ENTRE CORDAS E POESIA

Como dizia um amigo meu: quanto mais desafinado melhor!

Junior Vaz
Microphonia
Published in
2 min readMar 27, 2020

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Foto de Érico Amaral

Puxou o violão e destrambelhou a tocar. O repertório parecia não ter fim pois já se iam quatro horas, dedos inchados, unhas trincadas, paleta gasta, e o robô rock’n’roll parecia ter engolido um metrônomo. Até que…(é fofoca, mas ele não liga) resolveu cantar.
Um mau tocador até passa, mas uma voz de taquara rachada subtonada, não dá!

Esse assunto, para mim, é farpa na unha, porque afirmo, categoricamente: não fui agraciado com dons melódicos e veludo vocal; mas um desafinado sem noção é a pior coisa que pode existir na música.

Cantores instrumentistas como Lobão, Hebert Viana, Paulo Ricardo… com suas imperfeições e maneirismos exagerados, nunca deveriam se arriscar a soltar a voz, nem em festas de aniversário dos familiares, muito menos alcoolizados nos chuveiros de casa. Cada qual nas suas cordas!

Sem voz, mando o meu arpejo, saramagueando em escala menor:

“O LIVRO DOS MEUS SONHOS

No íntimo defendemos o que somos mesmo que nos pareça sem dúvidas vis o que nos oprime odeio estar do lado certo mesmo que afirmem o contrário a ética dos inocentes os dogmas dos impotentes o medo de quem não vê o amargo somente meu assoberbado de incertezas desfigurado por pureza assim vago lentamente afeiçoando-me aos frágeis contrapondo o banal

Racional
Esverdear o céu
Violar o mar
Chorar ao sorrir”

Ah! Inesquecível e desafinado Tom… “Também bate um coração”.

Júnior Vaz para o Microphonia.

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