ON THE ROCKS

E agora, Jair?

Walter Hupsel
Microphonia
Published in
2 min readApr 1, 2020

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Andam dizendo por aí que o excrescentíssimo presidente da república está a chorar nos ombros alheios. Ele, o mito, chora.

Não é o choro de Rocky Balboa, esgotado depois de um custoso triunfo no ringue que dedica a Adrian, sua esposa.

Não é o choro de alegria, daqueles que se têm quando vê algo difícil ser concretizado.

Não é o choro da perda, do luto, frente a um caixão ou a um pé-na-bunda.

O mito chora de desespero.

(Nesse momento eu até me aproximo dele: também ando chorando de desespero. Mas difererentemente do Jair, de Brasília, eu choro por um desespero impotente… queria fazer mais, não consigo. O máximo que posso é traçar linhas e bater tambor (e panelas) na tentativa primal de me fazer ouvido).

O desespero de Jair, de Brasília, é da imagem refletida no espelho: um impotente plenipotenciário, daquele que, caso não fizesse nada, sairia maior da crise do que entrou. E percebam que ele podia fazer quase tudo.

Jair, de Brasília, chorou e chora porque o espelho, a grande fogueira da vaidade, não mente para sempre. Pode enganar durante um bom tempo, mas, diferentemente do alto escalão do governo, o espelho não é mitômano.

E ali, na intimidade do espelho, a imagem real de Jair se refletiu: um sujeito degradante e também degradado.

Um mentiroso contumaz que perdeu a platéia e os crédulos.

Uma pessoa tóxica, que contamina todos ao seu redor. Estes, sabendo disso agora, querem distância regulamentar do plenipotenciário broxa para não serem dragados ao fundo do poço.

Jair, de Brasília, chora. Jair se desepera. Jair tem medo e muita desconfiança. Deve ouvir vozes na cabeça, falas contraditórias que o leva à beira da insanidade e da paranóia. O alienista moderno.

O corpo de Jair deve sentir. Peristalses que trabalham delgada e incessantemente.

O corpo de Jair, aquele de Brasília, deve dar sinais de angústia e insônia. O corpo, dizem, reage. O espelho engana… mas não mente. A vaidade e o amor-próprio se esvaem e por isso ele chora.

Não sei se tudo isso é verdade, apenas torço que seja. É a minha vingança por Jair ter me feito chorar inúmeras vezes, é o meu prazer sórdido imaginar as reações daquele corpo que flexiona o pescoço mas nunca o coração.

Isolado e contagioso, Jair definha publica e visivelmente. Eu, com meus botões, rio e me alivio. Dentro de mim só ressoa uma coisa:

É MELHOR JAIR SE ACOSTUMANDO!

Walter Hupsel para o Microphonia.

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Walter Hupsel
Microphonia

Cientista político, punk, anarco… uma caralhada de moléculas em choque constante. Aqui é barulho, dissonâncias e muito fuzz. Só JESUS (AND MARY CHAIN) SALVA!