não têm obtido retorno financeiro. Isto é um fato!

Sinceramente não acredito que alguém pague para assistir um show de um celular e dentro de casa. Pode até fazê-lo em um dado momento para apoiar algum artista e/ou amigo. Hoje dispomos de uma variedade absurda de conteúdos na internet, com um só “click” temos shows incríveis de qualquer banda ou artista do mundo na palma de nossa mão.

Acredito sim, que as plataformas digitais são sensacionais fontes de “propagação” de produtos musicais. No entanto, converter seus “likes” em grana são outros quinhentos. Um exemplo é a Mallu Magalhães, num determinado momento a tela ficou pequena para ela e ela teve que colocar o pé no palco.

O fato é que os rumos que a arte vai tomar pós pandemia continua sendo uma grande incógnita para nós que vivemos dela. O que temos para hoje é fazermos a nossa parte, cooperar com trabalhos alheios, continuar estudando, debatendo, antenados e, sobretudo interligados.

Os dias atuais não permitem mais “estar bom para mim, se não estiver para você”. Precisamos compartilhar informações, prestigiar quem está realizando algo de concreto e estarmos à disposição para um bem comum.

“Você não consegue escapar da responsabilidade de amanhã esquivando-se dela hoje” (Abraham Lincoln)

Angela Cristina para o Microphonia.

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