AMENIDADES

Alucinação de Belchi

Quinhones
Microphonia
Published in
2 min readApr 16, 2020

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Gustave Doré — Dante e Beatrice no Céu, ilustração para a Divina Comédia de Dante Alighieri.

Eu só queria que ela estivesse comigo.

Eu só queria deitar em seu colo, abrir uma água com gás, colocar um vinil do Belchior e cantarmos juntos aquela canção.

Das mais difíceis sensações, ainda a saudade continua em primeiro lugar no meu rol de sentimentos!

Um minuto, dois talvez, três quem sabe… seria o suficiente para dizer tudo o que eu nunca tive coragem de dizer quando éramos jovens.

Lembro bem dos seus seios duros e pequenos atirando para frente. Lembro da sua calça Ustop, as nádegas em rabetas infernizando todo o meu instinto “neandertalóide”. O seu cabelo era um lindo detalhe, uma obra de arte que seis mil Michelangelos nunca chegariam a compor o tom.

Illustração: Quinhones Castro.

São mais de 25 anos, precisamente 9125 dias. Muitas coisas mudaram, inclusive a minha coluna, que até um dia desses, atestava os meus dotes físicos.

Ainda na minha radiola os mesmos vinis, uns já bem gastos, outros nem tanto. Os autografados me levavam para passear de mãos dadas com ela, que um dia segurou na minha mão. Belchior, Alceu, Zé, Beatles e Dylan, todos escrotos. Não importa a hora, eles machucam, eles ferem… “sofro de nostalgia”.

Se, talvez, encontrar com pelo menos a sua sombra, vou tentar abraçar, sentir o seu cheiro e oferecer mais uma vez aquela canção.

Quem sabe dessa vez eu acerte!

Quinhones Castro para o Microphonia.

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