SELF FISH
Adeus, Cafajeste!
Hoje, eu perdi um amigo. Não éramos assim tão próximos, não nos víamos com frequência, nunca tomamos um porre juntos, mas, sempre que nos encontrávamos, conversávamos bastante e dávamos boas risadas, lembrando de fatos passados, dos nossos perrengues do presente e das dúvidas para o futuro. Apesar da distância, tinha um grande carinho e admiração por esse amigo.
Há alguns anos, acabamos nos reaproximando por conta das redes sociais, em que eu podia ter notícias dele e vice versa. Ao encerrar a minha conta do Facebook, perdi novamente o contato com ele, mas não o carinho.
Quando os Stereopolitanos gravaram os singles “Um de Nós” e “Lâmina Afiada”(já disponíveis em todas as plataformas digitais!), fiz questão de mandar as gravações pra ele, pra saber a sua opinião. Nem sei o motivo de ter feito isso, mas algo me dizia que, mesmo ele sendo mais jazz do que rock’n’roll, seria importante saber o que seus ouvidos tinham a dizer. E foi!
Como um artista fora dos padrões, do alto dos seus quase 200 quilos, ele me alertou das dificuldades que poderíamos encontrar pra sair do underground, por não sermos mais jovens e não nos enquadrarmos no estereótipo esperado pra uma banda de rock. Após o alerta/desabafo, talvez por educação, elogiou o nosso trabalho.
Hoje, ele se foi, levado por uma doença escrota, somada a um vírus filho da puta, que, covardes que são, tiveram que se juntar pra derrotá-lo.
E eu (e todos os seus amigos), que não pude sequer estar presente à sua despedida, para prestar todas as homenagens que ele merecia, faço-as aqui, nesse espaço virtual. Mesmo que ninguém leia, mesmo que quem leia não entenda.
Um brinde, gentil cafajeste, onde quer que você esteja, esteja em paz. Hoje, tomei o porre que nunca tomamos juntos, em sua homenagem. E, enquanto ainda estou bêbado, escrevi este texto pra te dizer adeus e dizer a todos os meus amigos que não quero perder mais nenhum deles.
Enquanto eu puder, estarei aqui, brigando contra os estereótipos e fazendo o meu rock’n’roll, com toda a vontade do mundo, mesmo que ninguém queira ouvir, e com espontaneidade, assumindo as consequências, mesmo sabendo que o amanhã é lâmina afiada! Obrigado e um beijo!
Salvador, 1⁰ de maio de 2020.
P.S. Repito, não quero perder mais amigos! Cuidem-se e, por enquanto, se puderem, fiquem em casa, por favor. É isso.
Paulo Peixe para o Microphonia.