ENTRE CORDAS E POESIAS

Amizade Não É Para Fracos!

Junior Vaz
Microphonia
Published in
3 min readJul 22, 2020

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Eis que estamos nos idos anos 80 e explode o caloroso diálogo:

— E aí, Cabeção?!

— Alto lá?! Não lhe dei intimidade para me chamar assim.

— Que é isso, velhinho?!

— É isso mesmo! Isso é entre eu e Cabeça.

A camisa azul mais cobiçada do ensino médio/técnico de Salvador, naquela época, foi pano de fundo para uma invejável amizade que perdura até hoje entre estes três mosqueteiros: Cabeça, Cabeção e o Bailarino. Alcunhas autoexplicativas são geniais!

Foram anos de muitos perrengues. Marmitas frias e muitas vezes partilhadas, “passos” de física com 100% de nota mínima e tardes silenciosas na biblioteca. Mas também houve farras homéricas – com o meu violão sempre a tiracolo. Saboreamos concentradas partidas de xadrez no grêmio estudantil – tabuleiros armados para partidas que levavam dias – e uma comunhão fora do comum foi forjada com poucos elementos: solidariedade, intelecto e alegria de viver.

Cabeção é o amigo do texto anterior, o do telefonema, lembram? Amigo raiz, daqueles pra vida toda. Amigo que não se cancela, nem nestes tempos escrotos de banais redes sociais e de fascismo desavergonhado. A caserna moldou um naco da sua personalidade e me parece que uma grande parte da humanidade precisa de um sisteminha para se revelar naquela arruela dormindo entre a porca e o parafuso.

Bolsonarista está, mas não o é! Foi a premissa que usei para respeitar amigos que se viram impelidos a acreditar nesse sr. ultrajante que governa o nosso país.

Antes dessa névoa totalitária, que incita a derrubada de pontes e laços há muito estabelecidos, tive a oportunidade de esquadrinhar e transformar em escritos poéticos a seguinte história.

AMIZADE NÃO É PARA FRACOS

Quando quase feito

Exímio pensador exato

O tablado bicolor divertia

E consolidava amizade

Flashes de incredulidade

Com sua indiferença

Entre a moral e o civismo

Apontavam uma direção

Em pouco tempo

A refração verde oliva

É todo fulgor

Confiante e sereno

Enche de orgulho

O jurisconsulto romano

Mas a hierarquia corrompe

O exercício da indignação

Não sei de onde

Mas ouvia alguém dizer

Ele soube ser esperto

Afirmava um idiota

Aprendiz de desonesto

Aceito embrutecimentos

Salvo poucas almas

Todos precisam de um sistema

Para acomodar a existência

Sem nada a dizer

E com o jantar à mesa

Seu malvado favorito aguarda

Quando tudo isso acabar

Você verá!

Verá o tamanho da ilusão

Que uma única cor não vive

Se só existe raio e clarão

Verá que o poder do fogo

Transforma o livre pensar

Num entardecer amorfo

Verá que ao lado de Afrodite

Só cabe altivez e orgulho

E o respeito não se omite

Verá que não precisava sonhar

Que o conto não encantou

Todas as formas de amar

Mosqueteiros?! Com o mesmo violão de sempre, aquele mesmo com o qual, num dia chuvoso, fizemos um pátio de escola cantar em uníssono uma canção, entoemos o belo bardo anarquista: Il est interdit d’interdire.

Júnior Vaz para o Microphonia.

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