Capítulo 1. De Um Livro Que Não Irei Escrever.

Reverendo T aka Tony Lopes
Microphonia
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2 min readJul 19, 2020
Sem título — Athos Bulcão (Fundação Athos Bulcão)

Antes de quase tudo.

1962, no dia 08 de agosto eu nasci. Em Gandu, uma pequena cidade do interior da Bahia e que vivi, entre idas e vindas até meus quatorze anos.

Segundo filho do casal André e Cecy. Meu irmão André Luyz nascera dois anos antes e viria a falecer aos 23 anos. Uma semana antes dos meus 21 anos.

Não tenho lembranças desses 365 dias iniciais, há quem diga ter. Eu não. Mal me lembro das coisas mais atuais. Não deve ter acontecido nada muito especial neste meu primeiro ano de vida e muito provavelmente nos anos seguintes.

De relevante devo dizer que o meu nome inicial seria Luiz Carlos, que foi rejeitado por minha avó Perinha, a dona do cartório local, por se tratar de ser o mesmo nome do velho comuna, Prestes.

Puseram então Antônio Carlos, deviam estar de sacanagem… nome que levei comigo por boa parte da infância, mas que não me acompanha mais, coisas do meu pai e da numerologia.

Ufa. Não gostaria de ser confundido com o malvadeza. Ah! isso não.

Mas continuei Antônio, na verdade Tony.

Nunca gostei de como pronunciavam "A n t o n i o". Com certo desprezo e um ar de superioridade. Hoje até gosto. Mas ainda prefiro ser chamado de Tony.

Chorar, comer e dormir devia ser essa a minha rotina. Não sei se já nos primeiros dias dei sinais da minha inabilidade para respirar. Até hoje tenho dificuldades.

Serão dias difíceis no futuro não tão distante. Devo ter economizado muito ar para os outros. Já que, nos meus pulmões sempre estava faltando.

Devo esclarecer aqui que estou tentando retratar a minha vida ano a ano e desde já alerto que estas lembranças não são muito boas e já não conto mais com meus pais e meu irmão.

Mas não se assuste. Acho que vou ficar só nesse primeiro ano mesmo.

São poucos também os parentes vivos e mais velhos que eu, e com quase todos eles já não mantenho mais um contato tão próximo.

Restaram algumas fotos e documentos. Não posso contar com o fiapo de memória que me restou.

A solidão será quase, uma eterna companhia nos meus passos rumo aos futuros fracassos. E alguns sucessos…

Sei que a minha história não é repleta de acontecimentos dignos de nota. Mas ter chegado até aqui, nesses tempos de ódio, merece alguma reflexão. Ou não.

Aprisionado agora num presente que não se move, me sinto como se estivesse ainda no útero de minha mãe. Apenas aguardando o momento certo e oportuno de (re) nascer.

Acredito no futuro, CreiA!

Reverendo T para o Microphonia.

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Reverendo T aka Tony Lopes
Microphonia

escrevo blasfêmias , orações e letras de músicas que poucos irão ouvir.