ENTRE CORDAS E POESIAS
Amizade Não É Para Fracos!
Eis que estamos nos idos anos 80 e explode o caloroso diálogo:
— E aí, Cabeção?!
— Alto lá?! Não lhe dei intimidade para me chamar assim.
— Que é isso, velhinho?!
— É isso mesmo! Isso é entre eu e Cabeça.
A camisa azul mais cobiçada do ensino médio/técnico de Salvador, naquela época, foi pano de fundo para uma invejável amizade que perdura até hoje entre estes três mosqueteiros: Cabeça, Cabeção e o Bailarino. Alcunhas autoexplicativas são geniais!
Foram anos de muitos perrengues. Marmitas frias e muitas vezes partilhadas, “passos” de física com 100% de nota mínima e tardes silenciosas na biblioteca. Mas também houve farras homéricas – com o meu violão sempre a tiracolo. Saboreamos concentradas partidas de xadrez no grêmio estudantil – tabuleiros armados para partidas que levavam dias – e uma comunhão fora do comum foi forjada com poucos elementos: solidariedade, intelecto e alegria de viver.
Cabeção é o amigo do texto anterior, o do telefonema, lembram? Amigo raiz, daqueles pra vida toda. Amigo que não se cancela, nem nestes tempos escrotos de banais redes sociais e de fascismo desavergonhado. A caserna moldou um naco da sua personalidade e me parece que uma grande parte da humanidade precisa de um sisteminha para se revelar naquela arruela dormindo entre a porca e o parafuso.
Bolsonarista está, mas não o é! Foi a premissa que usei para respeitar amigos que se viram impelidos a acreditar nesse sr. ultrajante que governa o nosso país.
Antes dessa névoa totalitária, que incita a derrubada de pontes e laços há muito estabelecidos, tive a oportunidade de esquadrinhar e transformar em escritos poéticos a seguinte história.
AMIZADE NÃO É PARA FRACOS
Quando quase feito
Exímio pensador exato
O tablado bicolor divertia
E consolidava amizade
Flashes de incredulidade
Com sua indiferença
Entre a moral e o civismo
Apontavam uma direção
Em pouco tempo
A refração verde oliva
É todo fulgor
Confiante e sereno
Enche de orgulho
O jurisconsulto romano
Mas a hierarquia corrompe
O exercício da indignação
Não sei de onde
Mas ouvia alguém dizer
Ele soube ser esperto
Afirmava um idiota
Aprendiz de desonesto
Aceito embrutecimentos
Salvo poucas almas
Todos precisam de um sistema
Para acomodar a existência
Sem nada a dizer
E com o jantar à mesa
Seu malvado favorito aguarda
Quando tudo isso acabar
Você verá!
Verá o tamanho da ilusão
Que uma única cor não vive
Se só existe raio e clarão
Verá que o poder do fogo
Transforma o livre pensar
Num entardecer amorfo
Verá que ao lado de Afrodite
Só cabe altivez e orgulho
E o respeito não se omite
Verá que não precisava sonhar
Que o conto não encantou
Todas as formas de amar
Mosqueteiros?! Com o mesmo violão de sempre, aquele mesmo com o qual, num dia chuvoso, fizemos um pátio de escola cantar em uníssono uma canção, entoemos o belo bardo anarquista: “Il est interdit d’interdire”.
Júnior Vaz para o Microphonia.